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França: dezenas de deputados e personalidades pedem 'demissão' de ministros 'homofóbicos' de Macron

Uma centena de personalidades de todas as classes sociais, incluindo da maioria presidencial de Emmanuel Macron, denunciaram as "observações homofóbicas" da ministra Caroline Cayeux, que "feriram pessoalmente" muitos dos signatários de um editorial publicado no Journal du Dimanche. Na revista gay Têtu, uma petição assinada por cerca de 50 deputados pediu a "demissão" de três ministros, a quem eles acusam de ter um "passado contra o casamento gay" e de atacarem a comunidade LGBTQIA+.

A ministra encarregada das coletividades territoriais, Caroline Cayeux, durante o desfile de 14 de julho de 2022 em Paris.
A ministra encarregada das coletividades territoriais, Caroline Cayeux, durante o desfile de 14 de julho de 2022 em Paris. AFP - LUDOVIC MARIN
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Além da petição assinada por 50 deputados franceses, duas deputadas da coalizão de esquerda Nupes questionaram nesta terça-feira (19) a primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, sobre a presença de ministros que "fazem uma declaração homofóbica e sexista atrás da outra", pedindo sua "demissão" durante questionamentos ao governo de Emmanuel Macron na Assembleia Nacional, o Congresso francês.

"Espero que você demita seus ministros homofóbicos", exigiu a deputada da França Insubmissa, Ségolène Amiot. "Pessoas LGBT ainda estão sendo atacadas nas ruas. Em dois anos, os ataques LGBT-fóbicos aumentaram 20%" e "a homofobia como causa dos ataques é muitas vezes recusada pela polícia", enfatizou.

"Mas como culpar os agressores quando o governo [francês] está longe de ser exemplar, quando vários ministros fazem uma declaração homofóbica e sexista atrás da outra?" ela lançou ao Parlamento francês, citando o ministro da Transição Ecológica Christophe Béchu, o ministro do Interior Gérald Darmanin "e, é claro (a ministra das Coletividades Territoriais Caroline) Cayeux, que sempre reafirma seu desprezo pelos homossexuais".

"Cara primeira-ministra, eu sou uma dessas pessoas", disse Amiot, em referência às observações polêmicas e discriminatórias de Caroline Cayeux. Esta última, que estava presente na Câmara, não levantou a cabeça durante todo o tempo em que foi questionada.

Ao mesmo tempo em que se justificava pelos comentários feitos em 2013 sobre a natureza "não natural" do casamento homossexual e da adoção de crianças por casais do mesmo sexo, Cayeux declarou que tinha "muitos amigos entre essas pessoas". Ela também disse que mantinha suas observações, antes de recuar e pedir desculpas.

"Não é falta de jeito, é um delito", atacou a deputada ecologista Marie-Charlotte Garin na ocasião.

Em 2013, o ministro da Transição Ecológica Christophe Béchu assinou um editorial no semanário conservador Valeurs Actuelles contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o ministro do Interior, Gérald Darmanin, declarou que não aceitaria casamentos de casais homossexuais na prefeitura da cidade de Tourcoing, onde era prefeito.

"Não é uma coincidência, é uma escolha política", disse Garin. " Madame Borne, como você pôde nomear essas pessoas para seu governo?", questionou.

"Incidente"

A premiê da França, Elisabeth Borne, disse na sexta-feira (15) que o "incidente" envolvendo sua ministra, estava acabado e que ela "permaneceria no cargo".

Para os autores do editorial na revista francesa LGBTQIA+ Têtu, Caroline Cayeux "escolheu deliberadamente manter seus comentários homofóbicos, e certamente censuráveis. E só um juiz deve decidir sobre seus atos". "Suas palavras feriram muitos de nós pessoalmente, mas, acima de tudo, minaram nossos esforços diários para garantir que os princípios republicanos sejam respeitados em nossos territórios", enfatizaram os signatários da petição, sublinhando que os "arrependimentos" de Cayeux não tinham a "força da sinceridade".

"A questão é se o governo [francês], em seu dever de solidariedade, valida a posição de um de seus membros, e se a maioria subscreve sua atitude", diz o texto, assinado em particular pelo célebre neuropsiquiatra Boris Cyrulnik, pelo ex-primeiro Ministro Manuel Valls, pelo escritor Philippe Besson e pelo presidente do grupo SOS, Jean-Marc Borello, um colaborador próximo de Emmanuel Macron.

"Não é uma questão de defender esta ou aquela comunidade, mas sim o respeito ao princípio de igualdade e legalidade por parte de um membro do governo", acrescenta o documento.

A reportagem do canal de TV Public Sénat perguntou à Cayeux, que ex-prefeita de Beauvais, de direita, se ela confirmava os comentários feitos em 2013 sobre a lei francesa que autoriza o casamento e a adoção para casais do mesmo sexo. Na época, ela falou de reformas "caprichosas" e de um "projeto que ia contra a natureza".

Caroline Cayeux, nomeada em 4 de julho para o novo executivo nomeado por Borne, causou um alvoroço ao reafirmar suas palavras. "Como você pode aceitar que um membro do Executivo, cujo papel principal é garantir a aplicação das leis, pode se referir a cidadãos franceses como 'essas pessoas'?" questiona o texto publicado no Journal du Dimanche (JDD).

Várias associações anti-homofobia anunciaram que apresentariam uma queixa contra Caroline Cayeux.

(Com informações da AFP)

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