Acessar o conteúdo principal

Crianças já representam 25% dos migrantes nas travessias na América Latina, alerta Unicef

Um número "sem precedentes" de crianças está migrando para a América Latina e o Caribe. Essas são as conclusões de um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicado nesta quinta-feira (7). De acordo com a agência da ONU, a natureza da migração na região mudou radicalmente nos últimos dez anos, e uma em cada quatro pessoas é uma criança.

As crianças menores de 11 anos representam até 91% das crianças nas ruas na América Latina e no Caribe.
As crianças menores de 11 anos representam até 91% das crianças nas ruas na América Latina e no Caribe. AP - Marco Ugarte
Publicidade

O número de crianças nas estradas em busca de asilo está crescendo na América Latina. Elas estão presentes nas três principais rotas de migração da região, ou seja, a selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, a rota de migração para fora da América do Sul e os principais pontos de trânsito no norte da América Central e no México. A maioria está buscando chegar ao México, aos Estados Unidos e ao Canadá.

Em 2021, 133 mil pessoas atravessaram para o Panamá, incluindo 29 mil crianças, pela perigosa selva de Darien, repleta de cobras venenosas e frequentemente assolada por incêndios. O número significa "cinco vezes mais crianças do que nos quatro anos anteriores juntos", observa o relatório do Unicef.

Em 2022, a quantidade de travessias quase dobrou, para 250 mil pessoas, incluindo cerca de 40 mil crianças. E nos primeiros seis meses de 2023, 40 mil crianças já cruzaram essa selva no primeiro semestre, um recorde histórico, relata o Unicef.

"Estive em Darien. Estive também no México, na fronteira com os Estados Unidos, e no Brasil. Quando entrevistamos essas famílias, quando fornecemos ajuda a elas, vemos que essas famílias estão migrando porque não têm outras opções. Elas são ameaçadas por gangues, perderam seus empregos, devido à pobreza, aos efeitos da pandemia ou às mudanças climáticas que destruíram as plantações e suas casas", explica Laurent Duvillier, porta-voz regional do Unicef para a América Latina e o Caribe.

"Muitas vezes, essas famílias não têm alternativa. Elas não podem ficar onde estão e têm pouquíssimas oportunidades de emprego ou educação para seus filhos. Elas chegam à conclusão de que a única alternativa possível é migrar na esperança de um futuro melhor para elas e seus filhos".

Pessoas vulneráveis

As consequências dessa migração são enormes para as crianças, explica Laurent Duvillier: "Estamos falando de uma jornada de centenas e milhares de quilômetros por áreas desérticas e selvas. Há riscos à saúde. Muitas das crianças que sobreviveram de 7 a 10 dias a pé pela selva de Darien estão sofrendo de doenças infecciosas e pulmonares", salienta.

O porta-voz destaca que muitas ficam desidratadas no trajeto, e lembra ainda outros riscos como o de serem separadas dos pais, de caírem em redes de traficantes, de exploração de mão de obra, mas também em sistemas violentos de crime e exploração sexual. "E também riscos a longo prazo, porque estamos falando de crianças que se expõem a serem excluídas da educação, dos serviços de saúde, crianças que correm o risco de se encontrarem sem documentos na estrada, sem chance de um futuro melhor", acrescenta.

O relatório da Unicef frisa, ainda que os menores migrantes são cada vez mais jovens. Até 91% das crianças deslocadas na América Latina e no Caribe têm menos de 11 anos de idade. Elas representam 25% de todos os migrantes nessa região, uma proporção que agora é tão alta quanto na África Subsaariana.

Violência contra crianças

Outra região que também desperta a preocupação da agência da ONU é a África, em especial a República Democrática do Congo. Segundo informações da ONU também desta quinta-feira, a violência perpetrada contra crianças no leste do país atingiu um nível "sem precedentes", ilustrado por meninas gêmeas de apenas alguns meses de idade que foram encontradas escondidas sob roupas presas a um cinturão de explosivos.

Na província de Kivu do Norte, membros das Forças Democráticas Aliadas, uma milícia islâmica que jurou lealdade ao grupo Estado Islâmico, transformou as meninas em uma armadilha após matar toda a sua família, contou Grant Leaity, chefe da agência do Unicef, em uma coletiva de imprensa em Genebra.

Especialistas em eliminação de bombas conseguiram salvar as meninas, que estão se recuperando em um centro do Unicef. Mas gêmeas são apenas um exemplo: "Todos os dias, crianças são estupradas e mortas. Elas são sequestradas, recrutadas e usadas por grupos armados e sabemos que as informações que temos representam apenas a ponta do iceberg", insistiu Leaity.

"O país tem o maior número de violações graves contra crianças em conflitos armados do mundo, confirmado pela ONU", contabilizou ele.

Nos primeiros três meses de 2023, mais de 38 mil casos de violência sexual e de gênero foram relatados somente em Kivu do Norte.

Isso representa um aumento de 37% em comparação com o mesmo período em 2021.

"Em outras palavras, em apenas um ano, foram registradas mais 10 mil denúncias de violência sexual e de gênero", explicou o funcionário do Unicef.

Além disso, há a desnutrição aguda, que ameaça 1,2 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade no leste do país, e as epidemias.

(Com AFP e RFI)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.