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Turquia/Atentado

Turquia vive segundo dia de luto enquanto atentado segue sem reivindicação

A Turquia vive nesta segunda-feira (12) seu segundo dia de luto nacional, decretado pelo governo após o duplo atentado de sábado contra uma manifestação pela paz em Ancara. Enquanto as investigações são mantidas em sigilo pelo governo, até o momento, nenhum grupo reivindicou autoria da explosão de duas bombas na principal estação de trem da capital turca.

Vítimas do atentado de sábado em Ancara começaram a ser enterradas neste domingo (11).
Vítimas do atentado de sábado em Ancara começaram a ser enterradas neste domingo (11). REUTERS/Umit Bektas
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

Oficialmente o atentado deixou 97 mortos e mais de 260 feridos, mas segundo a União dos Médicos da Turquia e a célula de crise do Partido HDP (Partido Democrático dos Povos), o ataque deixou ao menos 128 mortos e mais de 550 feridos.

O Ministério do Interior do país confirmou que o ataque foi suicida. De acordo com um dos jornais de oposição ao governo com maior circulação, Today’s Zaman, está sendo cogitado o nome do irmão de um homem-bomba que realizou um atentado semelhante em julho na cidade de Suruç, no sudeste do país.

Na ocasião, 32 pessoas morreram em frente a um centro cultural onde uma associação socialista de jovens se pronunciava à imprensa sobre a reconstrução da cidade síria de Kobane, que fica na fronteira com a Turquia. Esse ataque de três meses atrás foi atribuído ao grupo Estado Islâmico.

O irmão do suicida, Yunus Alagoz, está desaparecido desde então. Ele e Şeyh Alagoz se juntaram ao grupo Estado Islâmico em 2014. Oficialmente, as autoridades ainda os mantêm como suspeitos do atentado de sábado. Além deles, o PKK, organização curda considerada terrorista pelo governo turco e outras organizações de esquerda do país, também continua na lista dos suspeitos.

O silêncio de Erdogan

A três semanas da eleição legislativa que o presidente Recepp Tayyip Erdogan convocou, depois de não ter obtido maioria no Parlamento, ele pouco tem se pronunciado sobre o ataque. A oposição pró-curda intensifica as críticas contra o presidente e o acusa de ser o grande responsável pelo atentado, o mais violento da história do país.

Em sua conta no Twitter, o líder do partido HDP, Selahattin Demirtas, acusou o Estado de ter atacado seu povo. O partido pró-curdo estuda cancelar seus próximos comícios para evitar novas tragédias.

Os pronunciamentos mais frequentes sobre o incidente são do primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, que também tem ouvido muitas críticas sobre a vulnerabilidade da manifestação e questionado se as forças de segurança não foram negligentes. Nesta manhã, ele voltou a afirmar que o grupo Estado Islâmico é o principal suspeito e um dos kamikazes já estaria sendo identificado. Ontem, 43 pessoas vinculadas à organização extremista foram detidas para investigações em diversas cidades da Turquia.

Por que o governo é acusado

O colunista de um importante jornal turco, o Hurriyet, afirmou que presenciou as explosões e que a polícia não tomou as medidas para controlar o tráfego e a entrada na praça onde aconteceria a marcha. Também não houve revista nem controle com detector de metais, como ocorre em qualquer manifestação ou concentração de muitas pessoas no país, ou em todos os shoppings de Istambul, por exemplo.

Além disso, as ambulâncias também teriam demorado para chegar ao local do ataque. Testemunhas disseram ter estranhado que os ônibus não foram parados para procedimentos de segurança, outra atitude recorrente no país na entrada de qualquer estacionamento. Vários elementos dão a entender que o atentado pode ter se tratado de uma cilada do Estado.

Mas, para comentaristas de segurança internacional, um atentado dessa magnitude não seria de interesse do governo de Ancara. Até agora, os conflitos têm se concentrado em áreas de maioria curda. Por outro lado, o incidente também não seria do interesse dos curdos, uma vez que eles estavam sendo representados na passeata de sábado. Por isso, dessa vez, está sendo cogitada a participação do grupo Estado Islâmico, que até hoje combateu o avanço curdo.

Ancara deve se aproximar do Ocidente

De acordo com analistas, o governo, isolado por não ter, até hoje, interferido na questão síria, terá de se aproximar do Ocidente, que tanto recebia críticas de Erdogan. Isso porque a Otan, os Estados Unidos e Europa temem, por um lado, o aumento do terrorismo na região e, por outro, a chegada de mais refugiados, mas desta vez da própria Turquia.

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