Acessar o conteúdo principal

"França não assume que cria monstros", diz socialista contra retirada de nacionalidade de terroristas

Cresce na França a polêmica em torno do projeto de destituição da nacionalidade francesa aos cidadãos que tenham o passaporte de um outro país, além do francês, e que tenham cometido crimes ligados à segurança do Estado.  

Se a opinião pública aprova, a ideia de Hollande criou um grande mal estar entre os socialistas.
Se a opinião pública aprova, a ideia de Hollande criou um grande mal estar entre os socialistas. AFP PHOTO JEAN-PIERRE MULLER
Publicidade

A proposta de revisão constitucional vem sendo bastante criticada pela direita e pela esquerda, incluindo a própria bancada socialista. A ideia surgiu depois dos atentados de 13 de novembro passado, em Paris, que mataram 130 pessoas e feriram mais de 300. O drama desencadeou a aplicação de um pacote de medidas de segurança que envolve o estado de emergência e a extensão de poderes extrajudiciais. O presidente François Hollande baseou-se no fato de que vários terroristas, autores dos atentados na capital, tinham dupla nacionalidade, defendendo a iniciativa como um castigo aos que "traem os valores da República".

Socialistas revoltados

As reações negativas ao projeto não tardaram, a começar pela ministra da Justiça francesa, Christiane Taubira, que deve, em teoria, defender a iniciativa do governo. A ministra vem criticando abertamente a proposta, questionando a violação dos direitos fundamentais garantidos com o nascimento. Discriminatória e divisora, é assim que ela define a iniciativa, o que tem até alimentado rumores sobre uma possível demissão.

Em diversas regiões do país, os socialistas manifestam sua revolta. Entrevistada pelo jornal Le Monde, a militante franco-argelina Nassera Bernmania, de Marselha, desabafa: "Estou chocada pelo fato do presidente François Hollande atender a uma velha reivindicação da extrema-direita, validando a distinção entre "francês de raiz" e "francês no papel". A secretária do PS da região de Bouches-du-Rhône, Catherine Chazeau, observa que "o direito de sangue é uma ideia da extrema-direita que os socialistas combateram por muitos anos". A maioria dos políticos da direita também desaprova a ideia.

"Socialistas, nós rejeitamos a destituição da nacionalidade"

A frase acima dá nome à página Facebook criada por membros do Conselho Federal do Partido Socialista do Norte do país, que já recebeu mais de 3.300 assinaturas de apoio.

Em entrevista exclusiva à Rádio França Internacional, o secretário da seção de Roubaix, Mehdi Massrour, ressaltou, em primeiro lugar, que não há dúvidas de que os terroristas devem ser punidos. " Que as coisas sejam claras: na luta contra os terroristas somos a favor de sanções duras e sem concessão, acompanhadas por políticas de prevenção e apoio policial, não há nenhuma dúvida sobre isso e este não é o debate aqui", diz Massrour, analisando que o que incomoda é a ideia de passar para a opinião pública que há dois tipos de franceses, e isso é o que eles condenam.

"Dar a entender que existem franceses nascidos aqui mas tendo uma segunda nacionalidade, que não teriam nenhuma relação com a França, já mostra que a França não assume que também cria monstros; e, em segundo lugar, fica subentendido que, entre os franceses, há os que não são bons. Não podemos aceitar que na Constituição esteja escrito que os franceses não são iguais. Se há uma condenação, deve ser a mesma para todos. Esse projeto é uma porta aberta, e é essa porta que nos incomoda", afirma o político.

Medhi Massrour não deseja entrar no debate se a proposta do presidente Hollande se aproxima das ideias da extrema-direita ou tem intenções políticas. Para ele, a discussão é outra. "Queremos que nosso país assuma que possa gerar monstros de todas as origens, pois há de tudo no terrorismo, e que os franceses são iguais perante a lei", diz o socialista, repetindo que acha insuportável a idea de existir o bom francês e o mau francês. Ele espera que o próximo Congresso Socialista, marcado para 18 de janeiro, defina uma posição contrária dos militantes sobre o assunto.

Opinião pública a favor

A última pesquisa realizada na França aponta que 75% dos franceses são favoráveis à retirada da cidadania aos que têm a dupla nacionalidade e se envolveram em atos terroristas.

Atualmente, apenas cidadãos naturalizados podem ter a cidadania francesa retirada. A proposta do governo amplia a medida a todos os cidadãos com dupla nacionalidade. O projeto será debatido na Assembleia em 3 de fevereiro e, para ser aprovado com maioria, necessita de 3/5 dos votos de deputados e senadores.

 

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.