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Sri Lanka: o impopular ex-premiê Ranil Wickremesinghe é eleito presidente pelo Parlamento

O presidente interino do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, foi eleito chefe de Estado nesta quarta-feira (20) com o apoio do clã de seu antecessor Gotabaya Rajapaksa, que renunciou na semana passada depois de fugir de seu país falido.

Wickremesinghe, que foi primeiro-ministro seis vezes, foi eleito por uma maioria esmagadora dos deputados, com 134 votos contra 82 de seu principal oponente.
Wickremesinghe, que foi primeiro-ministro seis vezes, foi eleito por uma maioria esmagadora dos deputados, com 134 votos contra 82 de seu principal oponente. AFP - ISHARA S. KODIKARA
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Wickremesinghe, que foi primeiro-ministro seis vezes, foi eleito por uma maioria esmagadora dos deputados com 134 votos, contra 82 de seu principal oponente, Dullas Alahapperuma, e apenas três votos dados ao candidato de esquerda Anura Dissanayake.

"Nossas divisões acabaram", disse o líder político do Sri Lanka de 73 anos em um discurso ao parlamento logo após sua eleição. Na prática, isto parece complicado, dada sua abordagem linha dura da "lei e da ordem", que, no entanto, é bem recebida pelos legisladores afetados pela violência dos protestos.

Os analistas acreditam que ele irá reprimir duramente qualquer iniciativa popular se os manifestantes voltarem às ruas, após ter recuperado provisoriamente parte da aceitação entre a classe média urbana, depois de restaurar o fornecimento de gás. 

Seu principal desafio agora será assumir o comando de um país falido que está negociando um resgate com o Fundo Monetário Internacional, e cujos 22 milhões de cidadãos enfrentam graves carências de alimentos, combustível e medicamentos. 

O ex-premiê deve tomar posse oficialmente nesta quinta-feira (21), de acordo com o gabinete do presidente do Congresso. O novo presidente falou de uma cerimônia simples no prédio do Parlamento, colocado sob estreita vigilância por centenas de soldados e policiais.

Wickremesinghe, cuja ambição de toda sua vida é enfim conquistada, teve o apoio do SLPP, o partido de Rajapaksa, o primeiro no parlamento em número de assentos. O ex-presidente Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho de Gotabaya e chefe da família, ainda está no país e, de acordo com fontes do partido, pressionou os parlamentares a apoiarem Wickremesinghe.

Tão logo foi eleito, o novo presidente convocou o candidato adversário Alahapperuma, de 63 anos, a "se juntar a ele para trabalharmos juntos para tirar o país da crise". Wickremesinghe herda um país de 22 milhões de pessoas devastado por uma crise econômica catastrófica, que está causando escassez de alimentos, remédios e combustíveis.

Moratória de US$ 51 bi

A ilha, que em abril declarou moratória de sua dívida externa de US$ 51 bilhões, não tem moeda estrangeira suficiente para financiar suas importações essenciais, e espera um plano de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O novo presidente, eleito para o período restante do mandato de Rajapaksa, que termina em novembro de 2024, deve agora escolher um primeiro-ministro para formar um novo governo. De acordo com observadores, Wickremesinghe poderia nomear para o cargo seu ex-colega Dinesh Gunawardena, ex-ministro do Serviço Civil e firme defensor do clã Rajapaksa.

O presidente do Parlamento, Mahinda Abeywardana, declarou que "os olhos de todo o mundo" estavam cravados nesta eleição de quarta-feira, saudando esta "sessão histórica, não só para o Parlamento, mas também para todo o país".

Ranil Wickremesinghe, no entanto, é odiado pelos manifestantes, que o consideram um aliado e protetor de Gotabaya Rajapaksa. Este último fugiu da ira de seu povo em 9 de julho para as Maldivas, antes de encontrar refúgio em Cingapura, onde apresentou sua renúncia.

"Perdemos. O país inteiro perdeu"

Em frente ao gabinete presidencial - onde os manifestantes estavam acampados há meses antes de obter a saída de Gotabaya - Damitha Abeyrathne, uma atriz de 45 anos, acredita que o movimento continuará. "Perdemos. O país inteiro perdeu", revelou ela à agência AFP. "Os políticos lutam pelo seu poder. Não lutam pelo povo, não sentem pelos que sofrem."

Os manifestantes que ocupam parte do gabinete receberam ordens para desocupar o local até a noite desta quarta-feira à noite ou serão despejados. Um tribunal ordenou que eles deixassem o local e se limitassem a uma área reservada aos protestos. De acordo com um alto funcionário da polícia, qualquer pessoa que danifique o patrimônio público será severamente punida.

Alguns observadores acreditam que Wickremesinghe irá reprimir duramente qualquer protesto. Na tarde desta terça-feira (19), centenas de estudantes demonstraram sua oposição a Wickremesinghe e prometeram expulsá-lo, como aconteceu com Gotabaya.

Na última segunda-feira (18), Wickremesinghe, então presidente interino, estendeu o estado de emergência, que amplia os poderes da polícia e das forças de segurança. Na semana passada, ele ordenou o despejo de manifestantes que ocupavam prédios do governo no centro de Colombo.

Bem aceito pelos deputados

O deputado da oposição Dharmalingam Sithadthan declarou que a intransigência de Wickremesinghe em relação aos manifestantes foi bem recebida pelos deputados, uma vez que muitos foram vítimas de violência durante os protestos. "Ranil surge como candidato à lei e à ordem", completou Sithadthan.

Para o analista político Kusal Perera, "Ranil recuperou a aceitação das classes médias urbanas ao restabelecer certos serviços, como o gás, e já mostrou sua firmeza ao retomar prédios do governo".

(Com informações da AFP)

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