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França/ terrorismo

Esquerda francesa acusa Hollande de se aproximar da Frente Nacional

A decisão do presidente francês, François Hollande, de apresentar um projeto de mudança constitucional que prevê a retirada da nacionalidade francesa dos condenados por terrorismo é alvo de duras críticas nesta quinta-feira (24). Os ecologistas e aliados do próprio Partido Socialista acusam o presidente de se juntar ao partido de extrema-direita Frente Nacional nessa questão.

No início do mandato, presidente francês, François Hollande, tinha dito que retirada da nacionalidade francesa não estava nos planos do governo.
No início do mandato, presidente francês, François Hollande, tinha dito que retirada da nacionalidade francesa não estava nos planos do governo. REUTERS/Philippe Wojazer
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O projeto anunciado na quinta-feira (23) agitou a política francesa nesta véspera de Natal. O texto inclui os franceses que têm dupla nacionalidade. Uma parte da esquerda argumenta que a medida vai estigmatizar ainda mais os cidadãos de origem estrangeira e, consequentemente, só vai piorar a ameaça terrorista.

A dúvida agora é saber se as críticas vão se traduzir em votos contrários ao projeto do governo, nas votações previstas no Parlamento em fevereiro. O premiê Manuel Valls declarou estar “convencido” de que o texto vai ser aprovado, mas nomes importantes do partido socialista não tiveram pudor em questionar publicamente a medida, como a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e os deputados François Lamy e Pascal Cherki, que pretendem se opor à proposta.

Ecologistas são os mais revoltados

“Votar contra é uma imposição”, reagiu a deputada ecologista Cécile Duflot, ex-ministra de Hollande. Outro histórico líder ecologista, Daniel Cohn-Bendit, disse que “Hollande é o perfeito presidente de direita”.
“É um erro moral, um erro grave. Ao introduzir essa medida, você introduz a desconfiança”, afirmou Cohn-Bendit. “Todos os franceses são iguais, mas há alguns que são um pouco menos”, criticou o eurodeputado.

A ex-juíza e deputada Eva Joly, que disputou as últimas eleições presidenciais contra Hollande pelos Verdes, avalia que o presidente socialista “vai perder a alma e as eleições”. “Acho que é uma medida que não tem nenhuma eficiência prática e não vai combater o terrorismo”, comentou, à rádio Europe 1. “Isso vai dividir os franceses e sacrificar os nossos valores.”

Ampliar a lei atual sobre a nacionalidade francesa

A lei atual prevê que, em caso de crimes de terrorismo, o passaporte dos franceses naturalizados possa ser retirado, ou seja, envolve os estrangeiros que adquiriram a cidadania ao longo da vida. A proposta de mudança constitucional quer expandir a medida para todos os franceses com dupla nacionalidade condenados por crimes terroristas, inclusive os nascidos no país. Pelas leis internacionais, nenhum Estado pode retirar a nacionalidade de uma pessoa que tenha uma única cidadania, porque ela viraria apátrida.

A retirada da nacionalidade foi evocada pela primeira vez por Hollande quatro dias depois dos atentados de Paris, ocorridos em 13 de novembro. No início do mandato, em 2012, ele descartava essa hipótese.

Ministra da Justiça é desautorizada por presidente

A ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, opositora à medida, chegou a dizer que Hollande retiraria o trecho sobre a nacionalidade do projeto de reforma constitucional. A declaração precoce irritou o presidente, foi condenada pela direita, favorável ao projeto, e ainda inflamou as críticas internas no PS, por membros decepcionados com a posição final de Hollande sobre o assunto.

“O governo prefere Marine Le Pen a Christiane. Mais uma vitória ideológica”, ironizou Florian Philippot, vice-presidente da Frente Nacional. O partido de extrema-direita sempre defendeu o fim da nacionalidade francesa para os franceses de origem estrangeira condenados por terrorismo.
 

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