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Repressão nas escolas do Irã: “Por que estão perseguindo menores de 18 anos?”, questiona adolescente

Há quase um mês, os iranianos protestam contra o regime islâmico do país, uma revolta que teve início com a morte da jovem Mahsa Amini, no último 16 de setembro. O movimento sensibiliza todos os setores da sociedade e chegou também às escolas, onde menores desafiam as autoridades e as forças de segurança.

Duas jovens correm da polícia durante uma manifestação em Teerã no último 19 de setembro.
Duas jovens correm da polícia durante uma manifestação em Teerã no último 19 de setembro. AP
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Catalina Gómez Angel, correspondente da RFI em Teerã, e agências 

O relógio marca 14h30 e, pelas ruas em torno da praça de Tajrish, no norte de Teerã, começam a aparecer jovens com idades entre 14 e 18 anos, que terminaram as aulas nas escolas da região. Vestidas com seus longos uniformes pretos, muitas delas mostram os cabelos ao deixar escorregar o véu islâmico - obrigatório para as mulheres no país. 

Para as adolescentes, pouco importa se membros das forças de segurança patrulham o local exibindo armas. Fariba, uma estudante de direito de 20 anos, conta à RFI que os policiais vêm evitando o contato direto com as jovens nas ruas por temer reações em grupo. "Há cerca de um mês eles estavam sempre me incomodando, mas não nesses últimos dias", diz. 

Depois de quatro semanas de protestos no país, as forças de ordem tentam impedir que as jovens se reúnam e gritem slogans contra o regime. Por isso, membros das forças de ordem rodeiam escolas. Há alguns dias, vídeos compartilhados nas redes sociais viralizaram no mundo inteiro ao mostrar adolescentes em várias partes do Irã se rebelando e cantando músicas contra os líderes da República Islâmica. 

Celulares confiscados

A jovem Mina, de 16 anos, aceita conversar com a RFI sob a condição que sua voz não seja gravada. A adolescente estuda em uma escola religiosa no norte de Teerã. Segundo ela, suas professoras sofrem pressão por parte das autoridades e, nos últimos dias, ameaçaram as estudantes com duros castigos.

Diante da viralização dos vídeos das estudantes, o controle nas escolas foi reforçado desde sábado (8). Algumas famílias afirmam que as forças de segurança chegaram a entrar em alguns colégios, confiscando os celulares das meninas em busca de imagens que mostrassem a participação delas nos protestos. 

"A atitude das autoridades nas escolas só mostra a debilidade deles. Por que querem perseguir menores de 18 anos?", questiona Fariba. 

A verdade é que são jovens, muitas delas adolescentes, que têm liderado a mobilização nas ruas. Um exemplo é Nika Shakrami ou Samira Esmailzadeh, duas meninas de 16 anos cujas mortes, durante os protestos, só aumentaram a revolta da população que saiu às ruas impulsionada pelo caso de Mahsa Amini, de 22 anos. As autoridades negam qualquer responsabilidade pelo que aconteceu com a jovem, morta após ter sido presa pela polícia da moral por desrespeito do código de vestimentas no Irã.

No entanto, a repressão às jovens não parece convencê-las de ficar caladas. Se forem impedidas de gritar, ao menos deixarão o véu islâmico escorregar mostrando os cabelos. 

Repressão no Curdistão 

As autoridades também reforçam a repressão no Curdistão, especialmente Sanandaj, no noroeste do Irã, de onde Mahsa Amini era originária. Grupos de direitos humanos alertaram nesta terça-feira (11) que um avião militar iraniano pousou no aeroporto da cidade durante a noite e forças especiais estavam chegando de ônibus de outras partes do país.

A organização norueguesa Hengaw destacou ainda que a população local tinha dificuldade em enviar vídeos do que está acontecendo devido às restrições impostas pelas autoridades à internet, mas que um menino de sete anos teria morrido na noite de domingo (9).

A Anistia Internacional se disse "alarmada com a repressão aos protestos em Sanandaj em meio a relatos de que as forças de segurança usam armas de fogo e gás lacrimogêneo indiscriminadamente, inclusive dentro de casas".

Na segunda-feira (10), a mobilização se expandiu sob forma de greves em diferentes refinarias de petróleo no Irã. Na petroquímica de Asaluyeh, no sudoeste, trabalhadores queimaram pneus, bloquearam estradas e gritaram "Morte ao ditador!" ou "Não tenha medo, estamos todos juntos", segundo vídeos que puderam ser enviados para fora do país. 

Os confrontos entre as forças de segurança e civis durante os protestos já custaram a vida de ao menos 95 pessoas, segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. Outros 90 cidadãos teriam morrido em manifestações que eclodiram a partir de 30 de setembro na cidade de Zahedan, no sudeste do país, depois que o chefe de polícia de Sistão e Baluchistão foi acusado de estuprar uma adolescente, disse o IHR, citando a organização Baluch Activists Campaign.

A diretora-executiva do Unicef, Catherine Russel, disse estar "extremamente preocupada com os contínuos relatos de crianças e adolescentes sendo mortos, feridos ou detidos em meio à agitação social no Irã". 

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