Bangladesh: refugiados rohingyas lembram o "genocídio" de seu povo em Mianmar
Cinco anos atrás, cerca de 750 mil rohingyas, uma minoria muçulmana apátrida e perseguida em Mianmar, se refugiaram em Bangladesh para fugir dos abusos do exército birmanês. Milhares deles se manifestaram nesta quinta-feira (25) para marcar os anos de repressão.
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Em campos improvisados no sudeste de Bangladesh, os refugiados se manifestaram nesta quinta-feira para marcar o quinto aniversário dos massacres de seu povo em Mianmar, que eles descrevem como "genocídio".
Com faixas e slogans, essa comunidade majoritariamente muçulmana se reuniu no labirinto de Cox's Bazar, o maior campo de refugiados do mundo.
Muitos aproveitaram para exigir a revogação de uma lei birmanesa de 1982 que os priva do direito à cidadania de seu país de origem, predominantemente budista, pelo fato de eles serem muçulmanos. Esses milhares de rohingyas, em sua maioria vestidos com o tradicional longyi birmanês (sarong) e camisa, se reuniram pacificamente para este "Dia da Lembrança do Genocídio".
Um milhão de refugiados
Cinco anos após a repressão sofrida em Mianmar, quase 1 milhão de refugiados rohingyas ainda vivem amontoados nesses campos insalubres, em Cox's Bazar e na ilha de Bahsan Char. Inundações, insegurança, presença de gangues: as condições de vida são deploráveis, enquanto o retorno dos rohingyas a Mianmar está mais do que comprometido, especialmente desde o golpe de Estado da junta birmanesa que mergulhou o país no caos.
Em Bangladesh, “a situação de confinamento no campo de refugiados é realmente terrível”, relata Alexandra de Mersan, antropóloga, pesquisadora e professora do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco). “As pessoas nos campos estão proibidas de trabalhar. Elas estão sujeitas a restrições de liberdade extremamente graves. É fundamental que os órgãos internacionais possam realmente se preocupar com o destino dessa população”, ela afirma à repórter Jelena Tomic, da RFI.
Muitos rohingyas continuam a fugir, mas para outro país vizinho, a Malásia. “Os rohingyas que estavam em Mianmar também experimentaram uma forma de aprisionamento, mas é um confinamento no nível de sua região, enquanto lá [na Malásia] eles vivem em condições de promiscuidade, precariedade e violência, inclusive psicológica. É um dia a dia extremamente difícil”, acrescenta Alexandra de Mersan.
Deterioração das condições de vida em Mianmar
Os cerca de 600 mil rohingyas que permaneceram em Mianmar vivem, por sua vez, em condições igualmente difíceis. Eles são alojados em campos após terem sido deslocados em ondas anteriores de violência ou vivem uma existência precária à mercê dos militares e guardas de fronteira.
A maioria deles tem a cidadania negada e está sujeita a restrições de locomoção, acesso à saúde e à educação, tratamento que, de acordo com a ONG Human Rights Watch, equivale a um "apartheid".
O retorno dos militares ao poder no ano passado diminuiu ainda mais as esperanças de um caminho para a cidadania ou mesmo de um afrouxamento das restrições atuais.
A repressão da junta à dissidência "exacerbou a deterioração da situação humanitária, particularmente para as comunidades étnicas e religiosas minoritárias, incluindo os rohingyas", afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, nesta quarta-feira (24). Este grupo "continua entre as populações mais vulneráveis e marginalizadas do país", acrescentou.
O líder da Junta, Min Aung Hlaing, que liderou as Forças Armadas durante a repressão de 2017, chamou a identidade rohingya de "imaginária". Para aqueles que estão nos campos, até mesmo voltar para casa é improvável, explica Marjan Besuijen, da ONG Médicos Sem Fronteiras. “Mesmo que pudessem se deslocar, muitas das aldeias e comunidades em que viviam não existem mais”, revela o humanitário.
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