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Japão elabora mudança radical de sua política pacifista de defesa

O governo do Japão aprovou, nesta sexta-feira (16), uma reforma radical de sua doutrina de defesa com o objetivo de contra-atacar o poderio militar da China, considerado um "desafio estratégico sem precedentes" para a segurança do país. A invasão russa da Ucrânia e as ações militares de Pyongyang também foram mencionadas em relatórios. 

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, durante entrevista coletiva em Tóquio (16/12/22).
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, durante entrevista coletiva em Tóquio (16/12/22). AP - David Mareuil
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Pela primeira vez em quase uma década, o Japão está revisando sua estratégia de defesa. Tóquio planeja dobrar seu orçamento anual de defesa para 2% de seu PIB até 2027 e unificar seu alto comando militar, além de aumentar o alcance de seus mísseis.

O governo japonês justifica a mudança em sua doutrina de defesa pela ameaça da China, que intensifica a pressão sobre Taiwan, e o temor despertado pela invasão russa da Ucrânia, relata o correspondente da RFI em Tóquio, Frédéric Charles.

Embora as mudanças tenham o apoio da opinião pública, a reforma é uma guinada de grande dimensão para um país cuja Constituição pacifista, adotada após a derrota na Segunda Guerra Mundial, proíbe a criação de um exército convencional.

A nova doutrina de defesa é baseada em três documentos que mencionam a China, a Coreia do Norte e a Rússia, aos quais a AFP teve acesso.

Os relatórios utilizam uma linguagem mais assertiva em comparação à nomenclatura usada no documento anterior sobre a estratégia de segurança nacional elaborado pelo Japão em 2013.

"Desafio estratégico" da China

A postura militar cada vez mais contundente da China é descrita como "uma grave preocupação para o Japão e para a comunidade internacional" e como "um desafio estratégico sem precedentes para a paz e a estabilidade do Japão". 

O principal eixo da estratégia é o forte aumento dos gastos de defesa, o que tem provocado críticas sobre as formas de financiamento.  

A mudança permitirá o alinhamento do país com o compromisso assumido pelos Estados-membros da Otan, embora o Japão não integre a aliança militar.

Tóquio deseja obter capacidade de "contra-ataque", um conceito que até agora era considerado incompatível com sua Constituição e que permitiria agir contra ameaças dos países vizinhos.

A imprensa nipônica informou recentemente que o governo deseja adquirir 500 mísseis de cruzeiro Tomahawk americanos para aumentar a capacidade de seu arsenal.

Japão, Itália e Reino Unido também anunciaram neste mês que desenvolverão em conjunto um avião de combate de última geração, um projeto que abre as portas para uma cooperação futura com outros aliados.

A presença das Forças de Autodefesa nas ilhas mais meridionais do Japão, as mais próximas de Taiwan e da China, também aumentará e o governo pretende triplicar as unidades com capacidade de interceptação de mísseis balísticos, segundo a imprensa.

A preocupação com a China aumentou depois das grandes manobras militares de Pequim ao redor de Taiwan em agosto, quando alguns mísseis caíram na zona econômica exclusiva do Japão.

Ameaça norte-coreana

A estratégia de segurança nacional também menciona os vários lançamentos de mísseis da Coreia do Norte e afirma que as ações militares de Pyongyang representam "uma ameaça iminente para o Japão".

 A respeito da Rússia, o Japão destaca que o desejo de Moscou "de recorrer à força para alcançar os próprios objetivos de segurança, como na Ucrânia, é evidente".

Também indica que as atividades militares na região Ásia-Pacífico e a cooperação estratégica com a China "constituem uma grande preocupação na área de segurança".

Mesmo antes da publicação, a nova política de Tóquio irritou Pequim, que critica com frequência o militarismo japonês da primeira metade do século XX, que teve a China como uma de suas principais vítimas.  

A China se "opõe com veemência" a esta política que "se afasta do compromisso do Japão em favor das relações bilaterais e de um consenso" com Pequim e que "contém calúnias sem fundamento contra a China", criticou na quarta-feira o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.

(Com AFP)

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