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Índia inicia eleições que se encerram apenas em junho e são teste de força para premiê Modi

A partir desta sexta-feira (19) e durante as próximas seis semanas, 970 milhões de indianos comparecem às urnas para as eleições legislativas no país. A população está bastante polarizada entre os que chegam a venerar o atual primeiro-ministro Narendra Modi, chamado de “Grande Santo” ou “Guardião da Pátria”, e os que temem o aumento de medidas consideradas antidemocráticas do premiê, se ele continuar no poder.

Voters line up outside a polling station to vote during the first phase of the general election in Kairana, in the northern Indian state of Uttar Pradesh, India, April 19, 2024.
Eleitores fazem fila para votar na primeira fase das eleições legislativas indianas, em Kairana, no norte do estado de Uttar Pradesh. (19/04/2024) REUTERS - Anushree Fadnavis
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Clea Broadhurst, enviada especial da RFI a Kairana

Eleitores de 21 estados são os primeiros a votar na primeira fase, iniciada nesta manhã, em um total de sete etapas até o dia 1º de junho. O partido ou coligação que obtiver a maioria dos assentos no Lok Sabha, como é chamada a câmara baixa do Parlamento indiano, formará o próximo governo.

Nesta sexta, 102 assentos das 543 cadeiras do Parlamento serão definidos. Os eleitores em Kairana (estado de Uttar Pradesh), onde atualmente governa o Partido Bharatiya Janata (BJP) do primeiro-ministro Narendra Modi, são os primeiros a votar no início da primeira fase das eleições legislativas. Na saída de uma seção eleitoral em uma escola, os eleitores estavam entusiasmados mostrando os dedos indicadores tingidos de azul, prova de que já haviam votado.

“É nosso dever votar. É para o nosso primeiro-ministro. Temos que vir votar se quisermos ter o governo que desejamos”, diz o eleitor Asgar.

Para Khushnuma, uma jovem que vive a mais de 100 quilômetros de Kairana, foi importante fazer o deslocamento para exercer o seu direito: “É minha responsabilidade votar. É por isso que cheguei cedo esta manhã. Minha esperança é que ficaremos em paz e viveremos em harmonia”.

Mulheres comparecem às urnas em Tiruvannamalai, neste 19 de abril de 2024.
Mulheres comparecem às urnas em Tiruvannamalai, neste 19 de abril de 2024. REUTERS - Navesh Chitrakar

Uttar Pradesh é governado pelo BJP, mas alguns eleitores, como Mohamad, avaliam que o governo está dividindo hindus e muçulmanos e agora é hora de mudar. “Temos de salvar a nossa Constituição. Hoje há muitos problemas no nosso país: inflação, desemprego, educação, agricultura. Por isso temos que votar”, afirma.

 

Duas grandes coligações se enfrentam

As eleições ocorrerão em 7.693 seções eleitorais e os resultados serão divulgados no dia 4 de junho. A votação se espalha por 44 dias por razões logísticas e de segurança. Para viabilizar uma eleição tão vasta, foram mobilizados recursos significativos: 41 helicópteros, 84 comboios especiais e quase um milhão de veículos transportam funcionários dos serviços eleitorais e de segurança, além de milhões de urnas eletrônicas.

A Índia é uma democracia multipartidária, mas duas coligações principais competem diretamente para liderar a nação: a Aliança Democrática Nacional (NDA), liderada pelo BJP de Modi, e uma coligação de 26 partidos, chamada Aliança Inclusiva Nacional para o Desenvolvimento da Índia (ÍNDIA), liderada pelo principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano (INC).

Em Uttar Pradesh, por exemplo, 80 candidatos, incluindo sete mulheres, disputam oito vagas nesta etapa inicial, de um total de 80 concedidas ao estado.

O premiê Modi se orgulha que a posição global da Índia melhorou graças ao crescimento da economia do país e às suas relações mais próximas com os Estados Unidos – que querem fazer da Índia a sua aliada contra a China. O primeiro-ministro implementou programas generosos de assistência social, como a distribuição gratuita de cereais a 800 milhões das pessoas mais pobres do país e um subsídio mensal de 1.250 rúpias – ou R$ 78,4 – para mulheres de famílias de baixa renda.

Por outro lado, o INC afirma que o desemprego continua elevado, especialmente entre os jovens, e por isso quer criar mais três milhões de empregos públicos e oferecer mais vagas de capacitação para jovens que abandonaram a universidade.

Teste para a democracia

O aspecto étnico-religioso também pesa na escolha. Grupos minoritários dizem que enfrentam discriminação e ataques e foram forçados a viver como cidadãos de “segunda classe” sob o governo de direita de Modi – uma acusação que o BJP nega.

Estas eleições são particularmente importantes para a democracia indiana, vista como ameaçada desde que Narendra Modi chegou ao poder, há dez anos. Alguns analistas políticos apontam que a oposição corre o risco de quase desaparecer de cena.

As pesquisas apontam o primeiro-ministro como favorito – mas a vitória não está garantida e pode ser mais apertada do que o esperado. Em 2014, havia expectativa de mudança e Modi saiu vitorioso. Depois, as eleições de 2019 ocorreram logo após um ataque terrorista na Caxemira, no que se revelou uma vantagem para um clima de estabilidade com viés nacionalista, de proteção e segurança nacional.

Este ano, a oposição denuncia os riscos à democracia e o apelo nacionalista unificador do BJP não tem mais a mesma força. Entretanto, resta a “marca Modi”, sem dúvida ainda muito poderosa – e é preciso ver se será suficiente para o líder ganhar um terceiro mandato.

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