"Macron quer afogar a revolta": imprensa francesa analisa estratégia do governo para conter a crise
A crise política e social detonada pela aprovação da contestada reforma da Previdência na França estampa as capas dos principais jornais franceses nesta quarta-feira (22). O país inteiro deve parar no início desta tarde para ouvir a entrevista do presidente Emmanuel Macron a jornalistas de dois canais de TV, mas a imprensa vê com ceticismo a possibilidade de uma marcha à ré do governo.
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O jornal Le Parisien exibe a manchete "Inflexível" sobre uma foto de Macron com uma expressão fechada. Em sua chamada, o diário destaca que "após a adoção do controverso projeto de lei por decreto" e "apesar da crise e das cenas de violência urbana", o presidente francês não prevê qualquer mudança na composição do governo, tampouco uma dissolução da Assembleia de Deputados ou um referendo para ouvir a população.
"Chegou a hora de se explicar, mas para dizer o quê?", questiona Le Parisien, referindo-se à entrevista do presidente nesta tarde aos canais TF1 e France 2. O diário lembra que Macron se reuniu na terça-feira (21) com seus principais ministros e reafirmou sua determinação em aplicar a reforma que, literalmente, incendeia as ruas do país. Ontem à noite, manifestantes voltaram a expressar sua indignação com a atitude do governo, enfrentando as forças de segurança em várias cidades francesas.
Para o jornal de esquerda Libération, não há dúvidas: "Macron quer afogar a revolta". O diário ironiza a tentativa da Presidência de antecipar os anúncios previstos pelo chefe de Estado nesta tarde, deixando vazar a sua principal mensagem. O objetivo é "pacificar o país, apelar à calma e restabelecer o espírito de responsabilidade", diz um membro do Executivo ao diário, sob anonimato.
Aposta arriscada
"Macron quer sobretudo ganhar tempo", escreve o Libération, já que o presidente tem uma agenda internacional carregada nos próximos dias: um encontro dos líderes europeus em Bruxelas na quinta (23) e sexta-feira (24); a visita do rei Charles III no domingo (26), além da preparação de viagens de Estado em abril à China e à Holanda. O Executivo espera que a mobilização popular acabe minguando nas próximas três semanas, período em que o Conselho Constitucional – a mais alta jurisdição administrativa do país – estará avaliando a constitucionalidade da reforma. Entretanto, o diário duvida que, até lá, o presidente tenha encontrado uma saída para a crise social e política.
Mesmo tom do lado do jornal de direita Le Figaro, que destaca o posicionamento reticente de deputados governistas sobre a estratégia do chefe de Estado. Em off, um parlamentar do partido de Macron diz acreditar que a atitude "viril" de insistir na adoção da reforma da Previdência não será aceita pela população. "O governo está sendo visto como duro, hermético, distante", desabafa.
Em entrevista ao Figaro, o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, "homem forte" do primeiro mandato do presidente, alerta sobre os perigos do "imobilismo" e acredita que será necessária uma coalizão entre direita e esquerda para, segundo ele, "estabilizar o jogo político". O ex-premiê apela por uma iniciativa para que a França possa se recuperar, "obter resultados sem tardar" e seguir adiante.
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