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Após últimos ataques, Ucrânia acusa Rússia na ONU de ser um "estado terrorista"

Na ONU, A Ucrânia acusou a Rússia nesta segunda-feira (10) de ser um "estado terrorista", por ter matado civis ao atacar massivamente Kiev e outras grandes cidades, com atentados a bomba denunciados pelas Nações Unidas e pelo Ocidente.

Edifício destruído durante um ataque com mísseis russos em Zaporíjia, Ucrânia, em 11 de outubro de 2022.
Edifício destruído durante um ataque com mísseis russos em Zaporíjia, Ucrânia, em 11 de outubro de 2022. REUTERS - STRINGER
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Os países membros da ONU se reuniram na tarde de segunda-feira no tradicional anfiteatro da Assembleia Geral, em Nova York, para debater com urgência uma resolução condenando a anexação de regiões ucranianas por Moscou.

Com este texto co-redigido pela União Europeia, apresentado pela Ucrânia, e que poderá ser votado nesta quarta-feira (12), os países ocidentais esperam demonstrar que a Rússia do presidente Vladimir Putin está isolada no cenário internacional.

Mas foram os ataques mortais de segunda-feira de manhã que monopolizaram a sessão em que os dois países em conflito se enfrentaram em uma atmosfera tensa. "A Rússia provou mais uma vez que é um estado terrorista que deve ser dissuadido da maneira mais forte possível", insistiu o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya.

Seu correspondente russo, Vassili Nebenzia, respondeu comparando o regime de Kiev com a "mais escandalosa das organizações terroristas", dois dias após a explosão - uma "sabotagem", de acordo com Moscou - que danificou seriamente a ponte russa na Crimeia.

"Profundamente chocado"

Antes da Assembleia Geral, o secretário-geral da ONU, António Guterres, que se disse "profundamente chocado", denunciou os bombardeios russos: "Uma nova escalada inaceitável da guerra" pela qual os civis "estão pagando o preço mais alto".

Mais pessoas serão forçadas a fugir de suas casas na Ucrânia, alertou o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. "O horror do que aconteceu hoje [segunda-feira] na Ucrânia (...) é indesculpável", sublinhou o diplomata italiano aos jornalistas, afirmando ter "medo (...) de novos deslocamentos" de populações.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, protestou contra a "brutalidade absoluta" do líder russo, enquanto a diplomacia europeia denunciou "ataques bárbaros".

Dias antes dos bombardeios, a ONU havia decidido levar o dossiê das anexações de regiões ucranianas à sua Assembleia Geral – em que cada um dos 193 membros tem direito a voto, sem veto - depois que a Rússia bloqueou um texto semelhante no Conselho, em 30 de setembro.

O projeto de texto, visto pela AFP, condena as anexações "ilegais" das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson após "os chamados referendos" e enfatiza que essas ações "não têm validade" sob o direito internacional. O texto também pede que ninguém reconheça essas anexações e solicita a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.

Moradores de Kiev recebem cuidados médicos no local dos bombardeios russos, nesta segunda-feira, 10 de Outubro de 2022.
Moradores de Kiev recebem cuidados médicos no local dos bombardeios russos, nesta segunda-feira, 10 de Outubro de 2022. AP - Efrem Lukatsky

Direito internacional

Em declaração na ONU, o encarregado de negócios da missão da UE em Nova York, Silvio Gonzato, afirmou que os 27 estados-membros "nunca reconhecerão os chamados 'referendos' imaginados pela Rússia como pretexto para uma violação da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia".

A Rússia retaliou neste fim de semana em uma carta amarga a todos os estados-membros, atacando "delegações ocidentais" cujas ações "não têm nada a ver com a defesa do direito internacional".

Sob tensão, a sessão da Assembleia Geral foi interrompida por uma batalha processual lançada por Moscou para obter, em vão, a votação da resolução por voto secreto, procedimento muito incomum.

Guterres também denunciou as anexações de territórios ucranianos no final de setembro: "Isso desrespeita os objetivos e princípios das Nações Unidas. É uma escalada perigosa. Não tem lugar no mundo moderno. Não deve ser aceita".

Para um funcionário americano em Nova York, as declarações do chefe da ONU "provam que não é uma questão do Ocidente contra a Rússia". Durante a votação no Conselho de Segurança, nenhum país ficou do lado da Rússia, mas quatro (China, Índia, Brasil e Gabão) se abstiveram.

Enquanto alguns países em desenvolvimento se ressentem do foco do Ocidente na Ucrânia, outros podem seguir o exemplo nesta semana.

África

A votação permitirá avaliar o grau de isolamento da Rússia. Os esforços dos defensores do texto para convencer os potenciais abstêmios estão, portanto, indo bem. Ao visitar a África, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kouleba, disse "exortar a África a não permanecer neutra" durante a votação, de acordo com um comunicado da Embaixada da Ucrânia em Dakar. Um funcionário europeu espera 100 a 140 votos a favor.

As duas primeiras resoluções da Assembleia Geral contra a invasão russa em março receberam 141 e 140 votos a favor, cinco contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e entre 35 e 38 abstenções. A terceira resolução, no final de abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, resultou em uma erosão da unidade internacional contra Moscou, com muito mais abstenções (58) e votos contra (24) em oposição a 93 votos a favor.

Mortos e feridos

Dezenove pessoas morreram e 105 ficaram feridas nos ataques russos de segunda-feira na Ucrânia, de acordo com um novo número anunciado pelas autoridades nesta terça-feira (11). "De acordo com dados preliminares, 19 pessoas morreram e 105 ficaram feridas", informou o serviço de emergência estadual no Telegram.

O relatório anterior publicado na noite de segunda-feira relatava 14 mortos nesta onda de graves ataques de uma escala sem precedentes por diversos meses, que afetou principalmente Kiev pela primeira vez desde o final de junho.

Mais de 300 localidades ficaram sem eletricidade em todo o país na sequência destes ataques que afetaram centrais elétricas, de acordo com a mesma fonte. Na manhã desta terça-feira, um novo ataque russo visou a cidade de Zaporíjia (sul), já atingida por bombardeios russos nas últimas semanas.

Doze mísseis do tipo S-300 caíram na infraestrutura "civil", matando uma pessoa, informou o serviço de emergência do estado.

Energia

O presidente russo, Vladimir Putin, justificou esses "maciços" bombardeios pelo ataque "terrorista", em sua opinião, cometido no sábado por Kiev contra a ponte que liga o território russo à Crimeia (sul), península ucraniana anexada por Moscou em 2014.

O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, relatou que 11 grandes infraestruturas foram danificadas em oito regiões, além da capital. A Ucrânia anunciou que interromperá suas exportações de eletricidade para a Europa após esses ataques, enquanto os cortes de energia afetaram muitas regiões.

(Com informações da AFP)

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