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Egito: 10 anos de Al-Sissi no poder são marcados por pobreza e repressão no país

Há dez anos, em 3 de julho de 2013, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito era derrubado por um golpe militar após apenas um ano no poder. Seu sucessor, Abdel Fattah al-Sissi, logo alteraria a Constituição, restringindo liberdades e reprimindo qualquer oposição. De acordo com ONGs de direitos humanos, pelo menos 60 mil presos políticos estão atualmente encarcerados no país.

O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, no poder há dez anos, desde o golpe de Estado de 3 de julho de 2013. Sob seu governo, um terço dos 105 milhões de habitantes do país vive abaixo da linha da pobreza.
O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, no poder há dez anos, desde o golpe de Estado de 3 de julho de 2013. Sob seu governo, um terço dos 105 milhões de habitantes do país vive abaixo da linha da pobreza. REUTERS /The Egyptian Presidency
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Edward Dropsy, correspondente da RFI no Cairo

No caos do trânsito do Cairo, um motorista de táxi sintetiza o sentimento da população depois de uma década de ditadura militar: “Não temos liberdade no Egito. Estamos cansados ​​de Sissi!”. Um desabafo ousado neste país governado com mão de ferro.

Nação mais populosa do mundo árabe, o Egito enfrenta uma inflação galopante, de 33%, e mais de um terço dos seus 105 milhões de habitantes vive abaixo da linha da pobreza. Com isso, a falta de liberdade deixa de ser uma prioridade, quando os egípcios lutam para conseguir se alimentar.

“Quando Sissi assumiu o poder em 2013, havia muitos atentados”, lembra Mohamed Lotfi, diretor da ONG de direitos humanos Comissão Egípcia de Direitos e Liberdades (ECRF), uma das últimas no Egito. “E muitas pessoas escolheram a segurança em detrimento da liberdade”, ele observa.

Na época, o então ministro da Defesa Abdel Fattah al-Sissi se apresentou ao seu povo como um salvador diante da ameaça da Irmandade Muçulmana, personificada por Mohamed Morsi, o primeiro presidente democraticamente eleito na história do Egito.

O governo de Morsi “também havia modificado a Constituição, incluindo artigos que permitiam a instauração de um Estado islâmico e de um Estado religioso. Tudo isso desagradou a maioria do povo egípcio, que saiu às ruas para tirar a Irmandade Muçulmana do poder”, explica Amr Alshobaky, especialista em islamismo político.

“Maior massacre da história moderna do Egito”

No poder há apenas um ano, Mohamed Morsi foi deposto e preso em 3 de julho de 2013. Por mais de um mês, em pleno Ramadã, o período do jejum sagrada muçulmano, sob o intenso calor de julho no Cairo, seus partidários se reuniram para exigir que o líder derrubado fosse restabelecido.

Seus esforços seriam em vão. De 14 a 16 de agosto, o regime militar abriria fogo contra os manifestantes reunidos na praça Rabia-El-Adaouïa. Pelo menos 638 pessoas foram mortas sob as ordens das autoridades egípcias. A ONG Human Rights Watch chama o episódio de “o maior massacre da história moderna do Egito”. O Estado de exceção logo seria promulgado, e a Irmandade Muçulmana seria classificada como uma “organização terrorista”.

Desde então, os julgamentos em massa se multiplicaram no país. Para os defensores dos direitos humanos, que viram na “primavera árabe” um sopro de esperança, o retorno à realidade do regime militar é doloroso. Qualquer um que critique o poder de Sissi ou o exército corre perigo.

“O país opera há dez anos sem nenhuma forma de governança local”, explica Hossam Bahgat, diretor da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais (EIPR). “O governo usa o encarceramento como sua principal ferramenta de gestão. E não se trata apenas dos presos políticos, mas de toda a população que é feita refém. Qualquer um pode ser preso. Uma vez preso, não há processo legal, e você não sabe quando será solto”, ele descreve.

Eleições

A um ano das eleições presidenciais, Abdel Fattah al-Sissi pretende concorrer a um terceiro mandato, e decidiu lançar o que ele chama de um grande diálogo nacional. “Na realidade, é um mosaico de monólogos, não um diálogo”, critica Mohamed Lotfi.

Para participar deste “diálogo”, o ONG de Lotfi exigiu o comprometimento do governo em relação à libertação dos presos políticos. Entre abril de 2022 e abril de 2023, cerca de 1,6 mil presos foram libertados, mas outras 3,6 mil pessoas foram presas no mesmo período. “São mais 2 mil! É por isso que nos recusamos a participar desta farsa”, ele alega.

O número de 60 mil presos políticos nos cárceres egípcios denunciados pelas ONGs de direitos humanos é formalmente negado pelas autoridades. O próprio presidente deposto Mohamed Morsi morreu na prisão em 2019.

As eleições presidenciais de 2024 serão acompanhadas pelos parceiros do Egito, principalmente pelos Estados Unidos e a União Europeia, ansiosos por manter uma aparência de estabilidade neste país situado em uma região abalada por diversas crises políticas.

Sem qualquer opositor expressivo, Abdel Fattah al-Sissi parece ter o caminho livre para se manter no poder. “Sissi não aceita críticas. Ele acha que foi enviado por Deus para salvar o país”, afirma Hossam Bahgat. “E como ele decidiu destruir as instituições estatais e administrar tudo sozinho, então ele é o único responsável pela situação no Egito”, conclui o diretor da EIPR.

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