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Níger: imprensa francesa analisa perfil controverso de general que assumiu poder

A escalada de hostilidade antifrancesa no Níger, desde o golpe de Estado na semana passada, é acompanhada com preocupação por Paris e pelo mundo. O Palácio do Eliseu aumentou o tom depois que uma manifestação de apoio aos militares golpistas reuniu milhares de pessoas em frente à embaixada da França na capital Niamey, no domingo (30). E a figura controversa do general que assumiu o poder no país aumenta as incertezas em torno do desfecho deste cenário de tensão.

Pessoas participam de uma manifestação em Niamey, capital do Níger, em 30 de julho de 2023, em apoio a um golpe que substituiu o governo por uma junta militar. O cartaz pede "Abaixo a França, viva Putin".
Pessoas participam de uma manifestação em Niamey, capital do Níger, em 30 de julho de 2023, em apoio a um golpe que substituiu o governo por uma junta militar. O cartaz pede "Abaixo a França, viva Putin". © AP / Sam Mednick
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Em resposta à manifestação em frente à embaixada, o Palácio do Eliseu declarou que a França responderá "de maneira imediata e firme" em caso de ataque contra seus cidadãos que estejam no Níger. Também no domingo, os dirigentes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) fixaram um ultimato de uma semana aos golpistas para restaurarem a ordem constitucional.

O tema é um dos destaques da capa do Figaro desta segunda-feira (31), que afirma que a junta militar que tenta tomar o poder joga "o jogo antifrancês", tentando escapar, dessa forma, das pesadas sanções impostas pelos países vizinhos.

A publicação destaca o sentimento da população, que culpa o governo de optar por "continuar a colonização francesa", e descreve a hostilidade em relação a jornalistas franceses presentes no país, os acusando de "colaborarem com a desinformação francesa".

Os gritos de rejeição à França foram entoados em coro durante a manifestação, afirma o texto, em que repetem: "o que a França fez por nós, a não ser roubar nossas riquezas?".

Mas foram sobretudo os gritos de apoio à Rússia e ao presidente Vladimir Putin que aumentaram o clima de descontentamento da França e de outros países em relação ao protesto.

"Mesmo cenário que no Mali e em Burkina Faso"

Libération chama a manifestação para "uma demonstração de força contra a França", ainda que o golpe, iniciado na quarta-feira (26) com o sequestro do presidente Mohamed Bazoum, seja condenado por quase toda a comunidade internacional.

Para a população do Níger, não somente a França, mas a União Europeia e os Estados Unidos causariam danos a esse "jovem país", assim como a seus vizinhos Mali e Burkina Faso, ao alimentar uma guerra sem fim contra os grupos jihadistas do Sahel.

Um diplomata francês admite: "Temos a impressão que é exatamente o mesmo cenário que no Mali e em Burkina Faso [palco de quatro golpes de Estado desde 2020 e com a mesma tendência pró-Rússia]".

Para os golpistas, a ameaça que circula, desde a manhã de sábado (29), de que uma intervenção militar estrangeira possa eliminá-los, é preocupante, mas eles se dizem determinados a "protegerem sua pátria".

O jornal enfatiza que, fora da capital Niamey, cidade tradicionalmente de oposição, nenhuma outra manifestação foi registrada no país.

General frágil e controverso

Le Monde analisa o perfil do general Abdourahamane Tchiani, o "novo dirigente de poder frágil", afirma o título da matéria, acrescentando que o chefe da guarda presidencial, que reivindicou o poder na sexta-feira (28), não seria uma unanimidade no meio das forças armadas.

Em seu discurso televisionado, ele declarou o fim da VII República e justificou que o golpe teria sido motivado para preservar o Níger "da degradação contínua da situação de segurança e sem que as autoridades depostas os deixassem buscar uma verdadeira solução para a crise".

Homem de confiança do ex-presidente Mahamadou Issoufou (2011-2021), o general Tchiani, de 59 anos, é acusado de ter afastado outros altos oficiais que eram contrários ao governo anterior.

A fidelidade ao antigo chefe de Estado lhe teria rendido uma grande fortuna. Destituído de suas funções por Bazoum, teria ele motivado o golpe para reaver seus privilégios?, se pergunta o diário francês.

Para diplomatas e analistas do Níger, a escolha do general para assumir o governo pode não ser definitiva, "seu poder continua frágil e ele estaria pisando em ovos". Contestado internamente, ele deve enfrentar a comunidade internacional e mostrar uma postura mais rígida para se manter à frente da presidência.

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