Negociações na COP 22 estão travadas por cobrança da China aos países ricos
A um dia do encerramento da 22ª Conferência do Clima das Nações Unidas, em Marrakech, as negociações para a publicação de um texto com avanços na regulamentação do Acordo de Paris estão travadas. O principal ponto de tensão se refere ao financiamento dos projetos de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.
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Da enviada especial a Marrakech
Os países industrializados prometeram destinar US$ 100 bilhões por ano ao Fundo Verde da ONU, a partir de 2020, para ajudar os países em desenvolvimento nas ações de mitigação do efeito estufa (redução das emissões de CO2) e em projetos de adaptação às consequências das mudanças climáticas. Porém, diante do aumento das catástrofes naturais provocadas pelo aquecimento global, alguns países em desenvolvimento e a China, que já descartou recorrer ao Fundo, defendem em Marrakech uma revisão de prazos e contribuições. O grupo, que inclui nações africanas, pressiona os países ricos a definir um cronograma de aportes para o período de 2017 a 2020.
Em entrevista coletiva na noite de terça-feira (16), o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, comentou o impasse. “Foi proposta uma Carta de Marrakech que antecipava algumas metas, alguns compromissos de Paris, mas houve problemas com países desenvolvidos”, disse Sarney Filho. O principal foco de tensão está na questão financeira. “A China e alguns países em desenvolvimento querem antecipar os prazos para a implementação do Fundo de US$ 100 bilhões, mas os países desenvolvidos resistem a essa pretensão”, explicou o ministro. “Não tem nada decidido”, concluiu Sarney Filho.
Acesso limitado ao Fundo Verde
Os países ricos estariam "burocratizando" o acesso ao Fundo Verde e a outros mecanismos de financiamento previstos no Acordo de Paris. A situação é paradoxal, porque os países afetados por catástrofes naturais precisam de ajuda imediata. Nos corredores da COP 22, tanto países africanos quanto emergentes não escondem o descontentamento com as nações industrializadas. Fontes diplomáticas da delegação chinesa dizem que há resistências por parte dos Estados Unidos e de alguns países da Europa em agilizar os depósitos.
O Fundo Verde da ONU conta com pouco mais de US$ 10 bilhões em caixa e financiou até o momento apenas uma dezena de projetos. Países em desenvolvimento, em geral carentes de recursos próprios, sequer têm dinheiro para pagar a elaboração dos projetos técnicos que devem ser submetidos ao Fundo. Sobre a forma de concessão das verbas, os africanos não querem ouvir falar em empréstimo e lutam para receber doações.
Várias instituições financeiras estão inscritas como operadoras do Fundo Verde, entre elas a Agência Francesa de Desenvolvimento, o Banco Mundial e bancos centrais nacionais. "Mas ainda falta criar uma espécie de sistema contábil mundial para definir e verificar se o dinheiro é usado com transparência", explica o francês Pierre Radanne, especialista em questões energéticas e de meio ambiente.
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