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Alunas continuam fora das universidades no Afeganistão após recesso de inverno

As universidades do Afeganistão retomaram as aulas nesta segunda-feira (6), após o recesso de inverno, mas as mulheres continuam vetadas dos estabelecimentos de ensino superior pelo governo Talibã.

Estudantes afegãs chegam à Universidade de Cabul para realizarem testes de admissão, em 13 de outubro de 2022. Desde o último 20 de dezembro, elas foram proibidas pelos talibãs de frequentarem estabelecimentos de ensino superior no país.
Estudantes afegãs chegam à Universidade de Cabul para realizarem testes de admissão, em 13 de outubro de 2022. Desde o último 20 de dezembro, elas foram proibidas pelos talibãs de frequentarem estabelecimentos de ensino superior no país. AFP - WAKIL KOHSAR
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A proibição de frequentar a universidade é uma das várias restrições impostas às afegãs pelo Talibã desde que o movimento fundamentalista retornou ao poder, em agosto de 2021. A discriminação das mulheres no Afeganistão foi criticada em todo o mundo, inclusive em países muçulmanos.

"É de partir o coração ver os homens seguindo para a universidade, enquanto nós temos que ficar em casa", lamentou Rahela, 22 anos, moradora da província central de Ghor. "Isto é discriminação de gênero contra as mulheres porque o Islã nos permite buscar o ensino superior. Ninguém deve nos impedir de aprender", acrescentou.

O governo Talibã impôs a proibição depois de acusar as alunas de ignorar o código de vestimenta para as mulheres e a exigência de serem acompanhadas por um parente do sexo masculino nos trajetos até o campus.

Antes do veto, a maioria das universidades já havia adotado a segregração de gênero nas salas de aula. As mulheres só tinham aulas com professoras ou homens idosos. "É difícil constatar que milhares de meninas não têm acesso à educação", declarou Mohamad Haseeb Habibzadah, estudante de Ciência da Computação na Universidade de Herat.

Uma mulher afegã caminha pelo velho mercado, ao lado um combatente talibã de guarda, no centro de Cabul, Afeganistão, terça-feira, 3 de maio de 2022.
Uma mulher afegã caminha pelo velho mercado, ao lado um combatente talibã de guarda, no centro de Cabul, Afeganistão, terça-feira, 3 de maio de 2022. AP - Ebrahim Noroozi

Medo do governo

Vários líderes talibãs afirmaram que a proibição às mulheres é temporária, mas também não autorizaram o retorno das jovens às escolas do ensino médio, fechadas há mais de um ano. O governo alega falta de recursos e tempo para ajustar o currículo aos ensinamentos islâmicos.

A realidade, de acordo com algumas fontes do Talibã, é que os ultraconservadores que aconselham o líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, são profundamente céticos a respeito da educação moderna para as mulheres.

Desde que retornou ao poder, o Talibã excluiu as mulheres da vida pública. Elas foram afastadas de muitos empregos públicos e muitas são obrigadas a ficar em casa, recebendo uma fração de seu salário.

Também não podem frequentar parques, feiras, academias, banheiros públicos e devem cobrir todo o corpo em público. Grupos de defesa dos direitos humanos criticaram as restrições e a ONU denunciou um "apartheid de gênero".

A comunidade internacional insiste que o direito de educação das mulheres deve fazer parte das negociações sobre a ajuda ao país e o reconhecimento do regime. Até o momento nenhum país reconheceu o governo Talibã.

"É essencial que todas as meninas, mesmo as mais velhas, possam retomar seus estudos sem mais atrasos", disse a agência da ONU para crianças, Unicef.
"É essencial que todas as meninas, mesmo as mais velhas, possam retomar seus estudos sem mais atrasos", disse a agência da ONU para crianças, Unicef. AP - Felipe Dana

Talibãs cancelam divórcio

Aterrorizada durante anos por um ex-marido que quebrou todos os seus dentes, Marwa vive escondida com os oito filhos desde que os comandantes talibãs anularam seu divórcio e a obrigaram a retornar ao casamento.

Marwa representa um número crescente número de mulheres que, durante o governo anterior apoiado pelos Estados Unidos, conseguiram o divórcio na justiça. No Afeganistão, a violência doméstica é endêmica.

Mas, quando o movimento Talibã retornou ao poder em 2021 seu marido alegou que havia sido forçado a aceitar o divórcio e as novas autoridades ordenaram que Marwa voltasse para a casa dele.  Advogados afirmaram que muitas mulheres tiveram que retomar casamentos abusivos após a anulação de seus divórcios.

Mulheres afegãs com suas crianças, em Cabul
Mulheres afegãs com suas crianças, em Cabul AP - Ebrahim Noroozi

"O islã permite o divórcio"

No Afeganistão, nove em cada 10 mulheres sofrerão violência física, sexual ou psicológica por parte de seus companheiros, segundo a missão da ONU no país. O divórcio, no entanto, geralmente é mais tabu do que os abusos e a sociedade não perdoa mulheres que abandonam seus maridos.

Com o governo anterior, as taxas de divórcio aumentavam em algumas cidades, onde os poucos progressos nos direitos femininos se limitavam à educação e aos empregos.

As mulheres atribuíam tudo que acontecia com elas ao destino, destaca Nazifa, uma advogada que trabalhou com sucesso em quase 100 casos de divórcio de mulheres abusadas, mas que não tem mais permissão para trabalhar no Afeganistão governado pelo Talibã.

À medida que a conscientização aumentava, as mulheres perceberam que o divórcio era algo possível. "Quando não há mais harmonia no relacionamento entre marido e mulher, até o Islã permite o divórcio", explica Nazifa, que não revelou o sobrenome.

A advogada relata que tem cinco clientes na mesma situação de Marwa. De acordo com ela, os divórcios no governo Talibã são permitidos apenas quando o marido é classificado como viciado em drogas ou quando deixou o país. 

(Com informações da AFP)

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