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Dirigente norueguesa critica Catar no Congresso da Fifa, cita direitos humanos e Comitê rebate

Um dia antes do sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2022, uma cena chamou a atenção em pleno Congresso da Fifa realizado em Doha, no Catar, nesta quinta-feira (31). A presidente da Federação de Futebol da Noruega (NFF), Lise Klaveness, foi ao palco durante o evento e fez críticas ao país-sede da competição, citando os problemas de direitos humanos, as mortes de trabalhadores nas construções dos estádios e a questão dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+.

Congresso da FIFA em Doha no Catar. Em 31 de março de 2022.
Congresso da FIFA em Doha no Catar. Em 31 de março de 2022. © Tiago Leme - RFI
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Tiago Leme, de Doha especial para a RFI 

O discurso forte da dirigente, que cobrou a Fifa, foi um choque para muitos que estavam presentes no auditório, entre eles o presidente da entidade que comanda o futebol mundial, Gianni Infantino, e cerca de 600 dirigentes das 211 associações nacionais de futebol.

“Em 2010, a Fifa decidiu quem organizaria esta Copa do Mundo de uma maneira inaceitável e com consequências inaceitáveis",disse Lise Klaveness. "Direitos humanos e democracia não estavam no time titular até muitos anos depois. Esses direitos básicos foram deixados na reserva. A Fifa abordou essas questões posteriormente, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido”, acrescentou.

“Os imigrantes e os trabalhadores feridos e as famílias daqueles que morreram na preparação para a Copa do Mundo devem receber cuidados. Não pode haver espaço para empregadores que não garantam a liberdade e a segurança dos trabalhadores da Copa do Mundo. Não pode haver espaço para líderes de países que não podem ser sedes do futebol feminino. Não pode haver espaço para anfitriões que não podem garantir legalmente a segurança e o respeito das pessoas LGBTQ+ que vêm a este teatro dos sonhos”, completou.

A dirigente da Noruega lembrou das condições precárias dos trabalhadores que atuam nas obras dos novos estádios e estrutura da Copa. Esses imigrantes, a maioria de países como Índia, Bangladesh, Nepal, Paquistão e Sri Lanka, estariam sofrendo abusos de direitos humanos. Em fevereiro de 2021, o jornal britânico The Guardian inclusive publicou uma reportagem dizendo que pelo menos 6.500 trabalhadores morreram desde que o país virou sede do torneio. O Comitê Organizador da Copa do Mundo, porém, diz que esses números são menores.

Reação do Catar

Logo na sequência o secretário-geral do Comitê Organizador da Copa, o catari Hassan Al Thawadi, rebateu as declarações e discordou das críticas de Klaveness, situação que gerou certa agitação e polêmica no Congresso.

“Faz 12 anos que o meu país ganhou o direito de ser sede da Copa. E desde então, passou por uma grande transformação humana, econômica e cultural. Eu quero expressar meu desapontamento com a senhora presidente da Federação da Noruega, que não nos visitou, não tentou falar conosco, não tentou dialogar antes do Congresso de hoje. Sempre estivemos abertos ao diálogo, sempre aceitamos as críticas. Nossas portas vão continuar abertas para quem estiver disposto a entender o contexto antes de prejulgar”, afirmou Al Thawadi.

Quem também rebateu Lise Klaveness foi o representante da Federação Hondurenha de Futebol, Jose Ernesto Mejía. Por fim, o presidente Gianni Infantino, também foi ao palco e discursou sobre o assunto polêmico, destacando o papel da Fifa e a evolução que o Catar vem passando nos últimos anos, após ter sido escolhido como sede do Mundial.

“O tema dos direitos humanos foi suscitado imediatamente após a concessão da Copa ao Catar. Em uma das minhas primeiras viagens que fiz para Doha, após ser eleito presidente, foi para falar com o primeiro-ministro, oficiais do governo, e abordar a temática dos direitos dos trabalhadores. Acredito, pessoalmente, que a única forma para alcançarmos mudanças duradouras é através do diálogo. Devemos condenar a violência e buscar parcerias. Existe mais trabalho a ser feito, mas muito foi alcançado e devemos reconhecer”, disse Infantino.

Rússia suspensa por causa da guerra

Outro destaque do Congresso da Fifa, nesta quinta-feira, foi a punição à seleção da Rússia, que foi impedida de disputar a Copa do Mundo de 2022 por causa da guerra na Ucrânia. Gianni Infantino também falou sobre o assunto. “Vivemos num mundo agressivo, um mundo dividido. Mas, como vocês sabem, eu sou um crente no poder do futebol de unir as pessoas e derrubar as barreiras. Meu pedido a todos os que têm algum poder, alguma posição importante politicamente: por favor, parem os conflitos e as guerras”, afirmou o presidente da Fifa, que acrescentou.

“Nós tivemos que suspender a Rússia e os times russos das competições. Não é uma decisão fácil. Porque é punir pessoas que amam o futebol como todas as outras. Tivemos que tomar a decisão e agora temos que olhar para a frente e esperar que o conflito acabe. Trazer um pouco de paz”, concluiu.

A Rússia disputaria a repescagem europeia das eliminatórias da Copa contra a Polônia, mas foi eliminada sem entrar em campo. A suspensão foi aplicada apenas contra a seleção nacional e clubes. Com isso, a Federação de Futebol da Rússia continua filiada à Fifa e membros da entidade participaram normalmente do Congresso em Doha. Já o presidente da Federação de Futebol da Ucrânia, Andriy Pavelko, não pôde viajar ao evento no Catar e enviou uma mensagem gravada em vídeo, em que ele está nas ruas da capital Kiev usando um colete à prova de balas.

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