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Referendos de anexação à Rússia começam sob tensão em Donetsk

Os territórios da Ucrânia sob controle russo e o governo de Moscou reiteraram, nesta quinta-feira (22), que os referendos de anexação, previstos para começar na sexta-feira, estão confirmados apesar da indignação internacional e das críticas. 

Mulher caminha em frente ao edifício de Kramatorsk, na região de Donetsk,em 22 de setembro de 2022
Mulher caminha em frente ao edifício de Kramatorsk, na região de Donetsk,em 22 de setembro de 2022 AFP - JUAN BARRETO
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O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, defenderá no Conselho de Segurança da ONU o projeto de anexação e a invasão da Ucrânia, um dia após o anúncio da mobilização de 300.000 soldados adicionais e das ameaças do presidente russo, Vladimir Putin, de utilizar armas nucleares.

De sexta-feira a terça-feira (23 a 27 de setembro), quatro regiões sob controle total ou parcial de Moscou devem votar, em consultas organizadas às pressas, para definir a anexação pela Rússia. O Ocidente classificou os referendos de "simulações". A própria China, aliada da Rússia, pediu o respeito à integridade territorial dos Estados.

Mas as autoridades pró-Rússia designadas para os territórios e Moscou reiteraram que os referendos estão confirmados. "A votação começa amanhã (sexta-feira) e nada poderá impedir", afirmou na televisão russa o comandante da administração da ocupação da região de Kherson, Volodymyr Saldo.

A autoridade eleitoral dos separatistas pró-Rússia de Donetsk informou que "por questões de segurança", a consulta será organizada quase porta a porta, diante das residências, durante quatro dias. Os centros de votação só devem abrir no último dia, em 27 de setembro.

A perspectiva de integração de parte da região leste da Ucrânia à Rússia é considerada, para parte da população, como uma "promessa" de proteção diante dos bombardeios constantes desde o início da invasão, em 24 de fevereiro. Mas, para outros, isso também é motivo de preocupação.

"É um momento preocupante, porque os bombardeios e intimidações vão aumentar", disse um morador que conversou com a RFI. A maioria deles, diz a enviada especial da RFI em Donetsk, Anissa El Jabri, prefere evitar a ida aos locais de votação. 

Arkadi, ao lado de sua mãe, conta que os ucranianos consideram a população da região como "colaboradores." Segundo Arkadi, em Kharkiv, "os professores, os médicos que de alguma forma ajudaram a população na época da ocupação russa, agora são perseguidos. Estou com medo, muito medo." 

A Rússia  afirmará organizará um referendo de sexta a segunda-feira sobre a anexação do leste da Ucrânia a seu território
A Rússia afirmará organizará um referendo de sexta a segunda-feira sobre a anexação do leste da Ucrânia a seu território AP - Alexei Alexandrov

Mísseis hipersônicos

O ex-presidente russo Dmitri Medvedev e atual vice-diretor do Conselho de Segurança do país repetiu no Telegram que as regiões de Lugansk, Donetsk (leste), Kherson e Zaporizhzhia (sul) "integrarão a Rússia".

Ele também afirmou que o país está preparado para executar um ataque nuclear contra o Ocidente em caso de necessidade: os mísseis "hipersônicos russos são capazes de atingir alvos na Europa e Estados Unidos muito mais rápido que as armas ocidentais", advertiu.

Em um discurso à nação, Putin afirmou na terça-feira que está disposto a usar "todos os meios" do arsenal do país contra o Ocidente, que acusa de querer "destruir" a Rússia. A doutrina militar do país prevê a possibilidade de recorrer a ataques nucleares caso os territórios considerados russos por Moscou sejam atacados, o que pode acontecer nas zonas anexadas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que devido à ajuda militar ocidental à Ucrânia, a Rússia "de fato enfrenta o bloco da Otan". Moscou ignora as críticas internacionais, começando pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas afirmou que a guerra de Putin "tira o direito da Ucrânia de existir"

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, fala durante a Assembleia Geral da  ONU, nesta quinta-feira
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, fala durante a Assembleia Geral da ONU, nesta quinta-feira REUTERS - MIKE SEGAR

Em um discurso por vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu ao mundo para "punir" a Rússia. Nesta quinta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu no Conselho de Segurança uma investigação do "catálogo de crueldades" cometidas nas zonas ocupadas pelas forças russas na Ucrânia.

"Os relatórios são um catálogo de crueldade: execuções sumárias, violência sexual, tortura e outros tratamentos desumanos e degradantes contando civis e prisioneiros de guerra", disse Guterres na abertura de uma reunião ministerial do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao conflito.

Na frente de batalha, os bombardeios continuam, após a mobilização de reservistas anunciada por Putin devido às derrotas das forças russas em setembro na contraofensiva ucraniana nas regiões de Kharkiv (nordeste), no Donbass (leste) e em Kherson. Nove mísseis atingiram a cidade de Zaporíjia, sob controle ucraniano, segundo as autoridades locais, e deixaram um morto. Os separatistas de Donetsk acusaram Kiev de bombardear um mercado, onde morreram seis pessoas.

Bandeira russa colocada em um dos monumentos no sul da Ucrãnia, em território ocupado pelos russos.
Bandeira russa colocada em um dos monumentos no sul da Ucrãnia, em território ocupado pelos russos. © RFI / Anissa El Jabri

 "Não quero morrer"

 A Rússia confirmou a chegada ao país de 55 prisioneiros de guerra trocados com a Ucrânia. Na quarta-feira, o presidente Zelensky celebrou a libertação de 215 ucranianos, incluindo os comandantes da defesa da siderúrgica Azovstal de Mariupol (sudeste), símbolo da resistência ucraniana e que Moscou classifica de "neonazistas".

O líder separatista da região de Donetsk, Denis Pushilin, confirmou a libertação do empresário e ex-deputado ucraniano Viktor Medvedchuk, próximo a Putin. Na Rússia, o anúncio da mobilização de centenas de milhares de reservistas provocou várias manifestações em todo o país e pelo menos 1.332 pessoas foram detidas.

Parte da imprensa também destacou que muitas pessoas tentaram deixar o país. O Kremlin minimizou as reações e afirmou que "as informações sobre a movimentação nos aeroportos são muito exageradas". Na vizinha Armênia, no aeroporto de Yerevan, russos admitiram que fugiram da convocação. Dmitri, 45 anos e com uma pequena mochila, disse que deixou a mulher e os filhos no país.  "Não quero morrer nesta guerra sem sentido. É uma guerra fratricida", resumiu.

(RFI e AFP)

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