Acessar o conteúdo principal

Putin formaliza anexação polêmica de regiões ucranianas citando "vontade de milhões"

O presidente Vladimir Putin formalizou nesta sexta-feira (30) a controversa anexação pela Rússia das quatro regiões do leste e sul da Ucrânia consultadas em um questionado referendo em nome do "direito à autodeterminação dos povos". “É a vontade de milhões de pessoas”, declarou ele durante a cerimônia oficial com a presença de centenas de autoridades no Salão da Ordem de São Jorge, no Kremlin. Em seu discurso, Putin também propôs um cessar-fogo à Ucrânia.

O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante as comemorações que marcam a anexação de regiões da Ucrânia à Rússia, na Praça Vermelha em Moscou, Rússia, nesta sexta-feira, 30 de setembro de 2022.
O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante as comemorações que marcam a anexação de regiões da Ucrânia à Rússia, na Praça Vermelha em Moscou, Rússia, nesta sexta-feira, 30 de setembro de 2022. AP - Gavriil Grigorov
Publicidade

Esta proclamação, sinal da determinação do líder russo, acontece três dias após o fim dos referendos organizados nas quatro regiões em questão - e não reconhecidos pela comunidade internacional - que terminaram com um "sim" à anexação com cerca de 99% dos votos.

"As pessoas de Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporíjia se tornam nossos cidadãos para sempre", pontuou Vladimir Putin, acrescentando que as pessoas votaram "inequivocamente" por "um futuro comum". "Quatro novas regiões russas" serão assim formadas, acrescentou ele, sob acordos que ainda não foram assinados.

Putin, interrompido por aplausos diversas vezes durante seu discurso, convocou a Ucrânia, invadida pelo exército russo em 24 de fevereiro, a "um cessar-fogo" e a retornar à mesa de negociações.

O presidente russo garantiu que seu país "não aspira" restaurar a URSS, apesar da ofensiva no país vizinho e da anexação de quatro regiões ucranianas após "referendos" denunciados por Kiev e pelo Ocidente. "A União Soviética se foi, o passado não pode ser trazido de volta. E a Rússia não precisa disso hoje, não aspiramos a isso", declarou Putin durante um discurso no Kremlin para a elite política russa.

Cerimônia no salão da Ordem de São Jorge, no Kremlin, neste dia 30 de setembro de 2022, na presença de centenas de
dignitários e com o presidente russo, Vladimir Putin, ao fundo.
Cerimônia no salão da Ordem de São Jorge, no Kremlin, neste dia 30 de setembro de 2022, na presença de centenas de dignitários e com o presidente russo, Vladimir Putin, ao fundo. AP - Grigory Sysoyev

“Colônia do Ocidente”

Por outro lado, Putin acusou o Ocidente de querer fazer da Rússia uma "colônia". "O Ocidente está disposto a tudo para preservar o sistema neocolonial que lhe permite parasitar e, na realidade, saquear o mundo inteiro (...) Eles querem nos ver como uma colônia", ele criticou.

Os 27 países-membros da União Europeia declararam nesta sexta-feira que rejeitam e condenam inequivocamente a anexação das quatro regiões ucranianas pela Rússia, anunciada por Putin.

Para ex-embaixador francês em Moscou, Claude Blanchemaison, o discurso da cerimônia de anexação é para Putin uma estratégica oportunidade de reafirmação política do líder russo em um contexto de conflito ainda muito nebuloso.

“Acredito que Vladimir Putin está organizando hoje uma espécie de triunfo no sentido romano do termo: um triunfo político, para anunciar a anexação dos quatro oblasts (territórios) ucranianos que, portanto, serão adicionados à Crimeia, anexada há oito anos. Mas é ainda mais curioso que não se trate de uma vitória militar, já que no terreno o exército russo tende a recuar. Então, Putin está tomando uma iniciativa política. Com essa cerimônia no Kremlin, essa festa na Praça Vermelha, ele quer inflamar um pouco os russos e fazê-los acreditar que algo importante está acontecendo, que os objetivos da operação lançada em 24 de fevereiro são alcançados, que é um sucesso. Embora, é claro, praticamente ninguém, exceto talvez a Coreia do Norte, reconheça essas anexações”, analisa Blanchemaison em entrevista a Julien Coquelle-Roehm, da RFI.

Ataque a territórios russos?

As anexações ocorrem em áreas onde o exército ucraniano lança contraofensivas, o que pode detonar uma escalada da violência. “Para a Ucrânia e para os países ocidentais, essas anexações são nulas e sem efeito, e a tese pseudolegal de Putin em que quem ataca esses territórios obviamente atacaria a própria Rússia não tem sentido. Assim, as operações militares ucranianas, com a ajuda de diversos equipamentos do Ocidente e principalmente dos americanos, continuarão. Então isso significa que Putin poderia recorrer a extremos?”, se questiona o diplomata, autor do livro Vivre avec Poutine (Viver com Putin, em português).

A cerimônia de anexação ocorre quando o Ocidente promete sanções adicionais e uma resolução será apresentada ainda nesta sexta-feira ao Conselho de Segurança da ONU. “Depois do Conselho de Segurança, provavelmente haverá uma votação nos próximos dias na Assembleia Geral das Nações Unidas, que está em sessão, e quando não pode haver direito de veto. E aí será interessante contar as pessoas que ainda se atrevem a apoiar o Kremlin. Haverá cada vez menos, porque muitos países têm problemas de fronteira e não querem endossar anexações russas. Portanto, é de fato um processo puramente político: haverá uma condenação na Assembleia Geral das Nações Unidas, mas isso não terá consequências práticas”, denuncia Claude Blanchemaison.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.