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A ignorância dos jovens de Israel sobre o 'muro da separação', 20 anos após sua construção

Há exatamente 20 anos, Israel lançou a construção de um muro entre seu território e a Cisjordânia ocupada. Exceto por uma pequena minoria, hoje a jovem geração israelense que cresceu com esta barreira de separação desconhece quase completamente a realidade da ocupação e da opressão resultante dela.

Vista do muro de separação entre a vila da Cisjordânia de Abu Dis e Jabel Mukaber, na periferia de Jerusalém, 16 de maio de 2006.
Vista do muro de separação entre a vila da Cisjordânia de Abu Dis e Jabel Mukaber, na periferia de Jerusalém, 16 de maio de 2006. © Kevin Frayer / AP Photo
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Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

No meio da segunda Intifada [revolta dos palestinos contra o Exército israelense, nos anos 2000], o Estado hebraico foi confrontado com ataques suicidas mortais cometidos por kamikazes palestinos. As autoridades decidiram então construir um muro. Feito de concreto armado e com 700 km de comprimento e oito metros de altura, esta "barreira de segurança" foi apelidada pelos palestinos de "muro do Apartheid".

O muro dificulta a liberdade de movimento dos palestinos e os separa de parte de suas terras, de suas famílias e, sobretudo, de Jerusalém, que eles consideram ser a capital de seu futuro Estado. O muro também teve um impacto importante na sociedade israelense.

"Esta barreira de segurança é necessária"

Entre duas aulas, as jovens Noam e Ayelet e seus amigos fazem uma pausa. De sua faculdade na Universidade Hebraica de Jerusalém, eles podem ver o muro de separação com os Territórios Palestinos.

"Esta barreira de segurança é necessária", explica Noam, 23. "Nos últimos meses, sofremos sete ataques terroristas em Israel. Minha tia morreu em um atentado a bomba em um ônibus aqui em Jerusalém há alguns anos. Você não entende o que nós passamos aqui. Ninguém quer estar em guerra. Mas para proteger sua casa, sua família, seus amigos, você não tem escolha. Em Israel, temos um ditado: se os palestinos depuserem suas armas, haverá paz. Mas se os israelenses depuserem suas armas, não haverá mais Israel", diz a jovem estudante à reportagem da RFI.

Como todos os israelenses de sua idade, Noam entrou para o exército aos 18 anos. São dois anos de serviço militar obrigatório para as mulheres e quase três para os homens. Mas a jovem não está atualmente em uma unidade de combate.

Eles preferem construir túneis para nos atacar, em vez de construir escolas

Noam nunca foi à Cisjordânia e nunca vislumbrou o outro lado do muro. O que ela sabe sobre a ocupação? E os palestinos? "Eles são seres humanos. Eu não quero demonizá-los. Mas nós lhes damos dinheiro, nós lhes damos trabalho. E eles preferem construir túneis para nos atacar, em vez de construir escolas", afirma a jovem, de forma assertiva.  

Ayelet, um pouco mais velha, testemunhou os atentados suicidas em Jerusalém quando era criança, no início dos anos 2000, durante a segunda Intifada. No entanto, ela tem uma visão mais matizada e complexa da coisa.

Atalya Ben-Abba, uma jovem estudante da Universidade Hebraica de Jerusalém, é uma ativista contra a ocupação dos Territórios Palestinos por seu país.
Atalya Ben-Abba, uma jovem estudante da Universidade Hebraica de Jerusalém, é uma ativista contra a ocupação dos Territórios Palestinos por seu país. © Sami Boukhelifa/RFI

"Eu acho que a situação aqui é muito complicada. Não estou certa de que discutir isso em três minutos seja suficiente. Mesmo três horas não seriam suficientes. Não posso dizer se é graças ao muro ou não, mas a situação melhorou desde que ele foi construído. Mas, no fim das contas, ninguém sonha em ter um muro em seu país", lamenta a estudante de 26 anos.   

"Os jovens israelenses são educados pelo medo"  

Nos corredores da universidade, alguns estudantes sonham em derrubar o muro. Como Atalya Ben-Abba, hoje com 24 anos de idade. "Aos 18 anos, recusei fazer meu serviço militar porque me recuso a participar da ocupação da Palestina por Israel. Eu me tornei uma ativista através dessa consciência", afirma.  

Um ato de rebeldia que lhe valeu 160 dias de prisão. Em Israel, ela não é a única neste caso, mas faz parte de uma minoria.

Firme em suas convicções, a jovem é agora uma ativista bastante engajada. "Sou membro de vários movimentos anti-ocupação. No Vale do [rio] Jordão, Israel explora os recursos naturais dos palestinos e os desvia de suas reservas de água. Este muro de separação é um muro do Apartheid. É um muro que separa as famílias. Graças a ele, os palestinos estão sujeitos às autoridades israelenses. Israel decide quando eles podem trabalhar, quando têm que voltar para casa. Israel controla suas vidas. As autoridades israelenses têm poder total sobre eles", lamenta.  

No entanto, a maioria dos israelenses ignora ou se recusa a ver esta realidade. "Os jovens israelenses são educados pelo medo. Eles estão convencidos de que os palestinos são um perigo para eles. Este muro é uma barreira mental. Em Israel, nos é dito o tempo todo que estamos sob ataque iminente, seja na escola ou na televisão. Esta é a nossa vida diária. Mas criar mais injustiça e mais sofrimento não é a maneira de garantir nossa segurança. Vivemos em um status quo de medo e violência, de ataques e contra-ataques. Este muro não resolveu nada. Não estamos mais seguros", conclui.  

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