Esposas de reservistas israelenses mobilizados em Gaza estão cada vez mais insatisfeitas com a guerra
A guerra contra o Hamas durará "muitos meses mais", advertiu o chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, Herzi Halevi, na terça-feira (26), enfatizando que seus objetivos "não são fáceis de alcançar". Mais de 300 mil soldados da reserva estão mobilizados no conflito na Faixa de Gaza. Embora esses militares tenham recebido uma compensação financeira por abandonarem seus empregos para lutar, esse não é o caso de suas esposas, que se encontram sozinhas em casa com seus filhos.
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Hajera Mohammade e Éric Audra, enviados especiais da RFI a Jerusalém.
No início desta semana, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou ainda uma "intensificação" dos ataques à Faixa de Gaza, onde as telecomunicações foram em parte restabelecidas na quarta-feira (27), depois de terem sido cortadas no dia anterior, de acordo com a operadora palestina Paltel. Em meio a tantos transtornos, quem ficou em casa também sofre as consequências da guerra.
Enquanto seu marido Yohanan está na guerra, Levanna Botbol tem de administrar tudo em casa, a começar pelas crianças. "Temos cinco filhos com idades entre 3 e 12 anos. É claro que isso muda tudo, porque meu marido geralmente está aqui de manhã. É ele quem cuida deles, os acorda e os veste. Agora tenho que fazer os dois trabalhos", diz à RFI.
Levanna também trabalha como engenheira de Tecnologia da Informação (TI). Sem o marido em casa, ela passou a fazer home office.
Ou o trabalho, ou a família
Mas outras mulheres tiveram que escolher entre o trabalho e a família. Esse é o caso de Anëlle, mãe de três filhos. "Sou fonoaudióloga e não voltei ao trabalho desde 7 de outubro, porque não consigo dar conta de tudo. Como sou autônoma, isso significa que não recebemos mais. São (menos) 6 mil shekels por mês. É complicado", conta Anëlle, referindo-se à renda que convertida, daria cerca de R$ 5.350.
Cerca de 4 mil esposas de soldados da reserva se juntaram à associação lançada pela advogada Sapir Bloser, ela mesma companheira de um soldado, que tem o objetivo de fazer um apelo ao governo. "Estamos pedindo três coisas. A primeira é uma compensação financeira. A segunda é a proteção do emprego, porque, infelizmente, algumas mulheres foram colocadas em licença não remunerada ou foram demitidas. E a terceira é ajuda psicológica", detalha a advogada.
Diante revolta e insatisfação crescente entre as mulheres afetadas, um dos porta-vozes do Exército israelense reconheceu, no início desta semana, o fardo suportado por essas famílias e garantiu que o governo estaria trabalhando em um sistema de compensação para apoiá-las.
Presença de Israel em Gaza
De acordo com uma pesquisa do think-tank Jewish People Policy Institute (Instituto de Políticas para o Povo Judeu) publicada no final de novembro, 44% da população judaica israelense é a favor de uma "presença civil" israelense em Gaza, após a guerra.
Mais de 21 mil pessoas, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, foram mortas em operações militares israelenses em Gaza, lançadas em resposta a um ataque sem precedentes do Hamas em território israelense em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis.
(RFI e AFP)
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