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"Europa pode morrer" e "ser relegada a segundo plano", alerta Macron em discurso na Sorbonne

“A nossa Europa é mortal” e “pode morrer” ou ser "relegada a segundo plano”, alertou, nesta quinta-feira (25), o presidente francês, Emmanuel Macron, durante um longo discurso na Sorbonne, em Paris. Diante de uma plateia de 500 convidados, incluindo embaixadores de outros 26 Estados-membros da União Europeia (UE), estudantes, pesquisadores e de todo o seu governo, Macron destacou os valores europeus e escolhas que devem ser “feitas agora”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, discursa no anfiteatro da Universidade Sorbonne, em Paris, em 25 de abril de 2024.
O presidente francês, Emmanuel Macron, discursa no anfiteatro da Universidade Sorbonne, em Paris, em 25 de abril de 2024. AFP - CHRISTOPHE PETIT TESSON
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“Que fique claro: nossa Europa pode morrer”, declarou o presidente francês. “Depende unicamente das nossas escolhas”. Segundo ele, “essas escolhas devem ser feitas agora porque, na próxima década, [...] o risco é o enfraquecimento da Europa ou mesmo ela ser relegada a segundo plano”, disse o presidente francês. O discurso marca a sua entrada na campanha para as eleições europeias, entre 6 a 9 de junho.  

“O risco é o declínio europeu, que já é visível apesar de todos os nossos esforços”, alertou o chefe de Estado. Para Emmanuel Macron, a Europa está “cercada” pelas grandes potências regionais e os valores da “democracia liberal” europeia estão sendo “cada vez mais criticados” e “contestados”. O presidente francês também acusou os nacionalistas de morar no “condomínio” europeu sem “pagar as cotas” ou respeitar as “regras”. 

Recuperando o “controle” das fronteiras da UE

O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu à União Europeia que “recupere o controle das [suas] fronteiras” e “assuma a responsabilidade por isso”. 

“Se quisermos resistir à mudança das regras e à escalada da violência, temos de nos adaptar em termos de conceito estratégico e recuperar inteiramente o controle das nossas fronteiras", declarou o presidente francês. 

Macron falou da criação de uma “estrutura política” que permitiria aos “países que a compartilham” tomar “decisões” sobre temas como: imigração, a luta contra o crime organizado, o terrorismo, a luta contra o tráfico de drogas ou o crime cibernético.  

Nas redes sociais: por “uma maioria digital aos 15” 

Emmanuel Macron apelou ao aumento da maioridade digital na União Europeia para os 15 anos, e ao “controle parental” do acesso às redes sociais abaixo desta idade. 

“Quero defender uma Europa de maioria digital aos quinze anos. Antes dos quinze anos de idade deve haver controle parental sobre o acesso ao espaço digital. É esse acesso, se não controlarmos o conteúdo, que é fruto de todos os riscos e distorções da mente, que justificam todo o ódio”, declarou o presidente francês. 

Sobre questões de defesa: “preferência europeia” 

Num contexto geopolítico marcado pela guerra na Ucrânia, Macron pediu à UE que reforce mais a sua defesa no âmbito da Otan, mencionando, inclusive, a possibilidade de se equipar com um escudo antimíssil. 

Emmanuel Macron quer incluir a “preferência europeia” em temas ligados a “defesa e ao espaço” nos tratados. O presidente francês pretende convidar “todos os parceiros” nos próximos meses para construir “uma iniciativa de defesa europeia” que seja “credível” face aos “mísseis russos”, incluindo “talvez” um escudo antimíssil europeu. 

“As regras do jogo mudaram” devido a “potências desinibidas”, como a Rússia e o Irã, observou o chefe de Estado, que também deplorou “um despertar insuficiente diante do rearmamento geral do mundo”.

O presidente francês fez um apelo por uma “Europa poderosa”, que “imponha respeito”, “garanta a sua segurança” e recupere “a sua autonomia estratégica”. 

Macron ainda defendeu “uma capacidade europeia de cibersegurança e ciberdefesa”. Ele argumenta em favor da “preferência europeia na compra de equipamento militar” e apoiou a ideia de um financiamento europeu para este esforço de investimento em defesa. 

Uma “revisão” da política comercial 

O chefe de Estado francês também pediu uma “revisão” da política comercial europeia, “que defenda os nossos interesses”. A China e os Estados Unidos “já não respeitam” as regras, lamentou. “Não vai funcionar se formos os únicos no mundo a respeitar as regras do comércio tal como foram escritas, há 15 anos, se os chineses, os americanos já não as respeitam, subsidiando setores críticos”, denunciou. 

Emmanuel Macron disse que gostaria de ver a União Europeia se tornar um “líder mundial” até 2030, com “estratégias de financiamento específicas” em cinco “setores estratégicos do amanhã”: inteligência artificial, computação quântica, espaço, biotecnologias e “novas energias” (hidrogênio, reatores modulares e fusão nuclear). 

Economia: um “choque de investimento partilhado” 

Macron também defendeu a integração nas missões do Banco Central Europeu (BCE) de “pelo menos um objetivo de crescimento, ou mesmo um objetivo de descarbonização” e apelou a “um choque de investimentos comuns”.  

“Não podemos ter uma política monetária cujo único objetivo seja a inflação, ainda mais num ambiente econômico onde a descarbonização é um fator de aumento dos preços”, julgou o Chefe de Estado. 

“Precisamos mais uma vez de um choque de investimento comum, de um grande plano de investimento orçamentário” para a defesa, a inteligência artificial, a descarbonização, defendeu, pedindo uma duplicação “da capacidade de ação financeira” da UE. De acordo com Macron, a Europa deve se tornar um líder mundial até 2030 em IA, novas energias e biotecnologias. 

União dos Mercados de Capitais

“Devemos nos dar doze meses” para implementar o projeto da União dos Mercados de Capitais, “porque o prometemos há muitos anos”, argumentou Emmanuel Macron na quinta-feira. “Precisamos criar esta união essencial para poder circular o capital”, explicou o presidente. “Precisamos de subsídios. [...] Essa é uma capacidade de endividamento comum? Será que utilizamos os mecanismos que existem hoje? Basicamente, temos de conseguir duplicar a capacidade de ação financeira da nossa Europa ou pelo menos duplicá-la em termos orçamentais”, afirmou. 

Para isso, a União Europeia deve ter “recursos próprios adicionais”, mas “sem nunca sobrecarregar os cidadãos europeus”, considerou, referindo-se a vias como o imposto sobre o carbono nas fronteiras ou a tributação das transações financeiras. 

Para atingir estes objetivos, o chefe de Estado também solicitou a uma “mobilização ainda maior do investimento privado e das nossas capacidades de financiamento privado”. 

O que dizem as pesquisas 

O partido presidencial francês aparece em grandes dificuldades frente ao partido de extrema direita Reunião Nacional nas pesquisas para o Parlamento Europeu.

Segundo uma pesquisa da Opinionway sobre as eleições europeias de 9 de junho publicada sexta-feira (19), com 19% de preferência de votos, a lista da maioria presidencial ainda estava muito atrás da do RN (29%), mas mantinha uma clara vantagem sobre a dos socialistas (12%). 

(Com RFI e AFP)

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