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No dia da anexação de territórios pela Rússia, Ucrânia resiste e acusa Moscou de “terrorista”

A Rússia se prepara para anunciar na tarde desta sexta-feira (30), em uma cerimônia solene, a anexação de áreas do leste e do sul da Ucrânia. Mas em Kupiansk (nordeste), as tropas ucranianas continuam forçando o adversário a recuar, ameaçando inclusive os eixos de abastecimento. As forças russas estão “parcialmente cercadas” na cidade de Lyoman, reconheceu um importante líder separatista.

Praça Vermelha, em Moscou, é preparada para cerimônia marcada por Vladimir Putin para oficializar anexação de territórios ucranianos, nesta sexta (30/09/2022).
Praça Vermelha, em Moscou, é preparada para cerimônia marcada por Vladimir Putin para oficializar anexação de territórios ucranianos, nesta sexta (30/09/2022). © Alexander Zemlianichenko / AP
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Moscou esclareceu que as fronteiras das novas regiões que pretende anexar nesta sexta-feira ainda serão “esclarecidas”. O setor de Kharkiv, um dos primeiros objetivos da invasão, continua resistindo às ações do Kremlin, cujas tropas foram obrigadas a recuar após a contraofensiva de Kiev no início de setembro.

A operação prossegue com a retomada da cidade de Kupiansk, às margens do rio Oskil, constataram os correspondentes da AFP na quinta-feira (29). Tanques e blindados ucranianos operavam sem entraves pela cidade industrial, que há poucas semanas era um ponto central da logística russa.

A cidade tem uma ponte, atualmente muito danificada, que atravessa o rio Oskil, e uma linha ferroviária utilizada para abastecer as tropas russas. "Este é um importante centro ferroviário que se conecta à região de Lugansk e, depois, com a rede ferroviária russa", disse o novo comandante militar ucraniano de Kupiansk, Andriy Kanashevych. "Então, obviamente, em termos de logística e de abastecimento, era importante que eles controlassem", acrescentou.

As forças russas tentaram manter o controle de Kupiansk, apesar do colapso de sua frente de batalha nas proximidades de Kharkiv e de sua retirada catastrófica pelo nordeste da Ucrânia, deixando um rastro de tanques destruídos. Em 19 de setembro, a margem oeste já estava sob controle dos ucranianos, mas a margem leste era cenário de combates violentos.

Civis amedrontados

Na quinta-feira, pela primeira vez a segurança em Kupiansk era considerada suficiente para permitir a distribuição de pacotes de comida para a população. A batalha na cidade provocou cortes de água e de energia elétrica. Muitos civis fugiram, o que deixou Kupiansk com entre 10% e 15% da população que tinha antes da guerra (27.000 habitantes), segundo Kanashevych.

Os civis estão apenas começando a sair às ruas. "Foi realmente muito difícil. Estávamos aterrorizados. Sem água, sem luz, sem gás, sem conexão com a internet", disse Liudmila Nagaitseva, de 52 anos.

A rapidez com que Kupiansk caiu nos primeiros dias da invasão, em fevereiro, alimentou suspeitas de que parte da população de língua russa da região estava favorável a Moscou. A maioria dos moradores com quem a AFP conversou parecia aliviada com a libertação da cidade pelas tropas ucranianas.

Maxim Korolevski, um empresário de 30 anos, disse que a cidade foi traída. Ele afirmou que 200 garotos da região se apresentaram ao centro de recrutamento ucraniano no primeiro dia da invasão russa, 24 de fevereiro, e foram informados para retornar no dia seguinte.

"Mas em 25 de fevereiro, os tanques russos com suas bandeiras e seus soldados já estavam aqui. O que poderíamos fazer? Nada", afirmou, antes de acusar o ex-prefeito da cidade, Guennadi Matsegora (pró-Moscou). "Qualquer opinião pró-Ucrânia era punida pela Rússia", recordou, ao mencionar operações de busca e ameaça.

Troca de acusações sobre ataque a civis

A Ucrânia e as tropas da Rússia trocaram acusações nesta sexta-feira sobre um bombardeio contra um comboio de carros civis no limite entre a zona ucraniana e a região ocupada de Zaporíjia, no sul do país, um ataque que deixou pelo menos 23 mortos e 50 feridos.

As forças de ocupação russas também informaram que um funcionário do governo da região vizinha de Kherson, ligado a Moscou, morreu em um bombardeio ucraniano.

Parcialmente sob controle russo, Kherson e Zaporíjia, são duas das quatro regiões que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pretende anexar nesta sexta-feira.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chamou a Rússia de "Estado terrorista" e "escória sanguinária" após o ataque contra o comboio de civis. "Apenas terroristas completos poderiam fazer isso e não deveriam ter espaço no mundo civilizado", disse Zelensky. "Vocês definitivamente responderão por cada vida ucraniana perdida", afirmou. 

"O inimigo executou um ataque com foguete contra um comboio humanitária de civis, pessoas que estavam na fila para seguir até a zona temporariamente ocupada, encontrar parentes, receber ajuda", afirmou mais cedo pelo Telegram o governador ucraniano da região, Oleksandr Starukh. "Queimem no inferno, malditos russos", acrescentou.

Já as autoridades pró-Rússia da região acusam o governo ucraniano pelo ataque. O bombardeio aconteceu na área da cidade de Zaporíjia, relativamente próximo do ponto de passagem entre a parte da área controlada pelos ucranianos e o setor ocupado pelo exército russo.

Uma fonte do Kremlin também acusou as tropas ucranianas de atacar os veículos para impedir que estes civis entrassem na zona ocupada. "As forças ucranianas atacaram nosso povo, que estava em uma fila", acusou um comandante da ocupação regional, Vladimir Rogov, que também citou 23 vítimas fatais. "O regime de Kiev está tentando retratar o que aconteceu como um bombardeio das tropas russas, recorrendo a uma provocação hedionda", disse.

Os dois lados divulgaram imagens de cadáveres e de carros destruídos no ataque.

Em Kherson, um funcionário da ocupação russa morreu na quinta-feira à noite em um bombardeio ucraniano, anunciaram as autoridades locais. Alexei Katerinichev, um dos comandantes da segurança na região, morreu em um "bombardeio preciso" das forças ucranianas, com dois mísseis lançados por um sistema HIMARS contra sua residência, informou Kirill Stremoossov, vice-chefe da região controlada por Moscou, citado pela agência russa de notícias TASS.

Com informações da AFP

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