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Golpe no Níger: por que a Rússia seduz países do Sahel?

Uma manifestação nesta quinta-feira (3) na capital do Níger, Niamey, reuniu centenas de pessoas em apoio aos militares que tomaram o poder pela força, ao derrubar o presidente Mohamed Bazoum. Entre os manifestantes, alguns deles carregavam bandeiras da Rússia, convocados pelo M62, um movimento antifrancês e anti-imperialista de organizações da sociedade civil. Desde o golpe de Estado de 26 de julho, as relações entre o Níger e a França passam por uma grave crise.  

Apoiadores da junta militar do Níger seguram uma bandeira russa no início de um protesto convocado "para lutar pela liberdade do país" e contra a interferência estrangeira em Niamey. 3 de agosto de 2023
Apoiadores da junta militar do Níger seguram uma bandeira russa no início de um protesto convocado "para lutar pela liberdade do país" e contra a interferência estrangeira em Niamey. 3 de agosto de 2023 AP - Sam Mednick
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O protesto coincide com o aniversário de 63 anos da independência do Níger, país do oeste africano onde a França mantém 1.500 soldados para ajudar no combate a grupos extremistas islâmicos. "Abaixo a França", "Viva a Rússia, viva Putin", gritavam os manifestantes. 

Depois de Mali e de Burkina Fasso, o Níger é o terceiro país da região a sofrer um golpe, desde 2020. A cada vez, a presença da França é questionada. Uma situação que beneficia a Rússia, que faz intensa propaganda no continente africano.  

O sentimento pró-Rússia não é novo no Sahel. Durante o período de descolonização, a partir da década de 1950, a então URSS estreitou laços com vários países africanos e ofereceu apoio em sua luta pela independência. Já durante a Guerra Fria, Moscou treinou muitos líderes e elites africanas. 

Influência russa 

Ao rejeitarem a presença de franceses, os manifestantes do Níger apelam ao apoio de Moscou ou de outras potências. "Estamos interessados apenas na segurança, venha da Rússia, China ou Turquia", declarou um dos manifestantes, o empresário Issiaka Hamadou. "Simplesmente não queremos os franceses, que nos roubam desde 1960", acrescentou. 

Nos últimos quatro anos, a França, uma ex-potência colonial, tornou-se indesejável no Sahel, região que se estende do Senegal ao Chade. O Exército francês foi expulso do Mali e de Burkina Fasso. A Operação Barkhane, que tinha sido lançada por Paris em 2014 para combater o terrorismo de grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico, foi forçada a recuar para o Níger. Enquanto isso, a Rússia continuou a expandir a sua influência e se apresenta como um parceiro político, econômico e de segurança ideal para os países dessa região pobre e instável. 

Um partidário da junta militar do Níger segura um cartaz com as cores da bandeira russa com os dizeres "Viva a Rússia, viva o Níger e os nigerianos" no início de um protesto convocado para lutar pela liberdade do país e contra a interferência estrangeira em Niamey. 3 de agosto de 2023
Um partidário da junta militar do Níger segura um cartaz com as cores da bandeira russa com os dizeres "Viva a Rússia, viva o Níger e os nigerianos" no início de um protesto convocado para lutar pela liberdade do país e contra a interferência estrangeira em Niamey. 3 de agosto de 2023 AP - Sam Mednick

No domingo (30), foram registrados incidentes durante um protesto diante da embaixada francesa em Niamey, o que provocou a retirada de centenas de cidadãos franceses do país africano. A operação de evacuação de estrangeiros do Níger, lançada pelo governo francês, terminou nesta quinta-feira (3), conforme anúncio dos ministros das Forças Armadas e das Relações Exteriores da França. "A retirada dos nossos cidadãos do Níger acaba de ser concluída", declarou Sébastien Lecornu, em mensagem publicada no X (ex-Twitter), especificando que 1.079 franceses e estrangeiros estavam "agora seguros". 

Em uma mensagem publicada na mesma plataforma, o Quai d'Orsay, o equivalente ao Itamaraty no Brasil, esclareceu que "577 cidadãos franceses e detentores de direitos de várias outras nacionalidades" estavam entre os retirados do país africano, num total de 50 países citados. Ao todo, cinco aviões foram fretados pelo Exército francês, desde terça-feira (1). 

O general Abdourahamane Tiani, ex-chefe da Guarda Presidencial que liderou o golpe e se autoproclamou o novo chefe de Estado do Níger, afirmou na quarta-feira (2) que os franceses não tinham "nenhuma razão objetiva para abandonar o país", porque "nunca foram alvos de ameaças". 

Ainda assim, o governo da França pediu às forças de segurança do Níger, ex-colônia francesa, que adotem as medidas necessárias para garantir a plena segurança de sua embaixada em Niamey. "A França recorda que a segurança das sedes e dos funcionários diplomáticos são obrigações do direito internacional", afirmou o Ministério das Relações Exteriores, em comunicado. 

Biden pede libertação de Bazoum 

Nesta quinta-feira (3), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a libertação imediata do presidente destituído, Mohamed Bazoum.

"Eu peço a libertação imediata do presidente Bazoum e de sua família, assim como a preservação da democracia duramente conquistada no Níger", afirmou Biden, em comunicado publicado por ocasião do aniversário de 63 anos de independência do país africano.

"Neste momento crítico, os Estados Unidos estão com o povo do Níger para honrar nossa parceria de décadas, enraizada em valores democráticos compartilhados e no apoio a um governo liderado por civis", destacou. "O povo do Níger tem o direito de escolher seus líderes", acrescentou Biden. "Eles expressaram sua vontade por meio de eleições livres e justas – e isso deve ser respeitado", concluiu o presidente norte-americano.  

Ontem, os Estados Unidos ordenaram a retirada de pessoal não essencial de sua embaixada. Washington conta com aproximadamente 1.000 soldados no Níger, também no contexto de combate aos grupos jihadistas. 

A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) anunciou, no fim de semana, um bloqueio econômico ao Níger e deu aos golpistas o prazo de uma semana para o retorno de Bazoum ao poder, um dos últimos líderes pró-Ocidente da região do Sahel. 

(Com informações da AFP) 

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