"Exigimos nossos direitos": proibidas nas universidades, mulheres protestam no Afeganistão
Um grupo de afegãs protestou em Cabul contra o regime Talibã, que proibiu o acesso de mulheres às universidades. Algumas manifestantes foram presas e vários professores homens pediram demissão em solidariedade às alunas na quinta-feira (22). Eles também fizeram um apelo para que profissionais de outros estados seguissem o mesmo exemplo.
Publicado em:
Sonia Ghezali, correspondente da RFI no Afeganistão
"A Educação é nosso direito e ele deve ser mantido", protestaram dezenas de jovens em um bairro de Cabul. O protesto foi disperso rapidamente pelos representantes do Talibã, que estavam acompanhados de policiais mulheres, que prenderam quatro participantes.
"As policiais nos bateram", contou uma das manifestantes. Os vídeos compartilhados nas redes sociais mostram cartazes escritos à mão, com os dizeres "exigimos nossos direitos fundamentais" ou "Ajudem as meninas afegãs".
Uma das mulheres presas conseguiu enviar um vídeo gravado na traseira de uma pick-up da polícia, sem que os talibãs percebessem. "Por que vocês fecharam as universidades?", diz uma delas nas imagens. "Por que vocês estão me levando para a delegacia?", acrescenta outra. "Eu juro que vou matar você aqui mesmo", ameaça um homem.
"Pode me matar, a educação é mais importante do que minha vida. Se você quer nos matar, por que não o fez na rua?", indaga outra. As duas meninas que aparecem no vídeo estão desaparecidas e seus familiares, até o fechamento dessa reportagem, continuavam sem notícias.
Vários protestos similares já foram registrados no país desde que o Talibã voltou ao poder, em agosto de 2021.
Sem vida social
As universidades no Afeganistão foram proibidas para as mulheres porque "não respeitavam o código de vestimenta", justificou nesta quinta-feira (22) o ministro talibã do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem.
Segundo o ministro, as meninas que estudavam em uma província distante de sua residência "também viajavam sem um 'mahram', um acompanhante masculino adulto". "Nossa honra afegã não permite que uma menina muçulmana das províncias viaje para uma província distante sem estar acompanhada pelo pai, irmão ou marido", declarou.
Em uma carta, o ministro ordenou na terça-feira que todas as universidades públicas e privadas do país neguem o acesso a alunas por tempo indeterminado.
Desde o retorno do Talibã ao poder, as universidades afegãs viram-se obrigadas a adotar novas regras, principalmente na separação de mulheres e homens nas salas de aula.
Elas só podiam ter aulas com professoras ou homens mais velhos. As meninas já haviam sido excluídas do ensino médio em março, quando o Talibã fechou os estabelecimentos poucas horas depois de sua reabertura.
Nos vinte anos de ocupação por forças internacionais, vários governos afegãos apoiados pelo Ocidente permitiram que as meninas fossem à escola e que as mulheres trabalhassem.
Agora, elas estão sendo são excluídas do espaço público: não podem viajar sem a companhia de um parente do sexo masculino e devem se cobrir com uma burca ou hijab ao sair. Em novembro, o Talibã também proibiu as mulheres de acessarem parques, jardins, academias e banheiros públicos. Os islâmicos também retomaram o açoitamento e as execuções públicas de homens e mulheres.
By destroying the future of girls and women in #Afghanistan, the #Taliban decided to destroy their own country’s future. I will put the issue on the agenda of the G7 tomorrow. The Taliban may try to make women invisible, but won’t succeed - the world is watching.
— Außenministerin Annalena Baerbock (@ABaerbock) December 21, 2022
Crime contra a humanidade
A decisão, segundo os países do G7, pode ser classificada como "crime contra a humanidade", baseada na perseguição de gênero.
"As políticas do Talibã destinadas a apagar as mulheres da vida pública terão consequências na forma como nossos países interagem com o Talibã", acrescentaram os ministros do G7 (Reino Unido, Canadá, Itália, França, Alemanha, Japão e Estados Unidos) após uma reunião virtual.
(RFI e AFP)
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro