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Exército israelense admite "erros graves" no ataque contra comboio humanitário que matou sete pessoas em Gaza

O exército israelense disse na sexta-feira (5) que tinha como alvo um “homem armado do Hamas” que disparou do teto de um dos caminhões de ajuda humanitária para justificar o ataque que matou sete trabalhadores humanitários em Gaza. Na operação, o exército admitiu ter cometido uma série de “erros graves”.

Um homem olha o veículo em que viajavam colaboradores da ONG World Central Kitchen (WCK), mortos pelo exército israelense, que admitiu "erros graves". 2/4/24
Um homem olha o veículo em que viajavam colaboradores da ONG World Central Kitchen (WCK), mortos pelo exército israelense, que admitiu "erros graves". 2/4/24 © Ahmed Zakot / Reuters
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Os trabalhadores humanitários foram mortos na noite de segunda-feira por três ataques israelenses lançados no espaço de quatro minutos contra o comboio na Faixa de Gaza, onde Israel está em guerra contra o movimento islâmico palestino Hamas.

A equipe que operava os drones responsáveis pelos ataques cometeu um “erro operacional no julgamento da situação” ao avistar um “atirador do Hamas” disparando do teto de um dos caminhões de ajuda em que viajavam colaboradores da ONG americana World Central Kitchen (WCK), de acordo com uma investigação interna do exército.

O exército, que se refere a “violações dos procedimentos operacionais normais”, também reconheceu que a WCK comunicou o seu plano de rota, mas os soldados encarregados dos ataques não o tinham em mãos.

Numa entrevista coletiva no quartel-general do exército, em Tel Aviv, oficiais superiores israelenses mostraram aos jornalistas imagens de drones com cenas de um suposto "agente do Hamas" juntando-se ao comboio WCK, que viajava para Gaza durante a noite de segunda para terça-feira, pouco depois das 22h00 (hora local).

Duas demissões

Grandes logotipos WCK estampavam os tetos dos veículos, mas a câmera do drone não conseguia vê-los na escuridão, disse o general aposentado Yoav Har-Even, que está liderando a investigação. “Esse foi um fator-chave na sequência de eventos”, disse ele.

As mortes dos trabalhadores humanitários provocaram uma onda de indignação, com o presidente dos EUA, Joe Biden, apelando na quinta-feira ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que ordenasse um “cessar-fogo imediato” num telefonema tenso.

O general Har-Even reconheceu que “os três ataques aéreos aconteceram em violação dos procedimentos operacionais normais”.

Aqueles que os aprovaram "estavam convencidos de que tinham como alvo agentes armados do Hamas, e não funcionários da WCK", indica um comunicado de imprensa do exército, tendo o general Har-Even mencionado uma confusão que levou o comando a pensar que os veículos do comboio "tinham sido apreendidos pelo Hamas".

Dois oficiais envolvidos nesse erro, um coronel da reserva e um comandante da ativa, serão demitidos, de acordo com o relatório do general Har-Even.

Os trabalhadores humanitários - três britânicos, um canadense, um polonês, um australiano e um palestino - foram mortos após supervisionarem o descarregamento de um navio que transportava 300 toneladas de ajuda alimentar de Chipre para um armazém subterrâneo.

Mas enquanto dirigiam para o sul, às 23h09 (horário de Israel, 22h09 em Gaza) do dia 1º de abril, o drone "atingiu um carro e identificou pessoas saindo do veículo e entrando no segundo carro", disse o general Har-Even.

“Eles decidiram atirar, o que vai contra os procedimentos operacionais padrão. Depois atiraram no terceiro carro”, continuou o policial. “Eles acreditavam que os veículos eram do Hamas com base em erros de julgamento e categorização operacional”, acrescentou.

Falha de Comunicação   

"É uma tragédia. É um erro grave pelo qual somos responsáveis", declarou o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz do exército israelense, falando de "um megaevento (...) que não deveria ter acontecido. Vamos garantir que isso nunca aconteça novamente”, acrescentou.

O comboio viajava à noite, principalmente para evitar multidões em torno dos transportes de ajuda alimentar, que degeneraram várias vezes em confrontos mortais em Gaza.

O exército israelense “coordenou com sucesso milhares de comboios de ajuda humanitária para Gaza”, disse o almirante Hagari, acusando também o Hamas de ter sequestrado caminhões de ajuda.

Mas, segundo o general Har-Even, houve uma falha na comunicação sobre o comboio na cadeia de comando militar, o que pode ter levado aos ataques.

A WCK forneceu todas as informações necessárias, mas não foram transmitidas, acrescentou: “o maior erro é que (a equipe de drones) não tinha um plano de coordenação” entre a WCK e o exército.

O general informou o fundador da WCK, o renomado chef hispano-americano José Andrés, na sexta-feira sobre os resultados iniciais da investigação, antes que tais informações sobre as circunstâncias dos ataques fossem divulgadas de forma mais ampla.

Andrés chamou o ocorrido de “ataque israelense direcionado” contra a equipe. Segundo a ONU, cerca de 200 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza em seis meses de guerra, quase três vezes mais do que em qualquer outro conflito num ano.

O vice-ministro polonês das Relações Exteriores¸ Andrzej Szejna, indicou ter pedido um inquérito a Israel por “homicídio”.

ONGs internacionais alertaram na quinta-feira sobre a quase impossibilidade de se trabalhar em Gaza, seja por motivos de segurança ou por causa da ajuda humanitária bloqueada na fronteira.

(com AFP)

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