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“Espero que elas levarão a paz”: floricultor ucraniano envia milhares de rosas para cidade palco de massacre

Um floricultor de Pokrovsk, cidade no leste da Ucrânia, decidiu fazer um gesto simbólico para mostrar seu apoio aos compatriotas: enviar lotes de rosas para uma das regiões mais atingidas pela guerra no país.

Moradores de Bucha chora pela morte do filho, uma das vítimas do massacre de Bucha, em abril de 2022 (imagem de arquivo)
Moradores de Bucha chora pela morte do filho, uma das vítimas do massacre de Bucha, em abril de 2022 (imagem de arquivo) AP - Rodrigo Abd
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Anastasia Becchio e Boris Vichith, enviados especiais da RFI a Pokrovsk (Ucrânia)

Até 24 de fevereiro Victor Massiouk empregava cerca de 20 pessoas para cuidar de seus 15 hectares de plantações de flores ao norte de Donetsk. Sua produção era vendida em todo o país. Mas isso foi antes da ofensiva russa ter sacudido toda a atividade econômica ucraniana, principalmente na região do Donbass, onde se concentram as principais tropas russas. As fábricas não estão funcionando, muitas lojas permanecem fechadas, e os agricultores que continuam tentando cultivar suas terras não conseguem vender o fruto de suas colheitas, já que as exportações estão comprometidas.

Massiouk conseguiu preservar quatro funcionários, que tentam manter as terras férteis. “Tudo está parado. Dá pena”, se desola diante das plantações. “Estamos a cerca de 50 km da linha de frente e ouvimos disparos dia a noite”, relata.

Floricultor há mais de 30 anos, Massiouk é um apaixonado pelas rosas que, segundo ele, “acalmam o coração”. Por essa razão, desde que ficou sabendo do massacre em Bucha, cidade na periferia de Kiev alvo de um ataque russo em no início de abril, ele disse que suas flores poderiam reconfortar a população e decidiu enviar milhares de flores aos moradores da região.

O floricultor Victor Massiouk decidiu enviar as milhares de rosas para os moradores de Bucha e arredores.
O floricultor Victor Massiouk decidiu enviar as milhares de rosas para os moradores de Bucha e arredores. © Anastasia Becchio / RFI

Bucha foi palco de algumas das piores cenas desde o início da ofensiva russa na Ucrânia. Mais de 400 corpos de civis foram recolhidos das ruas da cidade em apenas alguns dias, e os vídeos divulgados pela imprensa comoveram o mundo inteiro, levando a comunidade internacional a cogitar pela primeira vez a hipótese de um genocídio orquestrado por Moscou.

"Aqui também tem gente de bem"

“Espero que essas rosas levarão a paz e a alegria. A beleza salvará o mundo”, defende o floricultor. “Em algumas regiões da Ucrânia, as pessoas pensam que no Donbass nós somos diferentes”, diz, fazendo alusão ao fato de que grupos pró-russos são atuantes há anos nesse enclave separatista.

O Donbass é predominantemente povoado por falantes de russo, cujas raízes na região remontam ao envio de trabalhadores russos depois da Segunda Guerra Mundial. Essa história forjou a identidade do local, que manteve fortes laços econômicos e culturais com a Moscou após o fim da URSS e a independência da Ucrânia.

“Eu quero provar que aqui também tem gente de bem e que nós também somos sensíveis. Talvez seja por essa razão que a Ucrânia luta tanto pelo Donbass, para que a região continue sendo ucraniana”, tenta explicar.

Depois de Bucha e seus arredores, Massiouk agora quer enviar suas rosas para o oeste da Ucrânia, região que continua acolhendo aqueles que fogem de Donbass, muitas vezes com o objetivo de entrar na União Europeia. “Uma hora ou outra essas pessoas vão voltar para cá. Mas as rosas ficarão lá como uma lembrança”, diz.

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