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Agricultores ucranianos tentam se livrar de bombas deixadas pelos russos em campos de cereais

Os agricultores ucranianos iniciaram uma nova temporada de semeadura no país. No entanto, a atividade segue abalada pela ofensiva russa. Além dos explosivos deixados pelas forças de Moscou, que impedem a retomada do trabalho, os profissionais do setor se questionam sobre a situação dos estoques, bloqueados no país. A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de cereais, principalmente trigo e milho.

Agricultores ucranianos tentam retomar suas atividades entre os destroços provocados pela ofensiva russa e os explosivos deixados pelas forças de Moscou nas terras agrícolas.
Agricultores ucranianos tentam retomar suas atividades entre os destroços provocados pela ofensiva russa e os explosivos deixados pelas forças de Moscou nas terras agrícolas. © Anastasia Becchio/RFI
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Com informações de Anastasia Becchio e Boris Vichith, enviados especiais da RFI a Kharkiv

Entre as carcaças de galpões destruídos pelos bombardeios, tratores esperam para serem consertados. No entanto, eles não voltarão a ser utilizados ​​tão cedo, pois as terras agrícolas que os rodeiam ainda estão cheias de restos de granadas, foguetes e minas, muitos deles prontos para explodir.  

“Temos campos que foram bombardeados mais de cem vezes e deve haver projéteis não detonados. Os russos usaram vários lançadores de foguetes para colocar minas terrestres a uma distância significativa”, conta Andrii Lapa, agrônomo que trabalha na região de Kharkiv.

Segundo as forças ucranianas, cerca de 25% das terras agrícolas do país estão infestadas de minas e munições não detonadas. Os explosivos podem ser encontrados nas zonas libertadas após a ocupação, mas também nas áreas que ficaram sob controle ucraniano, mas que estavam ao alcance da artilharia russa.

Atualmente algumas equipes tentam desmontar as minas encontradas. No entanto, esse trabalho é feito principalmente em áreas mais residenciais, deixando de lado as zonas agrícolas. “Faltam brigadas para desmontar as minas. [As autoridades] se concentram nas infraestruturas críticas e não têm tempo para cuidar dos agricultores”, avalia Andrii Lapa.

Diante da situação, alguns ucranianos se transformaram em "caçadores de minas", muitas vezes adaptando tratores antigos para identificar os explosivos.

“Eu viajo pelas regiões de Kharkiv e Sumy em busca de tratores T150 que datam da era soviética. Podemos equipá-los com um sistema de orientação controlado por rádio e usá-los para limpar nossos campos”, conta Oleg Girman. “Entendemos que ninguém mais fará isso por nós. Então estamos sozinhos diante de nossos problemas”.

Em entrevista à AFP, Perrine Benoist, da ONG Handicap international, estima que a Ucrânia pode levar até 50 anos para conseguir eliminar todos os explosivos deixados em seu território. Ela dá como exemplo países como Laos, Camboja ou Vietnã, que também foram alvos de bombardeiros e onde, mais de cinco décadas depois, o trabalho de destruição das minas ainda não foi concluído. 

Estoques acumulados

A situação preocupa os profissionais do setor, que já temem perder a terceira temporada de plantio desde o início da guerra. Oleg Girman afirma que ainda não conseguiu vender o milho da colheita que realizou há dois anos e que o cereal segue estocado em seus galpões.

No momento da declaração da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, os portos do mar Negro, principal ponto de partida das commodities ucranianas, foram instantaneamente bloqueados. Em julho, um acordo foi assinado entre representantes da Rússia, Ucrânia, Turquia e das Nações Unidas, permitindo a retomada das exportações ucranianas de grãos, sob supervisão internacional.

Desde então, centenas de navios carregados com grãos e outros alimentos deixaram os três portos ucranianos de Chornomorsk, Odessa e Yuzhny/Pivdennyi, segundo informações do Conselho Europeu. Porém, embora o desbloqueio da rota marítima de exportação tenha ajudado a resolver a crise global de segurança alimentar e a baixar os preços dos grãos, o acúmulo de estoques continua significativo, principalmente em regiões onde os agricultores ainda tentam se livrar dos vestígios da ofensiva de Moscou.

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