Maioria de mulheres é obrigada a ter 'guardião' para poder viajar no norte da África e Oriente Médio
Uma pesquisa da ONG Human Rights Watch (HRW) divulgada nesta terça-feira (18) mostra que em muitos países do Oriente Médio e do norte da África as mulheres ainda são impedidas de circular livremente ou de viajar para o exterior. A maioria delas ainda precisa da permissão de um guardião do sexo masculino.
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O relatório de 119 páginas afirma que, embora os ativistas pelos direitos das mulheres tenham conseguido garantir mais liberdade para elas em muitos países da região, restrições antigas e mais recentes exigem que as cidadãs peçam permissão de tutores para viajar. Os guardiões geralmente são pais, irmãos ou maridos.
A Human Rights Watch também descobriu que, em vários países, as mulheres não podem viajar para o exterior com seus filhos.
Rothna Begum, pesquisadora de direitos das mulheres da HRW, disse que as autoridades do Oriente Médio e do Norte da África estão impondo restrições variadas ao direito das mulheres de viajar. As autoridades geralmente alegam que essas medidas servem para a própria proteção delas.
Na realidade, porém, as restrições privam as mulheres de seus direitos de circulação e de sua liberdade e "permitem que os homens as controlem e abusem delas à vontade", acrescentou Begum.
O relatório baseia-se em uma análise comparativa de dezenas de leis, regulamentos e políticas, bem como em informações fornecidas por advogados, ativistas e mulheres em 20 países do Oriente Médio e do Norte da África.
A situação é particularmente grave no Oriente Médio e no Magreb, que inclui a maior parte da região norte da África.
Mulheres no norte da África
A situação é mais difícil para as mulheres na Argélia, onde elas não podem obter passaportes sem a permissão de um responsável.
Na Líbia, desde maio de 2023, a Agência de Segurança Interna exige que as mulheres que viajam sem um acompanhante masculino preencham um formulário detalhado sobre os motivos de sua viagem e viagens anteriores.
Na Argélia e no Egito, as mulheres também sofrem discriminação quando tentam alugar apartamentos se não forem casadas ou se não tiverem a permissão de um guardião masculino.
No Egito e no Marrocos, algumas mulheres podem ser impedidas de alugar um quarto de hotel sem um responsável masculino.
Em fevereiro de 2023, as autoridades egípcias acrescentaram artigos à sua Lei de Estabelecimentos Hoteleiros e Turísticos de 2022, obrigando os estabelecimentos turísticos e hotéis a permitir que as pessoas entrem ou residam no estabelecimento sem discriminação de gênero.
Somente o Egito e a Tunísia permitem que suas cidadãs tenham os mesmos direitos que os homens para solicitar o passaporte de seus filhos.
As mulheres relatam que essas regras são usadas pelos homens para puni-las quando se divorciam deles, para assediá-las ou como uma ferramenta de negociação.
Recomendações da HRW
A HRW concluiu que as políticas de tutela masculina "privam as mulheres de seu status legal para tomar decisões sobre suas próprias vidas e podem causar danos profundos".
A ONG considera que restrições discriminatórias à mobilidade das mulheres em seu país e a viagens ao exterior violam os direitos das mulheres à liberdade de locomoção, trabalho, estudo, acesso à assistência médica e casamento. As leis e políticas misóginas que implicam em decisões sobre os filhos prejudicam tanto as mães quanto as crianças.
Por isso, a HRW recomenda que os governos do Oriente Médio e do Norte da África removam todas as restrições de gênero discriminatórias remanescentes, tanto na lei quanto na prática. Isso diz respeito especialmente à liberdade das mulheres de se locomoverem em seu próprio país, de obterem um passaporte e de viajarem para o exterior, inclusive com os filhos.
(RFI com agências)
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