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Irã tende a não ultrapassar ‘linhas vermelhas’ se atacar Israel, avalia especialista francês

Os receios de um “ataque significativo” do Irã contra Israel intensificaram-se desde o bombardeio ao consulado iraniano em Damasco, em 1° de abril. Os Estados Unidos garantem que a ameaça é “real" e que isso poderá ocorrer nas próximas horas. Washington pede à China para dissuadir Teerã.

Iranianos protestam contra Israel e Estados Unidos queimando bandeiras dos dois países, após o ataque de Israel a um consulado iraniano na Síria. (01/04/2024)
Iranianos protestam contra Israel e Estados Unidos queimando bandeiras dos dois países, após o ataque de Israel a um consulado iraniano na Síria. (01/04/2024) AP - Vahid Salemi
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Mas na análise do diretor acadêmico da Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos (FMES), Pierre Razoux, especialista em conflitos contemporâneos e autor de inúmeras obras de referência, o regime iraniano “não teria interesse em uma escalada” regional do conflito entre Israel e o grupo Hamas. Por isso, não deve ultrapassar as "linhas vermelhas” israelenses, que seriam um ataque a alguma grande cidade do país inimigo.

“O mais provável é que o Irã não atingirá o solo israelense diretamente”, afirma Razoux, que evoca a possibilidade de bombardeios a instalações militares israelenses simbólicas, como bases militares, a infraestruturas de fornecimento de gás para atingir o abastecimento de Israel ou ainda a áreas anexadas na Cisjordânia não reconhecidas pela comunidade internacional, a exemplo das Colinas do Golã.

Washington reafirma risco 'real'

Ao agir desta forma, antecipa o pesquisador, o regime iraniano ainda evitaria reações em escala dos aliados de Israel, a começar pelos Estados Unidos. Nesta sexta (12), a Casa Branca insistiu que a ameaça do Irã de adotar represálias contra Israel após o ataque na Síria permanece "real" e “viável”. Os disparos mataram dois generais iranianos.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, não especificou se acredita que o ataque é iminente e se os Estados Unidos ajudariam a derrubar mísseis iranianos disparados contra Israel.

"Eu diria apenas que estamos acompanhando isso muito, muito de perto", disse ele, a jornalistas. Kirby acrescentou que Washington garantirá que os israelenses "tenham o que precisam e que sejam capazes de se defender".

Para pesquisador Pierre Razoux, autor de Tsahal: Nova história do exército israelense, Teerã já vence com a promoção deste clima ameaçador. “Essa demora na resposta marca a vontade iraniana de pressionar o governo e as Forças Armadas israelenses. É um dos aspectos psicológicos [deste conflito], afinal essa demora cansa, preocupa, mexe com os nervos”, avalia.

“Mas se o governo iraniano levar tempo demais para reagir, ele pode ser acusado de fraco pelos atores regionais, que respeitariam o uso da força”, frisa.

Decisão iraniana é fruto de longa reflexão

O especialista francês observa que, dentro do Irã, o tema é mais complexo do que parece. “O guia supremo [Ali Khamenei] não decide tudo. O poder é negociado. Essa espera indica, provavelmente, que de um lado temos os generais, guardiões da revolução, desejando vingar os generais mortos de uma forma rápida e intensa, e de outro lado os clérigos, que têm realmente o controle do poder e são mais cautelosos. Eles querem evitar uma escalada, em especial com os Estados Unidos, e que o confronto se torne mais amplo com Israel, envolvendo o Líbano”, aponta.

O diretor acadêmico da FMES indica que, nos últimos dois anos, Teerã “marcou pontos” na cena internacional e não teria interesse em perder tudo em um conflito que, “por definição, seria incontrolável”. "Não seria nada lógico da parte de Teerã. Os clérigos iranianos pesam muito as suas decisões e só as tomam quando todos os conselheiros aprovaram”, insiste.

O estudioso também não acredita que aliados do regime de Teerã, como o Hezbollah libanês ou a Síria, tomem a frente desta reação, de modo a preservarem o seu próprio país de uma escalada com Israel.

Com AFP

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