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Sudão: Ataque da força aérea mata dezenas de civis em Cartum; ONU teme guerra civil

A ONU estimou neste domingo (9) que o Sudão está "à beira de uma guerra civil potencialmente desestabilizadora para toda a região", um dia após a morte de dezenas de civis em um ataque da força aérea a um bairro residencial da capital Cartum. Em um vídeo postado pelo Ministério da Saúde sudanês, os corpos jazem no chão, alguns com membros esquartejados saindo de lençóis jogados às pressas para cobri-los. Diversas vítimas são mulheres.

Fumaça sobe em Omdurman, perto da Ponte Halfaya, durante confrontos entre as Forças paramilitares de Apoio Rápido e o exército, vista do norte de Cartum, Sudão, em 09 de julho de 2023.
Fumaça sobe em Omdurman, perto da Ponte Halfaya, durante confrontos entre as Forças paramilitares de Apoio Rápido e o exército, vista do norte de Cartum, Sudão, em 09 de julho de 2023. REUTERS - MOHAMED NURELDIN ABDALLAH
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O bombardeio, ocorrido no sábado (8) no distrito de Dar al-Salam em Omdurman, subúrbio a noroeste da capital Cartum, deixou 22 civis mortos e um grande número de feridos, ainda de acordo o Ministério da Saúde.

Já as Forças de Apoio Rápido (FSR), paramilitares em guerra contra o exército desde 15 de abril, denunciaram "a trágica perda de mais de 30 vidas e muitos feridos".

Em quase três meses de guerra entre o FSR do general Mohamed Hamdane Daglo e as tropas regulares, lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhane, cerca de 3 mil mortes foram registradas, um número considerado muito subestimado.

Desde o início do conflito, quase 3 milhões de sudaneses foram forçados a deixarem suas casas. Mais de 600 mil partiram para o exterior, principalmente para o Egito, no norte, e para o Chade, no oeste.

"Falta de respeito pelo direito humanitário"

Farhan Haq, um dos porta-vozes do secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou "uma total falta de respeito pelo direito humanitário e pelos direitos humanos", particularmente em Darfur, região martirizada nos anos 2000, agora novamente no centro dos combates.

Nesta vasta região do oeste do Sudão, onde combatentes tribais e civis armados se juntaram aos dois lados em guerra, a luta assumiu uma “dimensão étnica”, informa a ONU, enquanto os moradores relatam “execuções” com base na origem étnica.

Para a ONU, o risco de uma guerra civil se dá principalmente nas fronteiras do Sahel, Chifre da África e Oriente Médio, áreas já atormentadas pela violência antes da guerra em Cartum.

Partindo da capital, os combates, ataques aéreos e saques que seguem incansavelmente atingiram Darfur, assim como Kordofan, ao sul de Cartum, e o Nilo Azul, na fronteira com a Etiópia, ao sul. Durante a noite, os moradores relatam combates em El-Obeid, capital do Kordofan do Norte.

Negociações de paz

Para tentar uma saída para a crise, a ONU defende as propostas do Igad, uma autoridade intergovernamental para o desenvolvimento. Este bloco do leste africano a que Cartum pertence se reunirá na segunda-feira (10) em Adis Abeba com os chefes de Estado ou de governo dos quatro países envolvidos na questão sudanesa: Etiópia, Quênia, Somália e Sudão do Sul. Um oficial do Igad declarou que os dois generais em guerra foram convidados, mas nenhum dos lados reagiu.

Desde 15 de abril, o general Burhane só foi filmado duas vezes entre seus homens e o general Daglo apareceu apenas por alguns segundos em um vídeo feito por suas tropas. Os dois homens só intervêm por meio de mensagens sonoras. Eles poderiam, no entanto, enviar representantes para Addis Abeba na segunda-feira, de acordo com um funcionário do Igad.

Khalid Omer Yousif, um dos funcionários civis destituídos do governo em 2021 pelo golpe dos dois generais agora em guerra, anunciou que diversos representantes civis estariam em Adis Abeba para "discutir com atores sudaneses e internacionais para acelerar os esforços pela paz".

As negociações, há muito lideradas por americanos e sauditas e atualmente paralisadas, até agora só deram origem a tréguas temporárias, quase nunca respeitadas.

(Com informações da AFP)

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