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Nova 'Cortina de Ferro' se alastra no leste da Europa por medo de invasão russa além da Ucrânia

A "Cortina de Ferro" voltou em toda a Europa. Essa é uma das consequências da invasão russa na Ucrânia: muros estão sendo erguidos em todas as fronteiras do leste: na Lituânia, Letônia, Estônia, Polônia e Finlândia, que compartilha a maior fronteira da Europa com a Rússia. Helsinque teme que Moscou envie migrantes para suas fronteiras e uma cerca está sendo erguida nos pontos mais sensíveis. Os primeiros quilômetros de cercas foram erguidos no sudeste da Carélia do Sul.

Desde este verão no hemisfério norte, uma cerca de três metros de altura, coberta com arame farpado, separa a fronteira entre a Finlândia e a Rússia.
Desde este verão no hemisfério norte, uma cerca de três metros de altura, coberta com arame farpado, separa a fronteira entre a Finlândia e a Rússia. © RFI/Nicolas Feldmann
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Nicolas Feldmann, da RFI

O tenente-coronel Lukkari inspeciona a fronteira. "A Rússia está a menos de dez metros atrás dessas árvores", explica ele. Mas, desde esse verão no hemisfério norte, a pequena barreira que separava os dois países foi desmontada. Em seu lugar, há uma cerca de três metros de altura coberta com arame farpado.

"A cada 50 metros, existem câmeras e detectores de movimento. É um sistema de prevenção a invasões que alerta sobre qualquer presença humana. Se alguém tenta atravessar a cerca, somos avisados e podemos enviar patrulhas para a área."

Muito mais do que uma invasão de tanques russos, os guardas de fronteira temem que Moscou explore a questão da migração, como fez em 2015, com a chegada de várias centenas de refugiados.

"Hoje, a fronteira está muito tranquila. Há entre dez e vinte travessias ilegais por ano. Mas essa cerca foi projetada para lidar com uma onda maior de imigração. Isso aconteceu no inverno de 2015 na Lapônia. Acabamos tendo solicitantes de asilo na mesma passagem de fronteira. Eram alguns milhares de pessoas de uma só vez", lembra o militar.

Requerentes de asilo enviados pela Rússia?

É muito difícil dizer se foram enviados pela Rússia", responde o tenente-coronel Lukkari. Mas todos eles chegaram ao mesmo tempo, no mesmo ponto de passagem. É por isso que estamos construindo essa cerca. Se não houvesse risco, não teríamos construído esse muro. Mas o que pode acontecer nas próximas semanas? Nos próximos meses?", pondera.

A dez quilômetros da fronteira, a pequena e pacata cidade de Imatra, com uma população de 30.000 habitantes, está aprendendo a viver sem seu vizinho russo. Mas quando você pergunta aos habitantes locais o que um muro vai mudar, ouve-se risadas divertidas como resposta. "Sinceramente, não sei", responde Lauré, 32 anos. Nunca houve um muro aqui. Na verdade, não vejo o que isso vai mudar. Estamos na OTAN agora, então, para mim, é tudo política. Não depende das pessoas", avalia.

Memórias dolorosas da guerra

Na Finlândia, a invasão russa na Ucrânia reavivou as lembranças de um passado doloroso. Durante a Segunda Guerra Mundial, o país foi derrotado pela Rússia e 10% de seu território foi amputado. Foi nessa época que a família de Matti Avohnenn foi privada de parte de suas terras, agora localizadas no lado russo.

O fazendeiro de 63 anos vive em campos cercados por florestas de pinheiros. Ele gostaria de ver a cerca estendida até sua casa. Desde a guerra na Ucrânia, a atividade na fronteira aumentou.

"Este é um lugar onde as pessoas cruzam a fronteira ilegalmente. Já vi romenos e afegãos aparecerem em minha casa. Em março de 2022, logo após o início da guerra na Ucrânia, um jovem russo que fugia do exército chegou de São Petersburgo. Foi meu vizinho que o recebeu no meio do inverno. Os guardas de fronteira levaram uma hora e meia para chegar aqui. É por isso que essa cerca é uma coisa boa. Se um dia muitas pessoas chegarem de uma só vez, essa cerca dará tempo para que os guardas de fronteira cheguem até aqui", defende o fazendeiro finlandês.

A Carélia do Sul foi escolhida para testar os primeiros quilômetros da cerca, e uma avaliação deverá ser feita no final do verão. Nos próximos 3 a 4 anos, um total de 200 quilômetros de cercas e arame farpado será erguido ao longo da fronteira com a Rússia.

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