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Entenda por que a França se tornou o segundo maior exportador de armas do mundo

O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) revela que durante o período 2019-2023, as importações de armas aumentaram 94% na Europa, impulsionadas pela guerra na Ucrânia. O relatório, publicado na segunda-feira (11), destaca também o fato de a França ter subido pela primeira vez ao segundo degrau do pódio dos países exportadores de armas, ultrapassando assim a Rússia, agora relegada ao terceiro lugar.

Foto de 18/6/23 mostra o Meteor, míssil ar-ar guiado por radar desenvolvido pelo contrutor francês MBDA.
Foto de 18/6/23 mostra o Meteor, míssil ar-ar guiado por radar desenvolvido pelo contrutor francês MBDA. © Julien de Rosa / AFP
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Por Frank Alexandre, da RFI

Desde 2019, a França viu suas exportações saltarem 47%, enquanto a Rússia teve queda de 53%. Trata-se de um grave revés para Moscou, ainda mais significativo pelo fato de ocorrer num momento de fortes tensões entre os dois países.

Nesta competição, os Estados Unidos continuam a ser, de longe, o principal exportador de armas do mundo, totalizando 42% das vendas.

Mas a França nunca havia ocupado o segundo lugar. Vários motivos explicam essa evolução, aponta o relatório do Instituto da Paz de Estocolmo (Sipri): o primeiro é a produção de altíssimo valor agregado, como o avião Rafale da Dassault Aviation, indica Léo Péria-Peigné, especialista em armas do Instituto Francês de Pesquisa Estratégica.

“O salto da indústria francesa em comparação com a Rússia pode ser explicado, em primeiro lugar, pelo declínio nas exportações de armas russas devido à guerra na Ucrânia, a indústria russa produzindo principalmente para consumo nacional e não para exportação”, diz Péria-Peigné.

“Em segundo lugar, devemos notar o sucesso de alguns produtos específicos da indústria francesa, como o (avião de caça) Rafale, ou alguns sistemas menos conhecidos, especialmente em termos de eletrônica. São sistemas com valor agregado muito alto, então nem precisa vender muitos, pois o preço deles vai pesar na balança”, acrescenta.

O documento elaborado pelo Sipri indica ainda que o sdesempenho se deve também ao fato de as armas francesas serem “Itar Free”, ou seja, não sujeitas às regulamentações americanas sobre a venda de armas, que são geralmente muito restritivas, particularmente no que diz respeito aos mísseis.

Ao contrário dos equipamentos americanos, os armamentos franceses dão aos países compradores maior liberdade e posse total dos equipamentos.

Valor agregado

Os materiais não incluem componentes que possam suscitar oposição de Washington. Um argumento forte na hora de assinar contratos gigantes, mas não só, garante Léo Péria Peigné.

“Quando a Índia compra o Rafale, não é necessariamente apenas pela qualidade do Rafale em si. Mas é também porque o Rafale pode transportar armas que os Estados Unidos estarão mais relutantes em vender. Estou pensando em particular nos mísseis Meteor (mísseis ar-ar produzidos pela MBDA France)", afirma o especialista. 

"Quando os Emirados Árabes Unidos ou o Catar compram armas francesas, é também uma forma de fortalecer uma aliança. A França tem tropas estacionadas no Catar que fornecem treinamentos e apoio. O mesmo acontece quando a Grécia compra Rafales; é importante que o avião seja eficiente, mas Atenas, ao comprar esses aviões, também garante o apoio da França nas suas disputas com a Turquia”, explica.

Além do desempenho dos equipamentos, questões internacionais mais amplas também desempenham um papel. Comprar da França é também uma forma de não se afastar dos Estados Unidos. Quando um país adquire equipamento russo, pode acabar numa lista negra americana e não conseguir obter equipamentos sensíveis. A Turquia experimentou isso ao equipar-se com baterias terra-ar russas S400 e depois não pôde comprar aviões americanos F35.

O equipamento francês é a escolha por uma terceira via, ou seja, uma outra razão do sucesso da indústria de defesa francesa.

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