Deficientes visuais e auditivos também poderão vibrar com as competições olímpicas

Audiodescrição, coletes vibratórios, tablets sensíveis ao toque... Durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris serão utilizados dispositivos que permitirão aos torcedores com deficiência visual e auditiva vivenciar os eventos esportivos juntos aos demais espectadores nos estádios e centros de competição.

As bandeiras Olímpica e Paralímpica na prefeitura de Paris © Pierre René-Worms / RFI

No fone de ouvido, uma voz descreve aos deficientes visuais tudo o que acontece na Arena de Bercy, uma das instalações esportivas de Paris. Na final da Copa de Basquete da França, realizada no fim do mês de abril, os espectadores cegos puderam acompanhar os jogos graças à audiodescrição. Munidos de um aparelho, eles ouviram um narrador desportivo descrever as ações, enquanto outra voz acrescentava descrições visuais, em um projeto experimental realizado pela empresa Optic 2000 antes dos Jogos Olímpicos.

“O mesmo prazer de quando eu podia enxergar”

Um torcedor do PSG, que estava no evento, diz que costuma acompanhar os jogos pelo rádio, onde os comentários são mais descritivos do que na televisão: “Reconstruo na minha cabeça como as coisas se desenvolvem em campo”, diz ele, que jogou futebol antes de perder a visão em um acidente de trânsito aos 19 anos.

O futebol para cegos, que pratica hoje, lhe proporcionou um círculo social que reúne deficientes visuais e pessoas que podem enxergar, e que acompanham os jogos juntos: alguns em frente à televisão, outros com os ouvidos colados ao rádio. “É um prazer que compartilhamos”, explica.

Pierre-Marie Micheli, também cego desde que sofreu um acidente aos 25 anos, adorou acompanhar o rugby em audiodescrição com o pai. “Não é sempre que consigo compartilhar momentos com minha família sem que isso pese sobre eles. Gostei tanto quanto quando eu enxergava”, diz o homem de 37 anos, que jogava rugby e andava de mountain bike antes do acidente.

Micheli usou um tablet touch com um ímã, que se movia com a bola durante a partida. “Pude sentir com os dedos como a bola saía do campo em tempo real e pude gritar junto com as outras pessoas”, explica sobre a ferramenta, que será utilizada nos Jogos Olímpicos de Paris.

Seis esportes em destaque nos Jogos Olímpicos

Num clima de vuvuzelas e muita agitação na Arena de Bercy, Khaled Kharraz, que é surdo, também pôde desfrutar plenamente do jogo de basquete graças a um colete vibratório que converte sons em vibrações, que depois são transmitidas às suas costas. “Sinto tudo: a bola quicando na quadra, os passos dos jogadores, os gritos da torcida quando há uma cesta. As vibrações são diferentes, então você só precisa observar o que está acontecendo para fazer a conexão”, explica ele. “Gostei muito”, diz, encantado por poder acompanhar o jogo com um amigo.

Ainda pouco difundidos, esses dispositivos são utilizados principalmente em modalidades como futebol, tênis e nas competições paralímpicas. As associações em prol de pessoas com deficiência esperam que os Jogos Olímpicos de Paris acelerem a sua implantação.

Em Paris 2024 haverá a audiodescrição em seis modalidades (futebol, atletismo, judô, natação, tênis e equitação) e em dez modalidades paralímpicas, explica o comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

“Teremos 460 horas de audiodescrição e nos concentramos nos esportes que os especialistas em deficiência visual nos disseram ser os mais interessantes para eles”, disse Ludivine Munos, chefe de integração paralímpica de Paris 2024 à AFP. O tablet touch será implementado em seis instalações dedicadas ao futebol, rugby, basquete e quatro esportes paralímpicos com bola.

(Com RFI)