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Violência contra migrantes aumenta na Escandinávia e na Alemanha

A violência de grupos ou indivíduos neonazistas e de extrema direita contra imigrantes, motivada por racismo e xenofobia, têm aumentado exponencialmente nos países nórdicos e na Alemanha com a chegada massiva de refugiados, principalmente sírios e africanos, à Europa. A Alemanha recebeu em 2015 mais de 1 milhão de refugiados, e a Suécia, 190 mil - os maiores números da Europa. A Finlândia acolheu mais de 32 mil solicitantes de asilo.

O grupo finlandês Soldados de Odin, sob as ordens de um delinquente neonazista, patrulha as ruas com o pretexto de proteger a população local dos imigrantes
O grupo finlandês Soldados de Odin, sob as ordens de um delinquente neonazista, patrulha as ruas com o pretexto de proteger a população local dos imigrantes Reuters
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O Ministério do Interior alemão anunciou nesta quinta-feira (11) que, em 2015, houve 14 mil crimes de extrema direita no país, mais de 30% a mais que no ano anterior.  Um aumento particularmente grande foi registrado no número de atos violentos, que quase dobrou em relação a 2014. Em 2015, foram 921 crimes desse tipo, que deixaram 691 pessoas feridas. A grande maioria dessas infrações teve motivação xenófoba: foram 612 casos, com 459 feridos.

A maioria dos crimes, 7.873, compreende os chamados delitos de propaganda, que incluem o uso de símbolos considerados inconstitucionais e a incitação ao ódio. No total, a polícia investigou mais de 7 mil suspeitos e prendeu 194 pessoas.

Os dados preliminares foram divulgados a pedido da deputada Petra Pau, do partido A Esquerda. Ela afirmou que a situação é alarmante e que os números reais devem ser muito maiores, pois a polícia ainda deve receber informações das autoridades federais e estaduais referentes ao ano passado. Em 2015, o ministério coletou dados locais até maio.

A deputada prevê que os números dobrem. Para ela, a situação revela que o extremismo de direita "é novamente um perigo para a vida e a integridade física de pessoas que não se encaixam no padrão misantrópico dos nazistas".

A política ressaltou que o perigo não está somente em organizações neonazistas, mas também em grupos que se mobilizaram contra refugiados e seus apoiadores. "Instituições estatais e a sociedade civil estão sobrecarregadas, e as lacunas deixadas são ocupadas e instrumentalizadas pelos nazistas", disse.

Cem neonazistas atacam estrangeiros em Estocolmo

Na Suécia, ainda não foi divulgado o balanço anual dos crimes de ódio de 2015. Mas o último relatório, referente a 2014, já mostrava uma tendência de alta preocupante, sendo o ano com o maior número de violência racista e xenófoba.

De acordo com o Conselho Nacional Sueco de Prevenção do Crime, um total de 6.270 crimes de ódio foram registrados, um aumento de 14% em relação ao ano anterior. "É o maior crescimento até hoje, desde que começamos a registrar os crimes de ódio", disse Sara Westerberg, pesquisadora da agência. De cada dez casos, sete estão ligados ao racismo e à xenofobia.

Em 2015, 17 residências para refugiados foram incendiadas no país e um jovem neonazista invadiu uma escola na cidade de Trollhättan e matou um professor e um aluno de origem estrangeira, além de ter ferido mais duas pessoas.

Na semana passada, cerca de 100 neonazistas vestidos de preto e mascarados marcharam no centro de Estocolmo, batendo em imigrantes e distribuindo panfletos com ameaças de mais ataques violentos contra jovens refugiados. A ação foi a reação mais extrema ao assassinato da assistente social Alexandra Mezher, morta por um dos internos em uma residência para refugiados na cidade de Mölndal.

No dia seguinte, outra passeata na capital sueca, próxima à praça Norrmalms, organizada por pessoas contra a imigração, pedia a renúncia do governo pela maneira como têm lidado com a crise migratória.

De acordo com o jornal "Aftonbladet", os panfletos distribuídos pelos criminosos mascarados continham o slogan "Chega!" e a ameaça de "dar às crianças de rua norte-africanas o castigo que elas merecem". A polícia disse que o material tinha a intenção de incetivar as pessoas a cometerem crimes e que os homens faziam parte de grupos de hooligans.

Uma testemunha afirmou que viu como eles bateram em pessoas com "aparência de estrangeiro" na movimentada praça Sergel. "Eles vinham pela rua Drottning em direção à praça e começaram a atacar os imigrantes. Eu vi pelo menos três pessoas serem espancadas. Eu estava com muito medo, então fui embora", disse.

Após o ataque, o grupo neonazi Movimento de Resistência Sueca divulgou um comunicado afirmando que "grupos expulsaram imigrantes criminosos da Africa do Norte que estavam alojados na área ao redor da estação central".

O comunicado dizia ainda que "a polícia mostrou claramente que não tem meios para controlar a fúria dos imigrantes, e não vemos outra alternativa que não seja castigá-los nós mesmos". E continua: "Homens e mulheres suecos merecem segurança na vida cotidiana, por isso pedimos a todas as pessoas que deparem com problemas que sigam os nossos passos, em Estocolmo ou em qualquer outro lugar do país".

Grupo extremista Os Soldados de Odin na Finlândia

Na Finlândia, o grupo Soldados de Odin, sob as ordens de um delinquente neonazista, patrulha as ruas com o pretexto de proteger a população local dos imigrantes. Na noite de terça-feira (9), um esquadrão de homens musculosos vigiava os "invasores islâmicos" pelas ruas nevadas de Kemi, uma cidade industrial da Lapônia, reconhecida por suas chaminés de fábricas de celulose.

Os Soldados de Odin - nome do deus nórdico da guerra - desfilam com o rosto descoberto e uniforme negro bordado com a sigla S.O.O. "Ainda não encontramos uma 'presa' porque está frio", afirma o líder, um caminhoneiro de 29 anos. "Mas, quando o tempo melhorar, os banhistas aparecerão nas margens dos lagos e as agressões terão início."

Mika Ranta criou uma milícia nessa localidade a uma hora de carro do Círculo Polar Ártico quando milhares de refugiados iraquianos cruzaram a pé a fronteira sueca até o sul do país. São 600 membros ativos em vários municípios.

Em 2015, a Finlândia, com uma população de 5,4 milhões de habitantes, acolheu mais de 32 mil solicitantes de asilo, uma das proporções mais altas da Europa. Um pesadelo para Ranta, um militante neonazista condenado por violência de caráter nazista em 2005, que afirma não ser necessário que as milícias Odin compartilhem de sua ideologia.

"Se eu, seu fundador, sou quem sou, não significa que todo o grupo também o deve ser. Não somos mais do que uma organização de patrulheiros de rua", insiste. O jogador de futebol francês, David Bitsindou, que atua na defesa do clube local, reconhece que se respira um ar deletério. "É verdade que é um pouco triste porque a polícia existe para fazer seu trabalho", lamenta.

Ainda que sem grande afinco, a polícia finlandesa desaprova a iniciativa dos Soldados de Odin, e o ministro do Interior, Petteri Orpo, denuncia o que considera um movimento de tendência "extremista".

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