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Mais de 90% dos judeus na França se sentem ameaçados: governo aposta em conferências para combater antissemitismo

Em meio às mobilizações pró-Palestina nas Universidades, o governo francês lança na segunda-feira (6) “conferências de combate ao antissemitismo”. O aumento do sentimento antissemita alarma a comunidade judaica. Mais de 90% dos judeus na França se sentem ameaçados, de acordo com pesquisa.

A foto mostra uma suástica e as palavras "Shoa blabla" na estrela do "Jardin du Souvenir" (Jardim das Memórias) depois que grafites antissemitas foram descobertos no cemitério de Champagne-au-Mont-d'Or, na França, em 20 de fevereiro de 2019.
A foto mostra uma suástica e as palavras "Shoa blabla" na estrela do "Jardin du Souvenir" (Jardim das Memórias) depois que grafites antissemitas foram descobertos no cemitério de Champagne-au-Mont-d'Or, na França, em 20 de fevereiro de 2019. AFP - JEFF PACHOUD
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O número de atos antissemitas registados na França quase quadruplicou no ano passado, chegando a 1.676. A título de comparação, em 2022 foram registrados 436 atos antissemitas, segundo o Ministério do Interior. O Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França (Crif) lamenta "um surto" deste tipo de ações, após 7 de Outubro, data dos ataques do Hamas contra Israel.

De acordo com uma pesquisa do Instituto de estudos de opinião e marketing (Ifop) para a filial francesa do Comitê Judaico Americano (AJC), publicada domingo (5) no jornal francês Le Parisien, 94% dos franceses de confissão judaica acreditam que o antissemitismo aumentou nos últimos 10 anos (+21 pontos em comparação com 2022).

A mesma pesquisa mostra que 35% dos jovens entre 18 e 24 anos sentem que é normal atacar judeus por causa de seu apoio a Israel.

Em âmbito global, a Liga Anti-Difamação (ADL), o principal grupo que defende os direitos dos judeus, manifestou-se no domingo alarmada com o "nível sem precedentes" de atos antissemitas registados em 2023. Segundo a organização, a guerra entre o Hamas e Israel alimenta um " incêndio que já estava fora de controle.

Para Carole Reyno-Palligo, professora na Universidade de Bourgogne e pesquisadora na Universidade Panthéon Sorbonne, existe uma confusão entre as críticas e a posição política ao governo de Israel e o ódio aos judeus. 

"Alguns slogans, algumas declarações, algumas ações são bastante claras. Efetivamente. No entanto, até os slogans e declarações que não são, acabam acentuando o fenômeno", analisa. Para ela, algumas declarações são ambíguas e por isso "devemos continuar a pesquisar e discutir com a pessoa para saber o que ela realmente pensa. Esta é uma posição política contra a ação de um governo?", questiona. 

"O antissemitismo se manifesta em determinados momentos, sob diferentes formas e por diferentes razões. Portanto, devemos sempre historicizar o fenômeno para melhor compreendê-lo e melhor combatê-lo", defende a pesquisadora. 

"Obviamente há uma relação com o que está acontecendo em Israel e devemos nos concentrar nisso para compreender, lutar, educar e capacitar os jovens que estão mais sujeitos às informações que veem nas redes sociais que não são totalmente verificadas", diz. "Por isso é melhor apoiar estes jovens em vez de estigmatizá-los. Isto é, todo o ambiente educativo, mas em sentido vasto, a escola, mas também o mundo político e associativo, deve participar nesta educação dos jovens", completa. 

Conferências 

Com o aumento de atos antissemitas na França, o governo decidiu tomar medidas. A ministra da luta contra a discriminação, Aurore Bergé, reuniu na manhã de segunda-feira em Paris os dirigentes de diversas associações e representantes religiosos para discutir o assunto. 

Pessoas que foram vítimas do antissemitismo também compartilharão suas experiências.

Trata-se de “lançar trabalhos” para definir “uma base comum de valores republicanos”, explica o ministério, a fim de “reconhecer o antissemitismo tal como é e lutar eficazmente contra este problema”. Serão designadas personalidades para trabalhar nesta “base comum”, explicou o Ministério.

“Quando vemos o grande volume de atos antissemitas (...), é toda a sociedade que deve acordar”, declarou Aurore Bergé na BFM TV-RMC na sexta-feira (3), referindo-se a um “ressurgimento aterrorizante”.

As reuniões acontecem num contexto de mobilização pró-palestina nas universidades, particularmente na Sciences-Po, onde o ativismo estudantil é acusado de alimentar o antissemitismo no campus.

Antissemitismo na política francesa

Desde 7 de outubro, representantes da comunidade judaica acusam regularmente o partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI) de alimentar o antissemitismo, que fez da denúncia às operações israelenses em Gaza um dos principais pontos de sua campanha para as eleições europeias de 9 de junho. 

A líder francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, posou diversas vezes como crítica das ações antissemitas, apesar de seu partido, Reunião Nacional (RN) ser herdeiro da Frente Nacional de seu pai, Jean-Marie Le Pen, processado e condenado por declarações contra os judeus. 

Jordan Bardella, cabeça de lista do RN nas eleições europeias de 9 de junho, teve, no entanto, de reconhecer nos últimos dias que Jean-Marie le Pen fez comentários “altamente antissemitas” durante sua vida.

(RFI e AFP)

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