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Espanha/Política

Espanha encerra campanha eleitoral tensa para as eleições legislativas

Os quatro principais partidos políticos espanhóis encerram nesta sexta-feira (18) suas campanhas eleitorais para as eleições legislativas mais tensas e indefinidas desde a restauração da democracia no país, há cerca de 40 anos. A votação é considerada histórica porque deve confirmar nas urnas o fim da hegemonia entre os conservadores do PP e os socialistas do PSOE, com a entrada no parlamento de dois novos partidos anti-austeridade, Podemos e Cidadãos, que representam uma renovação da classe política.

Pedro Sánchez (centro), durante encerramento da campanha do PSOE.
Pedro Sánchez (centro), durante encerramento da campanha do PSOE. Foto: RFI Brasil
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Assim como nas duas semanas de campanha, muitas trocas de acusações marcaram os últimos comícios dos candidtos a ocupar o Paládio La Moncloa, sede do governo espanhol. O clima tenso reflete a apreensão com a  fragmentação política em um novo cenário pluripartidário.

O primeiro-ministro Mariano Rajoy, que pretende ficar mais quatro anos no cargo, encerrou sua campanha com dois comícios: à tarde em Valência, conhecido reduto eleitoral do partido, e à noite no jantar tradicional de Natal do partido em Madri. Nos dois encontros com os militantes, voltou a insistir no perigo que representa para a Espanha ter um governo com partidos de esquerda e martelou que é a garantia de estabilidade do país.

O primeiro-ministro e candidato à reeleição pelo conservador PP, Mariano Rajoy.
O primeiro-ministro e candidato à reeleição pelo conservador PP, Mariano Rajoy. Foto: Reuters

"Se querem que o PP governo, votem no PP que é um valor seguro", afirmou no encontro com mais de seis mil pessoas em Valência, onde nas eleições de 2011 o Partido Popular ficou com 20 das 33 cadeiras em disputa na região, mas que este ano, segundo projeções, não deve ganhar mais que 11.

Governar sem maioria

A situação em Valência é um retrato fiel da dificuldade do partido em nível nacional. O PP, mesmo na liderança em diferentes sondagens, vai perder um número expressivo de cadeiras. Das 350 do Parlamento, poderá nem chegar a 130, o que significa não ter a maioria absoluta para governar, uma situação inédita no país.

Muitos votos do partido migraram para o novato Cidadãos, que encerrou sua campanha em uma praça na região central de Madri para pouco mais de 3 mil pessoas. O partido, de centro direita, é liderado por Albert Rivera, de 36 anos, que soube captar a insatisfação de um eleitorado conservador, mas cansado de escândalos de corrupção e promessas não cumpridas dos partidos tradicionais que se revezaram no poder nas últimas décadas.

"Já estamos há 40 anos com o PSOE e o PP. É preciso uma mudança de caras e de ideologia. Seria uma mudança sensata", diz Carmen, uma aposentada de 62 anos.

Por outro lado, Cidadãos despertou o interesse de uma faixa etária muito jovem, atraída pelo discurso bem definido ideologicamente. “Pensava que não iria votar, mas Albert Rivera me convenceu bastante. Sua proposta de um contrata único de trabalho me parece um grande avanço", diz Gonzalo, de 18 anos, em referência à proposta do Cidadãos para diminuir o alto desemprego na Espanha, acima de 20%, uma das principais preocupações dos eleitores.

Alvaro, estudante de direito, de 18 anos, que também vai votar pela primeira vez, disse que acreditar que o partido pode "mudar a Espanha de verdade", diferentemente de outros partidos.

A Espanha vai mudar ?

Durante seu discurso, para uma plateia exibindo cachecol laranja, cor do partido, Albert Rivera insistiu que as eleições de domingo são uma ótima oportunidade de mudar um vício do sistema político. "Está na hora de acabar com o bipartidarismo que não cuidou da democracia da Espanha", denunciou.

Ele qualificou de "pacto da decadência", a especulação divulgada pela imprensa do país, de que o PP poderia governar a partir de uma grande coalizão com os socialistas. Rivera também negou que depois da votação irá negociar aliança com qualquer partido. "Seremos oposição", garantiu.

"A Espanha precisa de um partido com mãos limpas e sensato", insistiu Rivera, lembrando que o papel do governo não é de criar empregos nem distribuir dinheiro para os mais carentes, mas, sim, de criar as condições para que as empresas gerem oportunidades de trabalho e riqueza. O político que começou a carreira no parlamento local da Catalunha, tem a ambição de governar o país para afastar o "populismo".

As pesquisas de opinião indicam que Cidadãos, com cerca de 19% das intenções de votos, estaria em vantagem na disputa pela posição de terceira principal força política do país com o Podemos, partido de extrema-esquerda criado a menos de dois anos. Seu líder, Pablo Iglesias, encerrou a campanha eleitoral em Valência pedindo que os eleitores continuem as mudanças iniciadas nas eleições regionais e municipais de maio, quando assumiram o poder em cidades em Madri e Barcelona, graças a alianças.

Podemos, que surgiu na esteira do movimento Indignados, conta com experiências bem sucedidas na composição com outras plataformas de esquerda para se firmar no cenário nacional. Em seu programa, pretende mudar a Constituição e garantir que os catalães possam, em referendo, decidir se querem ou não a independência.

"Estamos preparados para assumir o governo e liderar uma nova transição em nosso país”, afirmou Iglesias, de 37 anos, professor de Ciências Políticas e fundador da legenda que inovou na campanha ao promover debates com a população em bares e nas ruas. Com essa forma mais "relaxada" de fazer campanha, ele visou também mostrar ser a melhor alternativa para a massa de eleitores indecisos, estimada em 30%, que ainda não sabem em qual partido irão depositar seu voto e suas esperanças.

Pablo Iglesias, discurda no final de sua campanha, em Valência.
Pablo Iglesias, discurda no final de sua campanha, em Valência. FOTO/Reuters

Indecisos cortejados

Os indecisos, que serão decisivos na composição do futuro parlamento espanhol, também foram alvos do discurso do líder do PSOE, Pedro Sánchez. Diante de 4 mil pessoas acomodadas em um ginásio de esportes en Fuenlabrada, reduto socialista da periferia sul de Madri, o candidato à chefia de governo, de 43 anos, pediu um "voto útil" para enfrentar o trio anti-PSOE.

Apesar de dizer que há três anos se prepara para assumir o cargo de primeiro-ministro, Sánchez teve em apenas  15 dias de campanha a difícil missão de não deixar mais votos dos socialistas migrarem para o Podemos nem para o Cidadãos. E se apresentou como única opção para derrotar o inimigo comum de todos eles: o premiê Rajoy.

Ele disse não ter se arrependido das afirmações polêmicas durante o debate de segunda-feira com o premiê espanhol, ao dizer que a chefia do governo espanhol precisava de um político "decente".

Em seu último comício, além de insistir nos ataques contra a corrupção do governo do PP, Pedro Sánchez lembrou que seu partido foi o que de longe apresentou mais mulheres candidatas nessas eleições.

Ao relembrar suas propostas para resgatar a justiça social no país, como um plano de bolsas de estudos e redução de impostos, o lider repetiu várias vezes que "mais do que nunca, a Espanha precisa dos socialistas".

 

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