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Reações internacionais apontam ‘ilegitimidade’ na reeleição de Putin com 87% dos votos na Rússia

Vladimir Putin foi reeleito em grande parte e sem surpresa como presidente russo para um quinto mandato no domingo (17). De acordo com os números iniciais, Putin venceu a eleição presidencial com 87% dos votos, um resultado que garante seu triunfo, na ausência de uma oposição dizimada pela repressão e que nem sequer conseguiu apresentar um candidato. Esse resultado, obtido em uma pesquisa do instituto oficial Vtsiom, foi anunciado na televisão estatal horas depois do encerramento das urnas. 

O presidente russo, Vladimir Putin, participa da votação eletrônica no processo de eleição presidencial no estado de Novo-Ogaryovo, dia 15 de março.
O presidente russo, Vladimir Putin, participa da votação eletrônica no processo de eleição presidencial no estado de Novo-Ogaryovo, dia 15 de março. © AP - Pavel Byrkin, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP
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O ex-Presidente russo, Dmitri Medvedev, saudou a "vitória retumbante" de Vladimir Putin nas eleições presidenciais russas, enquanto a televisão estatal destacou "o apoio colossal" obtido pelo mestre do Kremlin. E, de acordo com a comissão eleitoral russa, ele obteve 87,97% dos votos após 24% das seções eleitorais terem sido contadas. Esse é um recorde para o homem que sempre obteve entre 64% e 68% dos votos em eleições anteriores.

“Parabenizo Vladimir Putin pela sua vitória retumbante”, escreveu Medvedev, número 2 no conselho de segurança russo e que ocupou a presidência de 2008 a 2012, com Vladimir Putin como primeiro-ministro.

O governo insistiu antecipadamente que o povo russo deveria estar "unido" em torno de seu líder, retratando o conflito ucraniano como uma conspiração ocidental para destruir a Rússia.

O ataque à Ucrânia, lançado por Putin em fevereiro de 2022 e sem fim à vista, apesar de dezenas de milhares de mortes, foi o pano de fundo da votação, especialmente porque os ataques ao território russo se multiplicaram nesta semana.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky descreveu Putin como um homem "embriagado pelo poder" que quer "governar para sempre". 

“Hoje em dia, o ditador russo está mais uma vez fingindo uma eleição. É óbvio para todos no mundo que este personagem, como tem acontecido muitas vezes ao longo da história, está embriagado de poder e está fazendo de tudo para governar para sempre”, disse Zelensky.

Ele continuou: "Não há legitimidade nestas eleições falsas e não pode haver nenhuma. Esta pessoa deveria ser julgada em Haia (sede do Tribunal Penal Internacional). É isso que devemos garantir", acusou.

EUA e outras reações internacionais 

“Estas eleições não são claramente nem livres nem justas, dada a forma como Putin prendeu os seus oponentes políticos e impediu que outros concorressem contra ele”, emitiu em nota a Casa Branca.

A Polônia, por sua vez, considerou que a eleição presidencial "não foi legal, livre e justa". Na Rússia, as autoridades não deixaram espaço para os opositores do governo: os três outros candidatos selecionados estavam todos alinhados com o Kremlin, seja em relação à Ucrânia ou à repressão que culminou com a morte de Alexei Navalny em uma prisão no Ártico em fevereiro.

Diante desse cenário, a esposa do falecido crítico número 1 de Vladimir Putin, Yulia Navalnaya, convocou seus apoiadores a comparecerem em peso e votarem contra o presidente russo ao mesmo tempo, ao meio-dia de domingo. Ela votou após várias horas de espera em meio a uma enorme multidão na embaixada russa em Berlim. "Escrevi (na cédula de votação) o nome 'Navalny' porque não é possível (...) que um mês antes das eleições, o principal oponente de Putin, que já está na prisão, seja morto", disse ela à imprensa após votar.

A equipe de Navalny reagiu logo a seguir ao resultado divulgado pela mídia estatal, afirmando que a pontuação de votos de Putin nas eleições presidenciais russas “não tem ligação com a realidade”.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha escreveu na rede X que "a pseudo-eleição na Rússia não é livre nem justa, o resultado não surpreenderá ninguém. O regime de Putin é autoritário, baseia-se na censura, na repressão e na violência. A 'eleição' nos territórios ocupados da 'Ucrânia é nula e sem efeito e mais uma violação do direito internacional".

Na mesma rede, David Cameron, secretário de Estado das Relações Exteriores do Reino Unido e da Commonwealth declarou que "Londres lamenta falta de eleições “livres e justas” na Rússia" e acusou o Kremlin de realizar ilegalmente o pleito em território ucraniano, enquanto mais cedo a página oficial do ministério disse que "o Reino Unido continuará a fornecer ajuda humanitária, econômica e militar aos ucranianos que defendem a sua democracia".

Greves e incursões 

A porta-voz da diplomacia russa, por sua vez, afirmou que os eleitores que se deslocaram em massa às embaixadas, como em Paris, Londres e Berlim, não eram apoiantes da oposição.

“Eles vieram votar, aproveitando a oportunidade que o seu país, a Rússia, lhes ofereceu, apesar de todas as ameaças do Ocidente”, escreveu Maria Zakharova no Telegram.

As hostilidades na Ucrânia também foram incluídas na votação. A semana eleitoral foi marcada por ataques aéreos mortíferos e tentativas de incursões terrestres da Ucrânia em território russo, respostas aos bombardeamentos diários da Rússia e aos ataques contra o seu vizinho durante mais de dois anos.

Na manhã de domingo, uma menina de 16 anos foi morta num ataque aéreo na cidade de Belgorod, perto da fronteira e muitas vezes alvo de ataques. À tarde, outra pessoa morreu e 19 ficaram feridas na mesma região.

E uma unidade militar operando a partir da Ucrânia, o “Batalhão Siberiano”, afirmou na manhã de domingo ter entrado na aldeia russa de Gorkovsky.

Apesar destes ataques, de um conflito mortal prolongado e de liberdades cada vez mais restritas, o mestre do Kremlin parece contar com uma popularidade muito real.

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(Com informações da AFP)

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