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ONG denuncia morte de centenas de migrantes etíopes por guardas de fronteira da Arábia Saudita

Em relatório publicado nesta segunda-feira (21), a ONG Human Rights Watch (HRW) indica que guardas de fronteira sauditas mataram "centenas" de migrantes etíopes que tentaram entrar na rica monarquia do Golfo através de sua fronteira com o Iêmen. Os assassinatos teriam ocorrido entre março de 2022 a junho de 2023. 

Migrantes etíopes após desembarcarem em Ras al-Ara, na costa do Iêmen, no chamado caminho "Rota do Leste", para tentar chegar à Arábia Saudita.
Migrantes etíopes após desembarcarem em Ras al-Ara, na costa do Iêmen, no chamado caminho "Rota do Leste", para tentar chegar à Arábia Saudita. AP - Nariman El-Mofty
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Em um relatório de 73 páginas, a HRW publica testemunhos de 38 migrantes etíopes que entraram na Arábia Saudita através da chamada "Rota do Leste", que liga a África ao Golfo, através do Iêmem, um dos países mais pobres do continente africano e em guerra há oito anos. Para chegar à conclusão, a ONG diz ter se baseado em imagens de satélite, fotos e vídeos publicadas nas redes sociais, além de provas obtidas por meio de fontes anônimas. 

Os cidadãos etíopes interrogados falam do uso de "armas explosivas" e de tiros à queima-roupa. Testemunhas trazem relatos chocantes, como soldados sauditas que perguntam aos migrantes "em qual parte do corpo preferem ser baleados". 

Bilhões gastos em esportes e entretenimento

"As autoridades sauditas estão matando centenas de migrantes e requerentes de asilo nesta remota área de fronteira, fora da vista do resto do mundo", diz a especialista em migração da HRW, Nadia Hardman, em comunicado. Os "bilhões gastos" em esportes e entretenimento "para melhorar a imagem da Arábia Saudita" não devem desviar a atenção "destes crimes horríveis", reitera.

Governado com mão de ferro pelo príncipe Mohammed ben Salmane, a Arábia Saudita tenta melhorar sua degradada imagem internacional investindo em eventos esportivos e culturais. Também vem contratando estrelas do futebol, como o atual Bola de Ouro, Karim Benzema, e o brasileiro Neymar, para atuar em seu campeonato nacional. ONGs acusam regularmente o país de querer esconder as graves violações nos direitos humanos e a crise humanitária no vizinho Iêmen piorada pelo envolvimento do exército saudita.

No entanto, Riad contesta os fatos relatados pela ONG. "As alegações do relatório da Human Rights Watch de que os guardas de fronteira sauditas atiraram contra etíopes que cruzavam a fronteira da Arábia Saudita com o Iêmen são infundadas e não se baseiam em fontes confiáveis", afirma uma fonte governamental do país.

430 mortes em quatro meses

No ano passado, especialistas da ONU chamaram a atenção para "alegações preocupantes" de que "tiros de artilharia nas fronteiras e disparos de armas das forças de segurança sauditas mataram cerca de 430 migrantes" no sul da Arábia Saudita e no norte do Iêmen nos primeiros quatro meses de 2022.

Nos testemunhos recolhidos pela HRW, os migrantes etíopes relatam cenas de horror: “corpos de mulheres, homens e crianças espalhados pelas montanhas, gravemente feridos, desmembrados ou já mortos”.

“Eles disparavam contra nós, era como uma chuva de balas”, afirma uma jovem de 20 anos da região de Oromia, na Etiópia, citada no relatório. "Vi um homem pedir ajuda, tinha perdido as duas pernas", diz ela. "Não pudemos ajudá-lo porque estávamos correndo para salvar as nossas próprias vidas".

Pessoas viajando em pequenos grupos ou sozinhas disseram que os guardas de fronteira as atacaram com pedras ou barras de metal, aponta o relatório. Quatorze pessoas entrevistadas testemunharam ou foram feridas por tiros à queima-roupa, acrescenta a HRW. Alguns relataram que os guardas de fronteira sauditas desciam de seus postos de observação para espancar os sobreviventes.

A ONG pede a Riad que "cesse imediatamente" o uso de força letal contra migrantes e requerentes de asilo, exigindo que a ONU investigue as alegações. Os assassinatos "generalizados e sistemáticos" de migrantes etíopes podem constituir um crime contra a humanidade, alerta a HRW.

(Com informações da AFP) 

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