Chineses celebram a chegada do Ano do Coelho com a esperança de virar a página da Covid-19
A China comemora neste sábado (21) o início do Ano Novo Lunar, que marca o começo do "Festival da Primavera", principal festa chinesa. Após terem as festas perturbadas em 2021 e 2022 devido à pandemia de Covid-19, a população espera virar a página do surto durante esse “Ano do Coelho”, celebrado por chineses, mas também por coreanos e taiwaneses. Cerca de dois bilhões de viagens devem efetuadas na região entre 7 de janeiro de 15 de fevereiro para marcar a data.
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Stéphane Lagarde, correspondente da RFI na China e agências
Na porta de entrada do Templo do retiro da alma de Hangzhou, na manhã deste sábado, os visitantes se espremiam, nas pontas dos pés e com os braços estendidos, diante dos ideogramas 福 e 财富, que representam “felicidade” e “riqueza” em chinês, os dois principais votos nesse ano que começa.
No estacionamento desse que é um dos principais monastérios budistas da China, um funcionário não escondia a alegria de trabalhar normalmente, após três anos que pesaram nos ânimos, mas também na economia do país.
“O ano do coelho é ótimo! Olhem todas essas luzes! Durante três anos, tudo aqui estava fechado. Agora reabrimos progressivamente. A vida está de volta, aos poucos, como antes”, comemora.
O templo de Hangzhou não é o único lotado na China. Com o levantamento das restrições sanitárias, viajantes encheram as estações de trens e aeroportos para rever seus familiares em todo o país, retomando a tradição das grandes viagens para celebrar o Ano Novo e que, para muitos, é o único momento de férias de verdade.
O movimento foi tamanho que o presidente chinês, Xi Jinping, manifestou sua preocupação com o impacto da doença nas áreas rurais durante este período. Milhões de pessoas saíram de cidades com índices altos de contágios para o interior, onde a infraestrutura médica sofre com a falta de pessoal e de recursos.
Coelho: animal bonzinho?
Mas os chineses não parecem preocupados, e muitos esperam que o Ano do Coelho, animal sinônimo de doçura, marque realmente o fim da pandemia e a retomada de uma vida normal.
"O coelho traz prosperidade e simboliza paz e harmonia crescentes, vitalidade e vigor no vasto território da China", disse Xi Jinping na sexta-feira (20) durante a abertura das festividades. "Neste Ano do Coelho, espero que todos os chineses, especialmente os jovens, avancem com ações rápidas como coelhos e mostrem plenamente seu charme e habilidade em suas respectivas indústrias", completou o chefe de Estado.
Historicamente, o coelho é visto como o mais simpático dos animais do zodíaco chinês. Porém, o “amigo das crianças também tem dentes” e não é tão inofensivo assim, brincam os conhecedores das tradições ligadas ao Ano Novo Lunar.
Mas o coelho também é, na China, uma espécie de símbolo oculto do movimento #MeToo. Em mandarim, “Me” soa como mi (arroz) e “Too” como tu zi (coelho). E o movimento feminista, que foi bastante reprimido na China nos últimos três anos, pode ganhar força alavancado por esse trocadilho.
Mas o principal risco vem na realidade da variante ômicron do coronavírus, que continua circulando pela região. As autoridades sanitárias chinesas afirmam que o pico de contaminações já passou, mas a situação ainda não está sob controle. Basta ver o número de pessoas com uma saúde mais frágil que continuam dando entrada nos serviços de emergência dos hospitais do país.
Setor do luxo aposta no Ano do Coelho
A volta das viagens dos chineses também representa uma boa notícia para o setor do luxo, que perdeu nos últimos anos parte dessa clientela, acostumada a fazer muitas compras durante seus passeios. Por essa razão, muitas marcas apostam na temática desse Ano Novo Lunar para atrair novamente os consumidores.
A britânica Burberry criou uma coleção que tem como personagem principal um coelho, enquanto a francesa Dior, assim como a joalheria suiça Chopard, lançaram relógios especiais para o “Ano do coelho”.
Antes da pandemia, a clientela chinesa representava “um terço das compras em todo o mundo e dois terços dessas compras eram realizadas fora da China”, lembrou esta semana à AFP Joëlle de Montgolfier, diretora da divisão de luxo da empresa de consultoria Bain and Company. Em 2021, ano em que o luxo finalmente retomou o seu nível de ventes pré-pandemia, “os chineses consumiam, mas apenas na China”, comenta a especialista.
Porém, mesmo “sem os chineses”, as vendas do setor do luxo no mundo cresceram 22% em 2022. Uma alta sustentada, em grande parte, pela clientela americana, que se beneficiou de um dólar forte, dos japoneses e coreanos, que continuaram comprando, mas também dos europeus, que voltaram a consumir mais produtos de luxo, comenta Erwan Rambourg, analista do setor e autor do livro "Future Luxe: what's ahead for the business of luxury".
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