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Primeiro-ministro do Níger diz que sanções da Cedeao seriam "desastre" para a população

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) ordenou no domingo (30) sanções severas contra Niamey, quatro dias após o golpe. O primeiro-ministro do Níger, Ouhoumoudou Mahamadou, que estava fora do país no momento do golpe militar e não pôde retornar, falou à RFI.

O primeiro-ministro do Níger, Ouhoumoudou Mahamadou, em Paris, em 30 de julho de 2023.
O primeiro-ministro do Níger, Ouhoumoudou Mahamadou, em Paris, em 30 de julho de 2023. © france24.com
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Ouhoumoudou Mahamadou lamentou as sanções. “O Níger é um país continental, um país sem litoral. Então, quando dizemos que há embargo, fechamento de fronteiras terrestres e de fronteiras aéreas, é extremamente difícil para a população. E quando isso vem acompanhado de sanções financeiras, num país que já tem uma situação financeira frágil, dá para entender o desastre que essa situação pode causar”.

Mahamadou destacou também a dependência do país em relação à comunidade internacional, bem como do Banco Mundial, da União Europeia, da Agência Francesa de Desenvolvimento e outros parceiros. E afirmou que sem esse apoio será extremamente difícil executar o orçamento aprovado pelo governo.

“Por isso, continuo confiante de que todos irão refletir e encontrar o que é melhor para o nosso país. E o melhor é reinstalar o governo democraticamente eleito, o presidente democraticamente eleito, libertá-lo, libertar os seus familiares e deixá-lo assumir as suas responsabilidades e os compromissos que assumiu perante o povo nigerino”.

Sobre a ameaça de intervenção militar anunciada pela Cedeao, o primeiro-ministro entende que a reação faz parte de uma série de ações aprovadas em encontro realizado em Bissau, em 9 de julho. “Os Estados-membros da Cedeao têm dito que estão cansados ​​de golpes de Estado, de mudanças inconstitucionais e que agora, quando isso acontecer, teremos de reagir com vigor, inclusive montando uma força de intervenção neste tipo de situação. Isso é algo que foi planejado antes mesmo da tentativa de golpe no Níger. Isso foi registrado nas resoluções dos chefes de Estado-membros da Comunidade, que pedimos ao presidente Bola Tinubu para fazer cumprir”, disse.

Mediação externa e interna

O primeiro-ministro comentou ainda as mediações que estão sendo realizadas pelo presidente do Chade, pelo governo da Nigéria e pelo próprio ex-presidente nigerense Mahamadou Issoufou. Para ele, todos os mediadores envolvidos são bem-vindos e a presença do presidente Mahamat Idriss Déby é uma vantagem por sua neutralidade, já que o Chade não é membro da Cedeao e é, portanto, um ator externo que pode servir de intermediário entre os diferentes partidos de forma neutra.

Manifestações anti-francesas

Ouhoumoudou Mahamadou falou ainda sobre os protestos realizados em frente à embaixada da França, país do qual o Níger foi colônia, conquistando sua independência em 1960. De acordo com ele, os protestos são organizados por grupos ativistas, mas que não têm, necessariamente, o apoio do povo.

“Lamento ver que na manifestação que eles organizaram, agitaram bandeiras de países estrangeiros. Se o objetivo deles é trazer outros países estrangeiros para o Níger, eles podem atacar os interesses da França com base em sua própria agenda, mas não com base na agenda do povo do Níger. Nosso povo fala por meio de Assembleia Nacional. Veremos nos próximos dias outras manifestações para exigir o levantamento das sanções da Cedeao, para pedir a reconciliação entre os diferentes atores para que nossa população não sofra. É aí que veremos o povo do Níger”, afirmou.

Intervenção militar

Além das sanções, a decisão estabelecida na cúpula da Cedeao e da União Econômica e Monetária do Oeste da África (Uemoa) de realizar uma intervenção militar no país causou espanto pela dureza da medida, anunciada pelo presidente da Nigéria e atual presidente da Cedeao, Bola Tinubu.

Mas por que tal ameaça extrema foi feita ao Níger e não para a Guiné, Mali e Burkina Faso, países que sofreram golpes recentemente? Um diplomata de Gana, ouvido pela RFI responde que se trata de uma questão de credibilidade. “Se deixarmos passar este golpe, a democracia estará mais do que em perigo e a Cedeao, uma instituição sem credibilidade”.

Já outro interlocutor, que atua na Comunidade, explica que “após a cúpula de Bissau, especialistas têm estado em alerta”. E em Abuja, capital da Nigéria, vários países já anunciaram disponibilidade para fornecer tropas se necessário. Um diplomata nigeriano vai mais longe: “Do nosso lado, algumas das nossas tropas já estão prontas não muito longe da fronteira com o Níger para uma possível operação militar”.

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