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Apagões de até 10 horas: crise energétina na China já afeta atividade industrial

Pela primeira vez desde o início da pandemia, a atividade manufatureira da China caiu no mês de setembro. O motivo foram os apagões que atingiram cerca de vinte províncias nos últimos meses, obrigando as indústrias a reduzirem sua produção. É a primeira vez que o gigante oriental enfrenta uma crise energética desta amplitude, com até oito cortes de energia por dia e períodos de dez horas sem eletricidade.

China passa por crise energética nunca vista no país, com cortes de energia em mais de vinte províncias. Na foto, rede elétrica de Pequim
China passa por crise energética nunca vista no país, com cortes de energia em mais de vinte províncias. Na foto, rede elétrica de Pequim AFP - LEO RAMIREZ
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De Dominique Baillard, da RFI

Em alguns arranha-céus, os moradores são obrigados a subir pelas escadas, já que o elevador foi desligado para reduzir o consumo de eletricidade. Na província de Guandong, no sul do país, o governo pede que as pessoas abdiquem do ar-condicionado apesar das altas temperaturas e desliguem as luzes, aproveitando a iluminação natural.

Em várias grandes cidades do norte, a iluminação pública e os semáforos foram cortados no último fim de semana, causando enormes engarrafamentos de trânsito.

Setores que dependem mais intensamente de energia elétrica, como as usinas de cimento e alumínio, trituradores de soja e fábricas de fertilizantes, já reduziram suas expectativas de produção para este ano devido à escassez energética.

Em Dongguan, um centro industrial de Guangdong, os trabalhadores foram pressionados a trabalharem ao máximo nos horários com energia, mesmo que seja por toda a madrugada.

"Ontem trabalhamos a noite toda e hoje trabalharemos novamente toda a noite", contou Cui, um funcionário de uma fábrica de sapatos que teve que interromper parte de sua produção diurna por causa dos apagões. "É claro que estamos frustrados, mas vamos de acordo com os horários em que a energia é cortada", acrescentou o homem, que não revelou seu nome completo.

A falta de energia é explicada pelo aumento vertiginoso dos preços do carvão no mercado internacional somado à intensa demanda mundial por produtos chineses, após meses parados pela pandemia.

Indústria baseada no carvão e no gás

Na China, 60% da eletricidade é produzida a partir do carvão, e a segunda maior fonte de energia é gás natural. O preço destes dois hidrocarbonetos está em alta, o que explica o aumento mecânico dos preços da eletricidade. A produção chinesa de carvão, sujeita a regras ambientais cada vez mais rigorosas, não consegue acompanhar a procura e as importações são insuficientes.

O país importou o dobro do gás em relação a anos anteriores para reabastecer as suas reservas, mas isto ainda não é suficiente para satisfazer a demanda ampliada pela forte retomada da atividade econômica.

Um outro ponto importante é que o governo chinês decidiu racionar a eletricidade para grandes emissores de carbono, um passo em seu plano para alcançar a meta de eliminar completamente as emissões de carbono na China até 2060.

Contudo, quase uma em cada duas regiões não conseguiu cumprir os objetivos do governo para a redução das emissões de CO2.

Efeitos da crise energética

Enquanto todo o mundo olhava para a falência anunciada pelo promotor imobiliário Evergrande, pouca atenção foi dada à crise de eletricidade que já parava fábricas pelo país. No entanto, os efeitos dela podem ser até mais importantes para as economias do mundo.

O aumento dos preços da eletricidade chinesa poderia levar a uma inflação elevada com um pico nos preços agrícolas, o que podem se espalhar como fogo em palha pelo mundo à medida que o inverno chinês se aproxima, estação do ano em que mais energia é necessária para aquecer as casas.

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