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Hamas estuda proposta de trégua na Faixa de Gaza apesar da rejeição de algumas exigências palestinas

O movimento islâmico Hamas informou, nesta terça-feira (9), que examina uma proposta de trégua de várias semanas na Faixa de Gaza e a libertação de reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos, apesar da rejeição de algumas de suas exigências. O Conselho de Segurança da ONU vai se pronunciar no fim do mês sobre o pedido de adesão plena dos palestinos à organização.

Palestinos passam diante de prédios destruídos por ataques israelenses em Khan Yunis, em 8 de abril de 2024.
Palestinos passam diante de prédios destruídos por ataques israelenses em Khan Yunis, em 8 de abril de 2024. AFP - -
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Após seis meses de conflito violento na Faixa de Gaza, os mediadores do Catar, Egito e Estados Unidos apresentaram uma proposta de trégua temporária em três etapas, segundo uma fonte do Hamas.

A primeira etapa contempla um cessar-fogo de seis semanas para permitir a troca de reféns sob poder do Hamas por prisioneiros palestinos em Israel. Além da trégua, a proposta inicialmente prevê a libertação de 42 reféns em troca de 800 a 900 palestinos encarcerados por Israel.

O movimento islamista afirmou que "aprecia" o esforço dos mediadores, mas acusou Israel de não responder a nenhum de seus pedidos durante a negociação, sem revelar mais detalhes. "Apesar disso, os líderes do movimento estudam a proposta apresentada", afirmou o Hamas em um comunicado.

O acordo permitiria ainda o retorno dos civis deslocados ao norte da Faixa de Gaza e a entrada de 400 a 500 caminhões de ajuda alimentar por dia no território e o retorno dos habitantes do norte da Faixa de Gaza às suas casas, segundo a fonte do Hamas.

Em rodadas anteriores de negociações com os mediadores, o Hamas exigiu um cessar-fogo, a retirada israelense da Faixa de Gaza e o controle das entregas de ajuda.

A única trégua respeitada até o momento durou uma semana em novembro, quando 78 reféns e centenas de prisioneiros palestinos foram libertados.  

Retirada israelense

Após meses de combates, Israel anunciou no fim de semana que retirou suas forças da cidade de Khan Yunis, no sul, para permitir a recuperação de suas tropas e prepará-las para a próxima fase da guerra, que incluirá uma incursão na cidade de Rafah.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou na segunda-feira (8) que uma data já foi estabelecida para o envio de tropas terrestres a Rafah, onde a maioria dos palestinos deslocados pela guerra está aglomerada.

Potências estrangeiras e organizações humanitárias apelam a Israel para que desista de uma operação em Rafah, pois temem um grande número de civis mortos.

Netanyahu e seus comandantes militares, no entanto, insistem que é necessária para a vitória sobre o Hamas.

O governo dos Estados Unidos - principal aliado de Israel - insistiu que uma incursão em Rafah "prejudicará a segurança israelense".

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, considerou que este é o "momento apropriado para uma trégua", apesar dos bombardeios contínuos em Gaza.  

"Montanha de escombros"

Os palestinos que retornam a Khan Yunis, ao norte de Rafah, encontram montanhas de escombros onde antes existiam casas e estabelecimentos comerciais.

"Vim para ver minha casa e a encontrei destruída e transformada em uma montanha de escombros", lamentou Uum Ahmad al-Fagawi, na cidade de Khan Yunis. "Estou chocada com o que vi, todas as casas estão destruídas, não apenas a minha", acrescentou.

Outra palestina disse que encontrou a área "em ruínas". "Não há água, nem energia elétrica, paredes ou portas, não há nada. Gaza não é mais Gaza", contou.

Palestinians inspect the site of an Israeli airstrike on a building, amid the ongoing conflict between Israel and the Palestinian Islamist group Hamas, in Rafah, in the southern Gaza Strip April 2, 20
Palestinos inspecionam o local de um ataque aéreo israelense a um prédio, em meio ao conflito contínuo entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 2 de abril de 2024. REUTERS - Mohammed Salem

Israel enfrenta uma grande pressão internacional para conceder uma trégua e facilitar a entrada de mais ajuda humanitária no território palestino, que está sob risco de fome.

Desde os ataques de 7 de outubro que provocaram a guerra, os moradores de Gaza enfrentam a escassez de alimentos, água e outras necessidades básicas.

A grave escassez de produtos foi aliviada de maneira mínima pela ajuda internacional, mas grupos humanitários alertam que o território está à beira da fome porque a ajuda que consegue entrar no território é insuficiente.

Na segunda-feira, 419 caminhões entraram no território, o número mais elevado em apenas um dia desde o início da guerra, segundo o organismo israelense que administra o ingresso de ajuda em Gaza.

Negociações 

A guerra começou em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e executou um ataque sem precedentes, no qual assassinou 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.

Os combatentes palestinos também sequestraram mais de 250 pessoas, das quais 129 ainda estão retidas em Gaza, incluindo 34 que as autoridades israelenses acreditam que foram mortas.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva que matou 33.207 pessoas em Gaza, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde desse território palestino, governado pelo Hamas.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, exigiu na semana passada que Netanyahu adotasse medidas para proteger os civis de Gaza e para alcançar um cessar-fogo.

Com a proposta mais recente nas mãos do movimento palestino, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, afirmou que "depende do Hamas" alcançar uma trégua.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, disse à BBC que está "mais otimista hoje do que há alguns dias", mas destacou que "não estamos na reta final das negociações".

Adesão palestina à ONU

O Conselho de Segurança da ONU vai se pronunciar no fim do mês sobre o pedido de adesão plena dos palestinos à organização, um processo histórico, ao qual Israel se opõe, informou a embaixadora de Malta, Vanessa Frazier, que ocupa a presidência rotativa do órgão.

Em setembro de 2011, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, deu início aos trâmites, não concluídos. Em novembro de 2012, os palestinos alcançaram o estatuto de "Estado observador não membro" da ONU.

Na semana passada, os palestinos refizeram o pedido ao Conselho de Segurança, que iniciou nesta segunda-feira (8) o processo de avaliação. "É um momento histórico", ressaltou o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, apesar de a adesão ser improvável.

Para o pedido ser aprovado, é necessária uma recomendação positiva do Conselho de Segurança, com pelo menos nove votos a favor e sem o veto de nenhum membro permanente. Em seguida, é necessário o voto a favor de dois terços da Assembleia Geral.

Analistas não acreditam que a iniciativa vá superar a etapa do Conselho de Segurança, instância na qual os Estados Unidos já se opuseram em 2011. "Nossa posição não mudou", ressaltou hoje o vice-embaixador americano, Robert Wood, insistindo em que o reconhecimento de um Estado palestino têm que ser feito no âmbito de um acordo com Israel.

O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, criticou o pedido palestino e disse que sua simples avaliação "já representa uma vitória" para aqueles que cometeram e apoiaram os ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro.

(com informações de agências)

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