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Turquia/Análise

Erdogan volta a ter maioria parlamentar, mas Turquia corre risco de isolamento

O partido islâmico-conservador do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições legislativas antecipadas deste domingo (1) e voltará a ter a maioria absoluta no Parlamento. Com quase todas as urnas apuradas, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) tem quase 49,2%% dos votos e 316 cadeiras em um total de 550. A vitória interna, ao custo da repressão aos opositores e à imprensa, pode levar a Turquia a um isolamento internacional.

A sede do partido islâmico-conservador AKP, em Istambul, foi tomada pelos militantes que celebraram a vitória nas legislativas.
A sede do partido islâmico-conservador AKP, em Istambul, foi tomada pelos militantes que celebraram a vitória nas legislativas. REUTERS/Osman Orsal
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O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) estaria em segundo lugar, com 24,5%, seguido pelo Partido da Ação Nacionalista (MHP, direita), com 12%, o que representa uma melhora de desempenho em relação à eleição anterior.

Outra surpresa da votação foi o mau resultado do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo), depois de sua entrada triunfal na câmara em junho passado. Desta vez, só obteve 10% dos votos, um resultado ruim, mas que garante a permanência no Parlamento.

Após a divulgação dos resultados, policiais e ativistas curdos entraram em confronto em Diyarbakir, a principal cidade curda da Turquia. Os distúrbios começaram diante da sede do partido pró-curdo HDP.

O presidente turco quer realizar mudanças na Constituição do país para ampliar seus poderes. Para atingir esse objetivo, é necessária a maioria de dois terços do Parlamento (367 deputados). Os adversários de Erdogan tentaram, sem sucesso, durante a campanha criticar sua tendência autoritária, que levou nos últimos dias ao fechamento de redes de televisão e jornais da oposição.

Análise

A vitória do partido governista era esperada. O que surpreendeu foi a grande vantagem em relação aos opositores. As pesquisas de opinião apontavam que a legenda de Erdogan apresentaria resultado semelhante à eleição de junho. Mas a apuração deste domingo comprova que a estratégia do governo de convocar uma segunda eleição num intervalo de cinco meses funcionou.

Como o partido que apoia os curdos, o HDP, havia conseguido, pela primeira vez em junho, eleger deputados, a tática do presidente foi encerrar as negociações de paz e atacar as cidades do Sudeste, de maioria curda. Depois de dois atentados que, ao todo, causaram mais de 130 mortes, a população, pelo visto, não se convenceu das acusações dos opositores de que o Estado foi negligente e armou uma cilada para se beneficiar.

Falaram mais alto para o povo os pronunciamentos nacionalistas, ainda que sob duras penas para a informação independente. Jornalistas têm sido presos e grandes conglomerados de comunicação, passados para o controle estatal.

A oposição temia fraude neste 1° de novembro. Deslocou observadores para as seções eleitorais e adotou sistemas próprios de contagem de votos. Mas não houve denúncia de manipulação, pelo menos durante as primeiras horas da apuração.

O governo de partido único, por outro lado, está longe de ser a representação de uma nação coesa. O primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, não precisará formar coalizão, o que não significa que se livrará da pressão de três partidos, entre eles, o novato HDP, que, apesar da queda de votos, conseguiu entrar no Parlamento. A oposição será a voz da outra metade do país - contrária à ideia do presidente Erdogan de mudar a Constituição para passar a ter superpoderes executivos.

Endurecimento do conflito com os curdos

Nos últimos meses, o conflito armado que opõe desde 1984 os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) às forças de segurança turcas foi retomado no Sudeste do país. O frágil processo de paz iniciado há três anos foi enterrado.

A guerra que arrasa há quatro anos a Síria também chegou até a Turquia após o atentado suicida supostamente realizado por dois membros do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que fez 102 mortos entre militantes pró-curdos.

Esse aumento da violência preocupa cada vez mais abertamente os aliados ocidentais da Turquia, a começar pela União Europeia, que tem enfrentado um crescente fluxo de refugiados, principalmente sírios, a partir de seu território.

Com informações da correspondente da RFI em Istambul, Fernanda Castelhani

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