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'Ele foi até o fim de todas as ameaças', diz advogado francês de Navalny e do cacique Raoni

William Bourdon, advogado do opositor russo Alexei Navalny, conhecido como o inimigo número 1 do Kremlin, conversou com a RFI Brasil entre as dezenas de entrevistas que concedeu nesta sexta-feira (16), dia em que as autoridades penitenciárias russas do distrito de Iamália-Nenétsia, no Ártico russo, anunciaram sua morte. Alexei Navalny, 47, havia sido transferido para o local em dezembro do ano passado para cumprir sua pena de 19 anos de prisão.

Uma pessoa acende uma vela ao lado de um retrato do líder da oposição russa Alexei Navalny no monumento às vítimas de repressões políticas após a morte de Navalny, em São Petersburgo, Rússia, em 16 de fevereiro de 2024. REUTERS/Stringer TPX IMAGENS DO DIA
Uma pessoa acende uma vela ao lado de um retrato do líder da oposição russa Alexei Navalny no monumento às vítimas de repressões políticas após a morte de Navalny, em São Petersburgo, Rússia, em 16 de fevereiro de 2024. REUTERS/Stringer TPX IMAGENS DO DIA REUTERS - STRINGER
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Envenenado, preso, condenado e morto em uma "colônia penal" na Sibéria: Alexeï Navalny pagou com a vida por sua luta contra Vladimir Putin, segundo lideranças de todo o mundo

Para seu advogado francês, William Bourdon, que comentou com a RFI Brasil a notícia direto de Paris, Alexei Navalny era um "justo", "um homem de carisma com uma coragem contagiante". "E ele queria, até o último momento, que essa coragem pudesse inspirar outras pessoas", disse Bourdon, visivelmente emocionado. O advogado acompanhou durante três ocasiões o casal Navalny durante sua estadia em Berlim, em 2020, após a tentativa de envenenamento imputada ao Kremlim.

Para o advogado, acostumado a defender personalidades ligadas aos Direitos Humanos e muito ativo no Tribunal de Haia, na Holanda, onde liderou um dos processos contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, "existe hoje uma hiperbolização louca da criminalização de opositores a Putin" pelo Kremlin. Em Haia, Bourdon advoga em uma ação movida pelo cacique brasileiro Raoni Metuktire contra Bolsonaro, no Tribunal Penal Internacional.

Medo de ser envenenado

Bourdon revelou que Navalny tinha "muito medo de ser envenado" na prisão, mas que "foi com sua morte até o paroxismo de seu engajamento político". "Ele foi até o fim de todas as ameaças [do regime russo]", declarou.

Durante as três ocasiões em que esteve com Navalny em Berlim, quando foi acolhido pela ex-chanceler Angela Merkel, após sobreviver à tentativa de envenenamento com um dos produtos químicos mais letais do mundo, William Bourdon fala de um homem "digno" e "capaz de federar pessoas em volta dele com facilidade". 

Bourdon menciona "um sacrifício de uma lucidez absoluta" e mencionou o senso de humor mordaz de Navalny: "nós sabemos que se tratava de uma estratégia de sobrevivência de alguém confrontado ao tipo de tortura a que ele foi, mas ele nunca deixou de provocar Putin, que o detestava profundamente. Ele perdeu a chance de assassiná-lo na primeira vez, mas conseguiu na segunda", disse o advogado.

"Ele atingiu Putin em seu ponto fraco: a corrupção", afirmou ainda Bourdon. "Era o único capaz de drenar minimamente o poder de Putin, e o presidente russo sabia disso", concluiu o advogado que o representou na França também na ocasião do processo movido contra a empresa francesa Yves Rocher.

Na época, Navalny recebeu uma sentença de três anos e meio de prisão na Rússia, em dezembro de 2014, por "desviar" € 360.000 de uma subsidiária russa da empresa francesa Yves Rocher. "Essa acusação foi feita com pleno conhecimento dos fatos pela Yves Rocher, que não poderia ignorar que esse caso seria usado como um pretexto providencial para criminalizar politicamente Navalny", declarou Bourdon à imprensa francesa na época.

Em outubro de 2017, a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) determinou que Navalny teve negado o direito a um julgamento justo, citando decisões judiciais "arbitrárias e manifestamente irracionais". 

Herdeiros de Navalny?

Para Bourdon, é preciso “tempo” para que os “herdeiros de Navalny” possam aparecer no cenário político russo. “Ele com certeza deixou muitas velas acesas, era um trabalhador incansável, é preciso deixar que o tempo passe para que novas lideranças possam aparecer nesse cenário extremamente hostil”, avaliou.

O advogado francês lembrou ainda que Putin é objeto de uma mandado de prisão internacional no contexto dos crimes de guerra na Ucrânia, mas que não existe hoje nenhuma opção jurídica disponível para tentar responsabilizá-lo por essa morte. “Todas as informações que sairão da Rússia a partir desse momento estarão altamente vigiadas. Você sabe, Putin foi o carcereiro número 1 de Navalny durante todo esse tempo”, finalizou.

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