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“Não há maneira segura de distribuir ajuda" ao norte de Gaza, denuncia jornalista palestino

No norte da Faixa de Gaza, as raras distribuições de alimentos acontecem de forma caótica. Se nada mudar, a fome nesta região do enclave será inevitável. Nesta sexta-feira (29), Israel criticou um relatório das Nações Unidas que alerta para a situação de fome em Gaza, dizendo que a avaliação continha imprecisões, fontes questionáveis ​​e lacunas.

Palestinos recolhem seus pertences dos escombros de um prédio residencial, após um ataque aéreo israelense no campo de refugiados de Maghazi, centro da Faixa de Gaza, sexta-feira, 29 de março de 2024.
Palestinos recolhem seus pertences dos escombros de um prédio residencial, após um ataque aéreo israelense no campo de refugiados de Maghazi, centro da Faixa de Gaza, sexta-feira, 29 de março de 2024. AP - Ismael Abu Dayyah
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Não há caminhões suficientes que chegam ao norte da Faixa de Gaza e os esforços de famílias influentes para organizar a distribuição de alimentos foram sabotados pelo Exército israelense, segundo os palestinos.

Num vídeo publicado no Instagram, o jornalista Abdelkader Sabbah explica como o exército israelense é suspeito de dificultar a segurança e o armazenamento de ajuda humanitária na parte norte do enclave.

Ele explicou, em entrevista para o site da Franceinfo, que a distribuição de ajuda humanitária se tornou caótica. Os comboios eram parados na estrada algumas centenas de metros após o bloqueio militar israelense e eram pilhados por milhares de pessoas em detrimento das comunidades mais ao norte, que tinham dificuldade em aceder à ajuda. “O exército israelense não gostou desta situação”, afirma o jornalista.

A ONU pediu, portanto, há algumas semanas, aos chefes de família influentes de Gaza, que permitissem que os caminhões avançassem e chegassem às comunidades do norte do enclave.

"Conseguimos que as comunidades e os bairros se organizassem. Não foi fácil, o setor é extremamente perigoso", avalia Georgios Petropoulos, que lidera a coordenação da ONU em Gaza. "É difícil para as pessoas que estão neste nível de desespero e fome serem pacientes e disciplinadas em torno de uma organização que tem sido mais complicada do que o esperado. Não sabemos quanto tempo isso vai durar”, lamentou.

"Inicialmente esperávamos trazer 40 caminhões por dia. Queríamos inundar o norte com alimentos. E, na verdade, temos entre sete e oito caminhões a cada dois dias”, acrescentou.

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Israel mudou a situação

De acordo com Abdelkader Sabbah, os clãs no norte de Gaza começaram a proteger os comboios em coordenação com a polícia do Hamas. Eles permitiram que a ajuda humanitária chegasse ao norte para ser armazenada. Mas ele garante que o exército israelense atacou os responsáveis.

“O exército israelense não gostou desta situação, por isso bombardeou a maior parte dos armazéns que continham os alimentos. Já não havia qualquer forma segura de distribuir a ajuda porque o exército não permitia que ninguém a protegesse”, lamenta.

“Porque quando a segurança tentava estar presente nos cruzamentos próximos à chegada dos caminhões, eles eram bombardeados. No mês passado, por exemplo, houve tentativas de garantir a chegada de ajuda, mas as pessoas foram bombardeadas”, afirma.

“Os serviços de segurança começaram a afastar-se dos caminhões”, continua Abdelkader Sabbah, “e as pessoas começaram a correr de volta para os veículos e a levar o que podiam”.

Coordenadores palestinos e oficiais da polícia foram mortos pelos israelenses nos últimos 15 dias. O exército israelense teria tentado recrutar, sem sucesso, famílias para garantir comboios privados e afirma que não impõe limites à ajuda humanitária.

Neste contexto caótico, no final de março, o Programa Alimentar Mundial ainda conseguiu fazer passar sete caminhões para o norte de Gaza.

Israel denuncia relatório da ONU

Israel denunciou nesta sexta-feira (29) um relatório das Nações Unidas que alertava para a fome iminente em Gaza, dizendo que a avaliação continha imprecisões, fontes questionáveis ​​e lacunas.

De acordo com o relatório do Quadro Integrado de Classificação de Segurança Alimentar (IPC) divulgado na semana passada, um em cada dois residentes no território palestino vive uma situação alimentar catastrófica, particularmente no norte da Faixa de Gaza, ameaçado pela fome, conclusões que despertaram a preocupação da comunidade internacional.

Israel “reconhece as consequências infelizes da guerra para a população civil de Gaza”, afirmou o órgão do Ministério da Defesa de Israel que coordena as atividades civis do Exército nos territórios palestinos (Cogat).

Mas Israel não é responsável pela distribuição de alimentos em Gaza, acrescentou, acusando as agências da ONU de serem incapazes de lidar com a quantidade de ajuda que chega lá todos os dias.

 “O tempo todo, centenas de caminhões ficam presos no lado de Gaza, no ponto de passagem de Kerem Shalom, depois de terem sido totalmente processados ​​pelas autoridades israelenses”, acrescenta Cogat.

Cogat também questionou a precisão de uma linha do relatório que dizia que uma média diária de 500 caminhões, incluindo 150 transportando alimentos, chegavam a Gaza antes do início da guerra, em 7 de outubro, em comparação com 60 caminhões de alimentos depois. “Antes da guerra, apenas 70 caminhões por dia transportavam alimentos, em média”, escreveu Cogat, sem fornecer uma fonte.

Israel também criticou o fato de a avaliação do IPC citar o número de vítimas relatado pelo Ministério da Saúde do Hamas, dizendo que os membros da organização classificada como "terrorista" por Israel tinham um "interesse estratégico" em fornecer informações enganosas.

(RFI e AFP)

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