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34 anos do massacre da Praça da Paz Celestial: prisões em Hong Kong; solidariedade em Taiwan

A polícia de Hong Kong deteve neste domingo (4) várias personalidades do movimento pró-democracia, no dia em que se comemora o 34º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de Pequim. Ao todo, pelo menos dez pessoas foram presas. Entre elas, estava a líder de um partido da oposição, que foi liberada poucas horas depois. Em Taiwan, manifestantes enviaram mensagens de solidariedade à difícil situação dos moradores de Hong Kong, novamente sob a censura de Pequim.

Pedestre é detido por policiais de Hong Kong depois de acionar a luz de seu telefone celular perto do Parque Victoria, onde a população costumava fazer vigílias em homenagem aos mortos no massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim. 4 de junho de 2023
Pedestre é detido por policiais de Hong Kong depois de acionar a luz de seu telefone celular perto do Parque Victoria, onde a população costumava fazer vigílias em homenagem aos mortos no massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim. 4 de junho de 2023 © Louise Delmotte / AP
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A polícia de Hong Kong mobilizou um grande contingente de agentes durante o fim de semana nos arredores do Parque Victoria, no bairro comercial de Causeway Bay, onde durante muitos anos milhares de pessoas se reuniam para recordar, com uma vigília, as vítimas do massacre ocorrido em 4 de junho de 1989 na capital chinesa.

Chan Po-ying, líder da Liga dos Social-Democratas de Hong Kong, que estava com uma vela e flores nas mãos, foi detida pelas forças de segurança. O partido informou que ela foi liberada duas horas depois. Outras personalidades presas foram Alexandra Wong, uma ativista de 67 anos conhecida como "Avó Wong", que exibia um ramalhete de flores, e a jornalista Mak Yin-ting, que já presidiu a Associação de Jornalistas de Hong Kong. Policiais também levaram uma mulher que gritou: "Levantem as velas" e "Chorem pelo 4 de junho", uma referência à data da repressão violenta de Pequim às manifestações que pediam democracia na China.

No sábado, a polícia já havia anunciado a detenção de quatro pessoas por "comportamento desordeiro no espaço público" e outras quatro por "perturbação da ordem pública". Essas detenções se tornaram rotina.

Calar a dissidência

Na China continental, as autoridades proíbem sistematicamente qualquer cerimônia de recordação dos eventos ocorridos na Praça Tiananmen. Há 34 anos, tropas e tanques do Exército chinês reprimiram com violência um movimento pacífico liderado por estudantes, que  durante várias semanas utilizou a praça para reivindicar reformas democráticas no país. O número exato de mortos e feridos é incerto até hoje. Mas estima-se que mais de mil civis tenham morrido, a maioria estudantes. 

Hong Kong, que o Reino Unido devolveu à China em 1997, foi durante muito tempo a única cidade chinesa a organizar uma vigília com velas em memória das vítimas. A homenagem acontecia no Parque Victoria. Em 2020, no entanto, uma lei de segurança nacional imposta por Pequim à cidade – que havia sido cenário de grandes manifestações pró-democracia nos meses anteriores – proibiu as cerimônias.

Neste ano, o Parque Victoria está ocupado por uma feira comercial dedicada a produtos procedentes do sul da China e organizada por grupos pró-Pequim para celebrar o 26º aniversário da devolução de Hong Kong.

"Hong Kong é uma cidade diferente hoje", afirmou uma mulher de 53 anos à agência AFP. Ao ser questionada sobre a vigília, ela respondeu que era um evento do passado.

Apagar da memória

O governo chinês faz todo o possível para apagar o massacre da Praça da Paz Celestial da memória coletiva na China continental. Os livros de História não mencionam o evento e qualquer debate sobre o tema na internet é censurado de maneira sistemática.

Entretanto, a embaixada britânica em Pequim desafiou as autoridades chinesas e publicou a primeira página do jornal chinês 'People's Daily', com a data de 4 de junho de 1989. A capa do diário destacava uma reportagem sobre como os hospitais estavam lotados de vítimas. "Em menos de 20 minutos, os censores retiraram nossa publicação do Weibo" (o equivalente chinês do Twitter), tuitou a embaixada neste domingo (4).

 As autoridades também mobilizaram policiais ao redor da ponte Sitong, em Pequim, onde um manifestante exibiu uma faixa com a palavra "liberdade" em outubro do ano passado, um protesto raro na cidade.

Os ativistas pró-democracia de maior destaque de Hong Kong fugiram para o exterior ou foram detidos desde a aprovação da lei de segurança em 2020. O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, alertou que as pessoas devem agir de acordo com a lei ou "enfrentar as consequências".

Taiwaneses enviam mensagem de apoio a Hong Kong

Em Taiwan, ilha que tem uma administração autônoma da China há décadas, mas que Pequim reivindica como parte de seu território, quase 500 pessoas se reuniram durante a noite na Praça da Liberdade, em Taipé. Os manifestantes expressaram apoio a Hong Kong e gritaram: "Vamos lutar pela liberdade".

Durante o evento, o grupo organizou velas de maneira a formar o número 8964, símbolo do dia 4 de junho de 1989, proibido na China continental. "Devemos valorizar a liberdade e a democracia que temos em Taiwan", disse Perry Wu, de 31 anos.

"A história e a recordação não serão apagadas com facilidade", declarou Sky Fung, secretário-geral da ONG 'Hong Kong Outlanders', que tem sede em Taiwan.

Várias cidades do mundo devem organizar vigílias em homenagem às vítimas da Praça da Paz Celestial, de Tóquio a Nova York, passando por Londres.

Com informações da AFP

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