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Visita de ministro israelense à Esplanada das Mesquitas expõe Netanyahu à pressão da extrema direita

Apenas cinco dias após assumir seu posto como ministro da Segurança Nacional de Israel, o deputado Itamar Ben Gvir decidiu visitar a Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado para o Islã. A iniciativa, interpretada por muitos como uma provocação contra os palestinos, pode se tornar uma constante no governo mais à direita da história de Israel, colocando o premiê Benjamin Netanyahu em um fogo cruzado entre os excessos dos extremistas e o viés moderador de seus países aliados.

O ultranacionalista Itamar Ben Gvir próximo ao acesso a Damasco, em Jerusalém, em 10 de junho de 2021.
O ultranacionalista Itamar Ben Gvir próximo ao acesso a Damasco, em Jerusalém, em 10 de junho de 2021. REUTERS - AMMAR AWAD
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Com informações de Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

Especialistas não veem como fato isolado a presença Ben Gvir na Esplanada das Mesquitas na manhã desta terça-feira (3), local também considerado sagrado pelos judeus, que o chamam de Monte do Templo, o que faz do lugar um cenário fácil para fortes tensões. Lidar com esses “excessos” de membros do seu governo pode estar entre os maiores desafios nesta gestão do primeiro-ministro israelense.

“Netanyahu com certeza não está muito à vontade com o que se passou com esse ministro, porque ele tem do outro lado o principal aliado de Israel, os Estados Unidos, que é a favor de uma moderação", avalia o historiador Ilan Greilsammer, professor de Ciência Política na Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv, em entrevista a RFI. "Ele está sob a pressão externa e, ao mesmo tempo, seu governo está consolidado sobre partidos da extrema direita, ultrarreligiosos, o Likud. E sobre partidos de extrema direita é possível esperar qualquer coisa desse tipo”, afirma o especialista. 

A ida de Itamar Ben Gvir à esplanada já havia sido anunciada, mas, depois, cancelada, tornando a visita um grande evento que pegou a todos de surpresa. Na ocasião do anúncio, no início da semana, as ameaças se multiplicaram do lado palestino. O Hamas, no poder em Gaza, foi suscinto: “Isso não ficará impune”.

A Esplanada das Mesquitas é uma linha vermelha para os palestinos. E como também se trata de um local sagrado para o judaísmo, é aberta à visitação dos fiéis judeus. Mas há “fiéis e fiéis”. E Itamar Ben Gvir é conhecido por ser um grande provocador da extrema direita israelense. Suas muitas visitas à esplanada são vistas como puramente ideológicas e sem qualquer conotação religiosa. E ele parece não hesitar em repetir a estratégia, ainda que contrariando Netanyahu.

“O primeiro-ministro com certeza controla o partido que constitui sua coalizão. Ele tem 64 dos 120 assentos de sua coalizão. Mas não pode se esquivar da extrema direita nas circunstâncias atuais. Netanyahu tentou interferir de alguma forma nessa ação da extrema direita, mas ficou evidente que Ben Gvir não levou seu pedido em conta. Com isso, o premiê recebe todas essas críticas hoje de diversos países que são amigos de Israel e que não querem que o statu quo sobre o Monte dos Templos mude para uma atmosfera de provocações”, continua Ilan Greilsammer, que é autor de diversos ensaios sobre a sociedade israelense, incluindo "A Nova História de Israel".

Soberania israelense

No passado, militantes que apoiam Itamar Ben Gvir já tentaram agitar uma bandeira israelense ao pé das mesquitas, como se quisessem impor a soberania israelense. Desde a conquista de Jerusalém Oriental por Israel em 1967, a esplanada está sob administração jordaniana.

Também vale sublinhar que, em suas incursões anteriores à esplanada, Ben Gvir era um simples deputado. Mas, a partir de agora, ele responde pelo Ministério da Segurança Nacional, e suas ações, portanto, comprometem o Governo israelense.

Na opinião de Greilsammer, o primeiro-ministro deu sua demonstração de que queria realmente “fechar o cerco” ao optar por um governo majoritariamente da extrema direita, mas, por outro lado, ele tem o desafio de acalmar extremistas e fanáticos. “Mas Ben Gvir não o ouviu e essa manhã subiu a esplanada, uma evidência de que a extrema direita está disposta a fazer o que der na sua cabeça”, alerta o especialista.

Os palestinos traçam um paralelo desse episódio com a visita de Ariel Sharon à esplanada em 2000, na época um simples deputado, mas que depois se tornaria primeiro-ministro. Isso desencadeou uma revolta em grande escala, que ficaria conhecida como a Segunda Intifada.

A provocação de Itamar Ben Gvir parece só aumentar a distância já instalada nas relações entre palestinos e israelenses.

“Já faz um tempo que não há realmente uma relação entre o governo de Israel, mesmo no governo precedente, e as autoridades palestinas. Infelizmente, temos que admitir que não há um processo de paz, que essas discussões voltaram a um ponto morto, e não será esse governo do Netanyahu que irá conseguir retomar o diálogo com as autoridades palestinas ou com o Hamas”, enfatiza Ilan Greilsammer.

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