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Empresa fantasma israelense é acusada de ter usado imprensa para influenciar dezenas de eleições no mundo

Um coletivo de jornalistas de investigação, que contou com a colaboração da unidade de investigação da Rádio França, revelou nesta quarta-feira (15) que uma sociedade israelense influenciou dezenas de eleições no mundo, principalmente na África e na Europa. O consórcio Forbidden Stories realizou a investigação Story Killers, que revela a ação de uma agência de desinformação baseada em Israel. 

A home do site do consórcio de jornalistas "Forbidden Stories" que revelou em 15 de fevereiro de 2023 a existência da empresa israelense que influenciou dezenas de eleições no mundo.
A home do site do consórcio de jornalistas "Forbidden Stories" que revelou em 15 de fevereiro de 2023 a existência da empresa israelense que influenciou dezenas de eleições no mundo. © RFI
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Por meio de contas falsas nas redes sociais, espionagem e lobby, o escritório de desinformação teria interferido em campanhas eleitorais e referendos, principalmente na África e na Europa. 

A empresa, sem existência legal, apelidada pelos jornalistas de Team Jorge – em referência ao pseudônimo de um dos seus dirigentes, Tal Hanan – é constituída por ex-agentes dos serviços secretos israelenses, segundo revelações feita pelo coletivo de jornalistas na quarta-feira. Os patrocinadores do grupo não foram identificados.

Em completa ilegalidade, a empresa israelense clandestina opera nos bastidores e oferece seus serviços a quem faz a melhor oferta, relata o correspondente da RFI em Jerusalém, Sami Boukhelifa. 

Team Jorge oferece como produto um verdadeiro exército virtual, com milhares de contas falsas nas redes sociais. Graças a um poderoso software, o grupo cria avatares com email, data de nascimento e até número de telefone. Dessa maneira, os sites podem verificar a existência dos perfis falsos sem suspeitar de nada. A missão desses usuários é publicar opiniões com o objetivo de influenciar o maior número possível de pessoas online.

Envolvimento no escândalo da Cambridge Analytica

O Team Jorge já esteve envolvido no escândalo da Cambridge Analytica, empresa acusada, em 2018, de ter analisado grandes volumes de dados para vender ferramentas de influência utilizadas por Donald Trump.

Os três jornalistas da Rádio France e dois meios de comunicação israelenses que conduziram a investigação se fizeram passar por potenciais clientes. “Interviemos em 33 campanhas eleitorais para presidente”, disse a eles a empresa clandestina israelense. “Dois terços foram na África e 27 foram bem sucedidas", afirmou.

Na Europa, a empresa teria intervindo no referendo organizado pelos separatistas catalães em 2017, na Espanha – cujos resultados não foram reconhecidos pelos governo do país. 

Na África, “foi possível confirmar que durante o verão de 2022, com a aproximação das eleições presidenciais no Quênia, Team Jorge se interessou por contas de pessoas próximas do futuro presidente William Ruto", entre eles Dennis Itumbi e Davis Chirchir, membros da sua equipe de campanha, segundo o site do Forbidden Stories.

Desinformação na BFM TV

O Team Jorge também se infiltrou no interior do canal francês de notícias BFM TV, por meio de um de seus âncoras: Rachid M’Barki. O apresentador transmitiu na emissora matérias não validadas pela redação. Assuntos sensíveis, sobre oligarcas russos, o Saara Ocidental, o Catar ou os Camarões, eram inseridos de última hora, conseguindo passar pelo crivo editorial.

Quando a direção da BFM questionou Rachid M'Barki sobre o assunto, o apresentador alegou "uso do livre arbítrio editorial" e mencionou um intermediário chamado Jean-Pierre Duthion. Trata-se de um consultor de comunicação descrito como um “mercenário da desinformação”, que teria recebido encomendas, feitas por outros intermediários, sem conhecer o cliente final. Seu papel era colocar os assuntos nas mãos dos jornalistas.

Esses documentos relativos aos oligarcas russos ou ao Catar teriam sido “fornecidos prontos para uso, em nome de clientes estrangeiros”, de acordo com o consórcio investigativo. Uma dessas notas, por exemplo, sobre as dificuldades da indústria náutica em Mônaco desde a imposição de sanções internacionais à Rússia e seus cidadãos, teria o objetivo de criticar a política de sanções dos países europeus.

Rachid M'Barki afirma não ter sido pago para transmitir os assuntos, mas os jornalistas do coletivo investigativo estimam que tal serviço possa render cerca de € 3.000 por assunto transmitido. 

O jornalista nega ter participado de qualquer campanha de desinformação e diz que foi enganado. Ele foi afastado pela BFM TV quando o Forbidden Stories alertou o canal sobre o caso, em janeiro.

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