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“Milhares de soldados russos chegarão a Belarus e não está claro o que isso significa", diz cientista político

O governo de Belarus garantiu nesta terça-feira (11) que a força militar formada com seu aliado russo é apenas defensiva. No entanto, Minsk levanta temores de uma intervenção direta no conflito na Ucrânia ao acusar Kiev de preparar ataques.

O presidente russo, Vladimir Putin, durante uma reunião com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, em Sochi, na Rússia, em 26 de setembro de 2022.
O presidente russo, Vladimir Putin, durante uma reunião com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, em Sochi, na Rússia, em 26 de setembro de 2022. © via REUTERS - SPUTNIK
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"Os objetivos do agrupamento regional de forças são puramente defensivos. E todas as operações atualmente em curso visam adotar uma reação adequada às ações realizadas perto da nossa fronteira", explicou o ministro da Defesa de Belarus, Victor Khrenine, em um comunicado de imprensa. Ele especificou ainda que o trabalho realizado em conjunto com o exército russo serve para garantir a segurança nas fronteiras dos dois países.

No dia anterior, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, indicou que entrou em acordo com seu colega russo, Vladimir Putin, sobre a implantação desse grupo militar conjunto, sem dizer exatamente onde será posicionado e qual será sua escala. Ele acusou a Ucrânia e seus aliados poloneses e lituanos de prepararem ataques "terroristas" e uma "revolta" militar em Belarus treinando combatentes "radicais" bielorrussos para derrubar o governo.

Para o cientista político bielorrusso Valéri Karabalevitch, até agora Lukashenko evitou participar mais ativamente na guerra na Ucrânia de todas as maneiras possíveis. Mas a pressão aumentou e ele se vê obrigado a fazer mais e mais concessões.

“Milhares de soldados russos chegarão ao território de Belarus, e ainda não está claro o que isso significa. Vejo duas hipóteses: a primeira, seria usar esses homens para uma nova ofensiva em Kiev a partir do território de Belarus. A segunda, mais provável, é que os campos de treinamento bielorrussos sejam usados para treinar os soldados recém-mobilizados. Na Rússia, não existem locais suficientes para treinamento militar. Os recrutas seriam transferidos a Belarus para aprender a usar armas e equipamentos militares”, explicou Karabalevitch à RFI.

Novas sanções contra Belarus

Belarus teria sido "aconselhada" a não entrar na guerra na Ucrânia, alertou nesta terça-feira a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna. "Devemos emitir um aviso a este país. Qualquer apoio adicional ao conflito levaria a sanções adicionais", disse ela, lembrando que medidas de retaliação já estão sendo aplicadas contra Minsk.

O governo bielorrusso, no entanto, rejeita a possibilidade de enviar seu exército, muito menor que o de Moscou, para lutar na Ucrânia ao lado dos russos. "Infelizmente, no Ocidente, cultiva-se a ideia de que o exército de Belarus poderia se envolver na operação militar especial na Ucrânia. Ao ceder a esse tipo de desinformação, a liderança da Otan e diversos países europeus estão claramente considerando a possibilidade de agressão contra nosso país", denunciou terça-feira o secretário do Conselho de Segurança de Belarus, Alexander Volfovich.

Minsk já emprestou seu território ao exército russo para sua ofensiva contra a Ucrânia, mas até agora não participou diretamente dos combates em território ucraniano. A entrada de forças bielorrussas em seu vizinho marcaria uma nova escalada do conflito na Ucrânia.

Turquia faz apelo por cessar-fogo 

Enquanto isso, a Turquia pediu um cessar-fogo à Rússia e à Ucrânia nesta terça-feira, antes de uma reunião marcada para o final da semana em Astana entre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu colega russo, Vladimir Putin.

Membro da Otan, a Turquia permaneceu neutra desde o início do conflito, em 24 de fevereiro, e mantém boas relações com seus dois vizinhos do Mar Negro. Ancara desempenhou um papel fundamental na troca de prisioneiros em setembro entre a Rússia e a Ucrânia e na conclusão, em julho, sob a égide da ONU, de um acordo entre os dois países que permitiu a retomada da exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro e do Bósforo.

Por duas vezes, a Turquia também reuniu representantes russos e ucranianos em seu solo. Erdogan se encontrou com Putin três vezes nos últimos três meses, mas também fala regularmente por telefone com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O presidente turco se apresenta como um mediador e tenta reunir os dois homens para negociações de cessar-fogo. No entanto, o agravamento da situação no terreno está dificultando os esforços de paz.

Encontro entre Putin e Erdogan

"Infelizmente [ambos os lados] rapidamente se afastaram da diplomacia" desde as conversas entre negociadores russos e ucranianos, em março em Istambul, disse o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, em entrevista à televisão.

"À medida que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia se arrasta, infelizmente, a situação está ficando pior e mais complicada", acrescentou, pedindo um cessar-fogo imediato. "Um cessar-fogo deve ser estabelecido o mais rápido possível. Quanto mais cedo melhor", acrescentou ele.

Erdogan, que mantém uma boa relação com Putin, apesar das divergências em diversas questões, incluindo a Síria, deve se encontrar com seu colega russo novamente em Astana na quinta-feira (13), à margem de uma cúpula regional.

Altamente dependente do gás e do petróleo russos, a Turquia não aderiu às sanções ocidentais contra a Rússia. Erdogan, cujo último encontro com Putin remonta a setembro, na ocasião de uma cúpula regional no Uzbequistão, deseja aumentar o comércio com Moscou para ajudar a economia turca antes das eleições presidenciais em junho.

“Paz justa”

No final de setembro, Ancara cedeu à pressão americana e renunciou ao sistema de pagamento russo Mir, que permitia que os cidadãos russos continuassem a sacar dinheiro na Turquia.

Erdogan ainda não comentou os ataques russos na Ucrânia na segunda-feira (10), que deixaram pelo menos 19 mortos e cerca de 105 feridos. No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, conversou por telefone na segunda-feira com seu colega ucraniano, Dmytro Kuleba, revelou uma fonte diplomática turca sem mais detalhes.

Cavusoglu pediu nesta terça-feira durante sua entrevista na televisão uma "paz justa" baseada na integridade territorial da Ucrânia. "Deve haver uma paz justa para a Ucrânia. Para onde está indo a guerra? Ela está acontecendo em solo ucraniano", enfatizou.

"Um processo que garanta a integridade territorial e as fronteiras da Ucrânia deve começar", acrescentou ele. "Sem um cessar-fogo, não é possível falar sobre essas questões de maneira saudável: um cessar-fogo viável e uma paz justa."

A Turquia rejeitou no início de outubro a anexação de novos territórios ucranianos - as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia - pela Rússia, assim como se recusou a reconhecer a anexação da Crimeia em 2014.

(Com informações da AFP)

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